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O tapa-buracos do Congresso

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Villas-Bôas Corrêa – Repórter político do JB

A ameaçadora pressão popular no início da temporada da caça ao voto esquivo que forçou o governo a improvisar a operação tapa-buracos, invadiu o Congresso, virou o jogo das negaças e contemporizações, lotou os plenários da Câmara e do Senado e, na marra, emplacou a provação da meia-sola de duas medidas moralizadoras, embora insuficientes.

Não convém exagerar na cobrança ranzinza para não estragar a festa do alívio nem desmerecer providências de irrecusável necessidade. Mas, sem perder de vista que a varredura do pó, acumulado pelo desleixo de anos nos cantos do imponente palácio da Praça dos Três Poderes, não dispensa a faxina em regra que vem sendo empurrada pelo conchavo das conveniências.

O corte sumário do pagamento de do dois subsídios, no total de R$ 25.694,40, nas convocações extraordinárias, cancela um privilégio que roça pela imoralidade. É gêmeo do sobrevivente penduricalho das mordomias da dupla ajuda de custo do mesmo valor, embolsadas no começo e fim das sessões legislativas.

O esperto fecha um olho para fingir que não enxerga: a ajuda de custo de dois subsídios anuais se justificava plenamente nos velhos tempo de antes da mudança da capital para Brasília, quando a grande maioria dos senadores e deputados morava no Rio com a família, filhos nos colégios e passava as férias parlamentares nas suas bases. O subsídio curto e a seco não agüentava a despesa com a mudança de ida e volta de toda a família, em viagens nas quais a distância impunha a penitência de horas nos seguros e ronceiros DC-3, emendadas nos trechos de estradas de terra e até de barcos nos rios da bacia amazônica.

Brasília, nos trambolhões de crises, nos quase 21 anos de ditadura militar e nas duas décadas da turbulenta redemocratização, modelou novos hábitos e costumes no maroto jeito de transformar o provisório das emergências na eternidade das mordomias, vantagens, benefícios, verba indenizatória, assessores nos nichos de nepotismo dos gabinetes privativos, que adornam um dos melhores empregos do mundo.

Duas, das mais escandalosas, despencaram da árvore das patacas com aprovação por maioria, virtual unanimidade de votos que espanta os mais céticos.

O complemento do paparico ao voto da redução das férias de Suas Excelências dos 90 dias de madraçaria oficial para os 55 dias – de 23 de dezembro a 31 de janeiro e da segunda quinzena de julho – não merece aplausos nem apupos. Para não perder a vez, é bom lembrar que a sovada desculpa da necessidade do contato com as bases para auscultar os eleitores e recolher suas opiniões e críticas é uma evasiva que não se sustenta nas pernas da burla. Pois, se todo fim de semana, com passagens pagas pela Viúva e mais o extra de R$ 15 mil da verba indenizatória – máscara de salário indireto, sem desconto do imposto de renda, para o ressarcimento de despesas mediante simples apresentação de recibos – os 513 deputados e 81 senadores correm nas bases o chapéu para garantir os votos da reeleição as férias encurtadas para 55 dias são dedicadas à curtição da lombeira nas praias, nas serras, nos festejos juninos. O mais, é conversa para enganar os que, na boa fé dos simples, não negam o voto e engolem qualquer conversa fiada.

E se o Congresso aliviou a barra dos que se coçam com a urticária do receio do comportamento do eleitor ressabiado, agora a salvação de alguns ou de muitos parlamentares, ameaçados pela onda de renovação que se anuncia como inevitável, depende dos resultados práticos das apurações das CPIs dos Bingos e dos Correios, com a punição dos culpados pela roubalheira recordista da crônica eleitoral.

Quem continua de mal a pior é o governo. O mundo parece desabar na cuca presidencial com o chorrilho de más notícias. De uma tacada, a CPI dos Bingos decidiu quebrar o sigilo fiscal, bancário e telefônico do presidente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micros e Pequenas Empresas (Sebrae), Paulo Okamotto, amigo de Lula e que reconheceu ter pagado algumas contas do presidente.

Além da queda, o pulo da montaria: na mesma toada, a CPI dos Bingos aprovou a convocação de Roberto Teixeira, acusado pelo, ex-petista Paulo de Tarso Venceslau de ser o intermediário de uma empresa que engordou o caixa-2 da campanha de Lula, em 1994.

Mais cauteloso do que o coelho em dia de caçada, o Comitê de Política Monetária (COPOM) do Banco do Brasil, depois de horas de debates, análises, contas e hesitações, reduziu os juros básicos da economia para 17,25%, com o corte de 0,75 ponto percentual da taxa Selic.

Candidato à reeleição em plena campanha em tempo integral, o presidente Lula pode acrescentar aos êxitos dos três anos de mandato, a taxa de juros de 17,25%, a maior do mundo. E, de contrapeso, a queda de 17% . 1,254 milhão dos empregos formais criados em 2005, contra 1.523 milhão criados em 2004.

Assim, o sonho da reeleição acaba em pesadelo.

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