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O velho charme do Grande Ponto

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Tádzio França
Repórter

Cinthia Lopes
Editora

Muita coisa acontecia no coração dos natalenses quando se cruzava a avenida Rio Branco e a rua João Pessoa. O chamado Grande Ponto foi o epicentro de lazer, modismos e gastronomia da Cidade Alta durante décadas do século passado – o lugar para ver e ser visto. Mas o tempo passou, a badalação e o glamour foram para outros endereços, e o velho centro virou um endereço banal. Iniciativas isoladas estão surgindo de algum tempo para cá, visando retomar o sabor de anos passados. Novos cafés, lanchonetes (como a Mr Mix, que inaugurou na Felipe Camarão) e a movimentação dos sebos estão restituindo algo do charme que o bairro mais antigo da capital já possuiu. Boas surpresas a cada esquina.
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Café regional palaciano

A empresária e chef Ana Tereza Gedeão ficou surpresa ao ser convidada para criar um espaço gastronômico na Cidade Alta. Ela topou, e assim nasceu o Café Espresso com Arte, aberto semana passada, na Pinacoteca do  Estado. “É como um retorno ao passado, afinal, morei na Cidade Alta até os 13 anos de idade”, diz. O café ocupa um pequeno espaço abaixo da escadaria centenária do Palácio Potengi. Cinco mesas de ferro, projetadas por Guaraci Gabriel, acomodam a clientela. O estabelecimento não interfere na arquitetura do palácio.

Ana Tereza conta que pensou num cardápio que reunisse suas raízes regionais e a classe que um ambiente palaciano exige. “Criei petiscos que agradam o paladar nordestino, e que ao mesmo tempo são diferenciados com um toque gourmet”, explica ela, que também é sócia num bistrô em Martins. O cliente conta com o luxo regional de saborear um café coado na hora, em cima da mesa. O café também vem de Martins. A partir da próxima semana, a máquina de café expresso já estará instalada, como mais uma opção.

Os acompanhamentos para o cafezinho são variados e tentadores. Entre pães e sanduíches, opções como o pão francês assado com queijo do reino, brusqueta nordestina (pão francês no molho de tomate caseiro, pimenta de cheiro e manteiga da terra), brusqueta com pão de manjericão, tomates temperados e gratinados, e sanduíche de frios. Para os fãs de tapiocas há recheios de camarão, carne do sol, queijo de manteiga, coalho, com manteiga da terra, coalho ao pomodoro, e o destaque, crespinhos (tipo chips) de tapioca com carne de sol na nata.

O setor de sobremesas é igualmente bem elaborado: mel de engenho com farinha de mandioca e farofa de castanha; torta de doce de leite; cheesecake de caju e castanha; queijo com mel de engenho, e bolos caseiros.  Os sorvetes são feitos pela própria Ana Tereza, em receitas como biscoito de gengibre com sorvete de tapioca e mel de engenho, sorvete de jerimum com calda de macaxeira caramelada; nata goiaba; cartola com calda de queijo, entre outros. Ana Tereza acredita que o apelo cultural do palácio pode atrair um público que não costuma frequentar o centro. “Há ainda um projeto musical a ser implementado em breve”, ressalta.

Alma do Grande Ponto
O Café São Luiz é patrimônio da Cidade Alta desde 1953. Repaginado em novembro do ano passado, ganhou nova vida, público e movimento. O agora Grande Ponto Café São Luiz vive uma das suas melhores fases, reunindo veteranos e uma nova clientela atraída pelo clima e sabores da casa. “Sim, a receptividade foi ótima. Até as mulheres começaram a vir aqui!”, brinca Paulo França, um dos proprietários. Para ele, muitos fatores ajudaram a renovar o interesse no café. “O maior é a diversidade do cardápio. Temos de crepes a tapiocas, cafés e shakes. A nova ambientação também ajuda”, diz.

