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O Teatro de Meira

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Woden Madruga
woden madruga [ [email protected] ]

Das minhas releituras da semana destaque especial para o livro de Meira Pires, “História do Teatro Alberto Maranhão”, publicado pela Fundação José Augusto em 1980, capa de Newton Navarro, prefácio de Luís da Câmara Cascudo e orelha assinada por Veríssimo de Melo. Quarteto de astros. Estou indo sempre à estante aposentada em busca desse livro pois, passando por suas páginas me reencontro e me encanto o com a história de nossa cultura, da vida social da província e também da política do Estado, por quase meio século. Tudo começou nos tempos do governo Alberto Maranhão, o Mecenas Potiguar (que construiu o teatro, então Carlos Gomes, e o inaugurou no dia 24 de março de 1904, lá se vão 116 anos), e se estende até 1952, pegando o governo Silvio Pedroza, seu sobrinho-neto.

Meira fixou esse período de suas pesquisas (feitas nos arquivos do teatro e dos jornais locais) pois, assumindo no começo de 1952 a direção do teatro – que exerceu por mais de 25 anos –  certamente esperou que outros continuassem a história do nosso imponente templo da arte. Mas, infelizmente, ainda não apareceu ninguém e o teatro está de portas fechadas há quase seis anos: quatro do governo passado, um e meio do atual. Não se sabe também de nenhum profeta que tente adivinhar quando a bela casa projetada pelo grande arquiteto Herculanos Ramos reabrirá suas cortinas.

Na orelha do livro, Veríssimo de Melo escreveu:

“Sendo livro da História do nosso Teatro, é também a história da vida cultural natalense naquele período. Da vida política, porque atos e convenções mais decisivas da atividade partidária ali se realizaram. Da vida social, pelos grandes concertos, bailes de gala, presença ativa de figuras expressivas da nossa sociedade. Da vida cultural em geral, pelas reuniões literárias ou artísticas, lançamento de livros, exposições de arte, festivais de cultura. De tal modo que se pode dizer, sem receio de contestação, que não houve um só acontecimento relevante na cidade ou no Estado, a partir de 1904 até 1952, que ali não se efetuasse, como vem ocorrendo até hoje. ”

O Teatro Carlos Gomes também foi palco de disputas esportivas. Meira, na página 183, registra uma luta de box ocorrida no dia 26 de outubro de 1939. Vai na íntegra:

“No dia 26 foi realizada a luta de box entre os pugilistas Djalma Maranhão e Ascendino Holanda. Uma grande assistência compareceu para presenciar o embate entre o campeão natalense e o campeão do Pará”.

“A luta primou pela violência. No 5º round, chegou ao auge. Enquanto Maranhão e Ascendino pelejavam lá dentro do ‘ring’ os seus ‘menagérs’ engalfinharam-se fora dele. Não havendo como fazê-la prosseguir normalmente, as autoridades resolveram suspendê-la”.

Nas notas de Meira destacam-se ainda os bailes carnavalescos (que foram extintos quando ele assumiu a direção do teatro), os banquetes elegantes, com direito a danças, as convenções dos partidos políticos. Lembrar que o Teatro foi palco de um dos episódios da Intentona Comunista ocorrida em novembro de 1935. Lembrar, também, que em 1961, o governador Aluízio Alves, por conta de obras de restauração do Palácio Potengi, transferiu o seu gabinete para o Teatro Alberto Maranhão, ocupando a sala onde trabalhava Meira Pires.

Bilhetes e cartas
Na gaveta dos papéis desarrumados encontro algumas cartas e bilhetes que Meira me escreveu falando sobre o seu livro. Transcrevo um bilhete datado de 20 de agosto de 1980, datilografado em papel timbrado da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras:

“Meu querido Woden:

Espero que, uma vez ou outra, até o dia do lançamento, você divulgue algo sobre esse acontecimento na sua coluna. Gostaria que as notas fossem uma espécie de retrato de sua opinião a meu respeito do meu trabalho. Ninguém melhor do que você conhece este seu amigo e o que conseguiu fazer. A História do Teatro é, na verdade, um trabalho que merece uma intensa divulgação até para ver se eu vendo o livro.

Certo de sua compreensão, envio-lhe um afetuoso abraço.

Meira Pires. ”

Antes, em junho, dia 30, Meira já havia escrito uma carta sobre o mesmo mote. Vai na íntegra:

“Meu querido Woden:

Em primeiríssima para você o que me manda dizer R. Magalhães Junior, Presidente da SBAT e membro da Academia Brasileira de Letra, sobre o meu livrinho “História do Teatro Alberto Maranhão”:

“É com satisfação que acuso o recebimento da magnífica obra de sua autoria, intitulada “História do Teatro Alberto Maranhão”, que irá enriquecer sobremodo a Biblioteca da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais.

“É um valioso trabalho que em boa hora conta para a posteridade a história gloriosa desse monumento das artes que é o Teatro Alberto Maranhão, orgulho não somente do povo potiguar, mas de todos os brasileiros.

“Com os meus mais sinceros agradecimentos, felicito-o pelo esplêndido trabalho literário e envio-lhe o meu abraço amigo”.

– Acho que vale a pena divulgar essa manifestação, meu querido Woden. Como o livro será brevemente lançando é mais uma ajuda que você me proporciona. Quando nos veremos? Estou vindo ao Teatro de 9 às 11,30 e de 15 às 17,30.

Grande abraço do velho amigo,

Meira Pires. ”


Inverno
Junho com chuvas no Litoral e Agreste. A semana foi toda assim por esses recantos potiguares. Um semestre com chuvas acima da média. Na fazenda Passagem Funda, de Roosevelt Garcia, localizada em Taipu, as chuvas deste ano já passaram de mil milímetros. Beleza que não acontecia há 10 anos. As previsões da meteorologia são de mais chuvas no Estado até o final do mês. Amém.

Política

De Ruy Castro em sua crônica de quarta-feira na Folha de S. Paulo: “Os bolsonaristas começam a se tornar mais bolsonoristas do que Bolsonaro”.

Padre João Maria

Terça-feira que vem, 23, é o aniversário de nascimento do Padre João Maria, o “Vigário de Natal”.  Também conhecido como “O Santo de Natal”. Seridoense, nascido em Caicó em 1848 e falecido em Natal em 16 de outubro de 1905. Foi abolicionista e jornalista. Como padre batizou Luís da Câmara Cascudo.

A praça, que tem o seu nome e fica por trás da antiga Catedral, na Cidade Alta, merece melhor trato.

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