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O trapezista voador

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Ando convencido, Senhor Redator, que o espetáculo do trapezista voador que tanto encanta as plateias dos circos, é uma representação metafórica da política. Se no picadeiro é preciso imitar a ilusão do voo da morte e arrancar o aplauso delirante dos espectadores, na vida pública – com um muito de artimanha e um pouco de arte ajudado pelo marketing – é possível realizar o desejo dos que sonham com o voto das multidões como se merecessem. 
Trapezista
A disfunção não está no marketing, se o marketing fosse só promocional de qualidades e atribuições do candidato. Nem no uso. Mas, naquilo que este uso resvala para o utilitarismo, na expressão dos teóricos. Se a teoria nasce da observação sistemática da prática, ao contrário do que pensam os que a condenam, é bom lembrar que foi exatamente assim que a política fez nas últimas décadas, quando aprendeu a vender gato por lembre nas cartolas da propaganda. 
Reserve-se, por precaução de raciocínio, que o marketing como técnica não cumpre a ética da verdade, mas o belo artifício de parecer real. Não é fácil, nas mensagens bem urdidas, principalmente para os menos acurados e exigentes, distinguir o real do irreal, a verdade da verossimilhança. A simulação, quanto mais dedilha com talento as cordas fáceis da emoção, mais imita com perfeição a realidade que se quer vender, se vender é persuadir e convencer. 
A técnica tem, em si mesma, o condão de trabalhar o bem e o mal com a mesma frieza. Assim, produz anjos e demônios sem medo do pecado que, de resto, se ainda faz medo aos influenciados pelo bom sentimento cristão, não faz parte do mundo político. Neste, o céu e o inferno se alternam livremente em ritmo avassalador, posto que a velocidade não permite um tempo mínimo de raciocínio nos efeitos sobre a epiderme ou mesmo a fina pele das retinas. 
E se não temos mais elites pensantes, pelo menos num polo ativo e atuante produzindo o exercício das idéias como matéria prima do pensamento, mas fácil ficou o manejo de todas as qualidades boas ou más, a depender de quem se quer santificar ou demonizar. Ai de quem duvidar da força psicológica das mensagens bem urdidas, afinal, é a urdidura da trama quase invisível que constrói as teias. As aranhas usam suas próprias secreções. Como o marketing. 
No circo, o trapezista voador, antes, muito antes do rufar dos tambores que instiga a expectativa coletiva, instala a rede de proteção. No ângulo certo para ter a função de berço a abrir suas teias se por acaso vier a cair por imprecisão do salto. Na hora do espetáculo, vestido na sua malha que o torna um Ícaro perfeito, vibram os clarins. Ele salta. Como se voasse. E espera o aplauso. A platéia, em êxtase vivo, esquece a rede de proteção. Menos ele, o artista. 
Anotem 
Se a governadora Fátima Bezerra operar o milagre de depositar pelo menos mais dois meses atrasados até junho sai às ruas com chance de levar seu partido ao segundo turno.
E…
Com um detalhe: a disputa, se não explodir um fato novo, será com o prefeito Álvaro Dias se, até lá, seu desempenho suportar a luta e se o PT local vencer seu profundo desgaste.
Aliás
Segundo os olhos perscrutadores das raposas políticas, o desafio de Álvaro é conter o surgimento do desejo de mudança que quase sempre opera além das circunstâncias naturais. 
Triste
Prisioneira da sisuda liturgia do cargo, mas bem humorada e de bem com a vida, a governadora não vai botar o bloco na rua no carnaval da Redinha. O frevo morre no silêncio.

Luta
Em carnavais passados, de estandarte vermelho e adornado a paetês, o bloco ‘Ilha Sonífera’ descia a ladeira a caminho da Praça do Cruzeiro frevando a carne pobre e pecadora. 
Ritmo
O publicitário Alexandre Macedo partiu de Natal, esteve no aniversário festivo do ex-deputado Ezequiel Ferreira (pai), retornou a Natal na mesma noite e já voltou a seu istmo. 
Tormenta
O livro ‘Tormenta’, da jornalista Thaís Oyama, chega às livrarias do Brasil dia 20, amanhã. A previsão é da Folha e garantida por informação da Companhia das Letras.  
Batom
De Nino, filósofo melancólico do Beco da Lama, perdido entre desejos proibidos, mas acesos na vastidão da alma: ‘No carnaval a virtude do excesso é permitida. Não é pecado’.
Charme
O carnaval deste ano vai trazer nos cílios e no corpo das mulheres pelo menos três novidades, registra a Folha de S. Paulo: cílios coloridos, quimonos que não escondam a beleza das formas, e quepe. Mas sem embargo, garantem os estilistas, dos paetês holográficos. 
Hamlet
A editora Ubu, nascida da união das ex-diretoras da Cosac Naify, lança no Brasil a mais bela edição do ‘Hamlet’, de Shakespeare. Capa dura, inspirada na art deco, com a mais bem selecionada e requintada fortuna crítica sobre o grande clássico do teatro shakespeariano.    
Enredo
De Walcyr Carrasco em ‘Sobre a capacidade de amar e outros assuntos poéticos’: ‘Ela o levou pra casa como um gatinho de rua com fome e desejo de amor. Sentia um carinho imenso. Ficou de coração partido quando, como um gato, ele partiu. Preferia a liberdade’.
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