Para abrir o apetite no Café São Luiz, há iguarias como os crepes de carne de sol com queijo coalho, tomate seco e rúcula, creme de avelã com amêndoas, entre outros. Omeletes com recheio de carne de sol e orégano, patê de frango, tomate seco e rúcula. Cuscuz com carne de sol e coalho, além de sanduíches, empadas, coxinhas, quatro opções em saladas, etc.

O café também conta com movimentação cultural própria. “Faremos pelo menos uma sexta cultural por mês”, diz Paulo França. O projeto Serestas ao Luar  percorreu o centro e terminou numa noite animadíssima no café.  O novo ambiente comporta 40 pessoas, mas a mesa na calçada da Princesa Isabel seguiu garantida. “Só a partir das 16h, para não atrapalhar o movimento”, afirma. O cenário continua tradicional, porém mais bonito. 

Universo de café e livros

O espaço aconchegante, climatizado, repleto de livros e com cheiro de café no ar, contrasta com o “mundo” lá fora – no caso, a barulhenta Ulisses Caldas. Foi assim que, há um ano, o Sebo Café Universo Literário ganhou a simpatia de quem circula pela área e deseja um pouco de sossego e leitura em meio ao caos urbano. “Eu já trabalhava com sebos, e em viagens percebi que eram comuns espaços como esse. Ainda não existia em Natal, então resolvi criar um”, explica a proprietária Jane Santos.

O sebo/café virou point de funcionários da prefeitura,  assembleia, e das muitas repartições em volta. O local conta com duas mesas, acesso à Internet, e música ambiente. O cardápio é simples, apenas com cafés expresso e cappuccino, chá e bolo. Ideal para conduzir um bate-papo ou folhear uns livros. Jane gostaria que os atrativos da Cidade Alta fossem mais divulgados em roteiros turísticos. “Muitos natalenses simplesmente não conhecem as coisas boas que existem por aqui”, diz.

Sábados de Ramos

Os sebos são presenças tradicionais no centro da cidade. O Balalaika está na área desde 1992. Há tempos deixou de ser só um ponto para venda e troca de livros para se tornar um espaço cultural. “Em sebo muita gente aparece mais para conversar do que para comprar. Recebemos estudantes, professores, músicos, intelectuais, artistas…a gente tinha que criar algo a partir disso”, diz o proprietário Severino Ramos.

O mais novo projeto cultural do sebo é o ‘Sábado de Ramos’, que fará sua 4ª edição neste sábado, das 14 às 22h. A ideia é homenagear um poeta, que desta vez será Zila Mamede. A festa extrapola o sebo e vai para a rua, com palco montado na Vigário Bartolomeu. O som ficará a cargo de vozes que já musicaram Zila, como Glorinha Oliveira, Andiara, Lene Macedo, Mirabô, Galvão e Babal, entre outros. Serão acompanhados por quarteto formado por Franklin Novaes, Carlança, Sérgio Brito e Fidja. Entre um cantor e outro, recitais com versos de Zila.

Há também gastronomia. O chef Alexandre Gurgel vai servir um arroz de mariscos chamado ‘praieira’. “O prato é determinado pela região e gostos do poeta homenageado. Zila gostava do mar, por isso pensei nos mariscos”, explica. Segundo Ramos, muitos núcleos pequenos contribuem para manter o centro vivo: o Samba do Nélio na 1ª sexta do mês, o samba de Nazaré aos sábados à tarde, as festas do Bardallos, entre outras iniciativas. “A ênfase na parte cultural é o nosso maior trunfo”, conclui.   

Serviço:
Café Espresso com Arte.
Pinacoteca do Estado. Aberto de terça à sexta, das 10 às 17h30.

Grande Ponto Café São Luiz.
Av. Princesa Isabel. Aberto de 2ª à 6ª das 7 às 19h, e sábado das 7 ás 13h.

Sebo Café Universo Literário.
Rua Ulisses Caldas, 105. Aberto de 2ª à 6ª das 8 às 18h, e sábado das 8h30 às 12h.

Sábado de Ramos.
Sábado, das 14 às 22h, no Sebo Balalaika, Rua Vigário Bartolomeu. Acesso gratuito.

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