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O véu da discórdia

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Yuno Silva – repórter

Fechado para visitação pública há quase cinco anos, o Museu Café Filho teve sua restauração descontinuada por causa de uma de suas principais características: a pouca inclinação da longa queda d’água que lhe rendeu o apelido de véu de noiva. Em obras desde abril deste ano, para adequações na estrutura física que incluem climatização, projeto de acessibilidade e reparos nas instalações elétricas e hidráulicas, o imóvel abriga acervo alusivo ao único potiguar a chegar a presidência do Brasil na década de 1950. Os serviços foram paralisados no mês de agosto devido infiltrações e goteiras, problemas que geraram um impasse de ordem técnica entre a Fundação José Augusto e o Iphan-RN: trocar todas as telhas ou alterar a inclinação do telhado? Nem uma nem outra, a opção escolhida foi a instalação de uma manta impermeável entre as telhas e o madeiramento – que inclusive já otimiza a climatização.
Segundo Iphan, inclinação do véu de noiva não é acentuada o suficiente para escoar a água da chuva. Os custos e o tipo de manta usada, ainda não foram definidos
Agora o Iphan-RN, responsável pelo tombamento do sobradinho como patrimônio histórico na década de sessenta, irá definir qual o tipo de manta é o mais adequado para o projeto. O Governo do RN aguarda o parecer final para retomar a obra. E nisso lá se vão 40 dias. “Ainda essa semana teremos a indicação do tipo de manta”, disse Onésimo Santos, superintendente do Instituto no RN, que em 2009 fez reparos no telhado do museu. “Como não estávamos em período de chuva esses problemas não foram detectados”, explicou Onésimo. “A obra no telhado tem garantia de cinco anos, então chamamos a mesma empresa para nos apontar as possíveis soluções”, complementou.

Móveis foram cobertos, mas lustre de cristal está sem proteçãoNa ocasião, foram substituídas cerca de 50% das telhas do imóvel. Como são artesanais, as telhas foram encomendadas em uma fábrica de Goianinha, único lugar onde ainda existe uma olaria que produz esse material com as características especificadas. “Além das imperfeições das telhas, temos a pouca inclinação”, reforçou Onésimo Santos, informando que “a princípio o custo da instalação da manta é do Governo, que é o proprietário do imóvel”.

A reportagem do VIVER visitou o Museu Café Filho na manhã de ontem, para conferir in loco o andamento da restauração. O lugar está praticamente vazio, tirando alguns gaveteiros, a cama de Café Filho e o lustre de cristal, todo o acervo está guardado. O madeiramento do telhado está em bom estado, mas a deterioração de algumas telhas é visível. “Não temos como recuperar nada do acervo enquanto o espaço não for liberado. Precisamos de um local adequado para colocar esse material depois dele ser trabalhado”, disse a museóloga Ângela Ferreira, da FJA. O acervo está guardado na reserva técnica da Pinacoteca do Estado. “Adiantamos tudo o que podíamos, agora dependemos do serviço no telhado para prosseguir com a restauração do museu”.

Sobre a climatização, uma outra questão precisou ser revista: a instalação dos condensadores, equipamentos responsáveis pelo resfriamento em si, deverão ser instalados no pátio interno do museu e não no telhado, como planejado inicialmente. “Apresentamos o projeto a partir do que vimos aqui ao lado, na antiga sede do Iphan-RN, onde há um equipamento desses no telhado”, informou Ângela Ferreira. Mas o superintendente do Iphan-RN avisou que o equipamento no telhado da antiga sede do Instituto será relocado. “Temos que conservar a estética original das construções”, argumenta Onésimo.

Expectativa de aprovação de verba pelo MinC

A coordenadora do setor de museus da FJA, Luana Cibelle de Oliveira Costa, chama atenção para o fato das telhas antigas serem porosas e isso compromete o projeto de climatização. “Se mexer, esfarelam”, observou Luana, que está na expectativa de uma orientação do Iphan para dar andamento ao serviço. Ela disse que técnicos do Instituto já realizaram duas visitas desde a paralisação da obra em agosto e “qualquer que seja a solução indicada, vamos ter nova adequação do cronograma”.
Ângela Ferreira: Projeto de modernização está em análise no MinC
A ansiedade de Luana e Ângela para continuar a restauração do museu é reforçada pela possibilidade dos projetos encaminhados pelo departamento de museus da FJA ao Ministério da Cultura serem aprovados. O MinC abriu linhas de crédito para modernização dos equipamentos e a primeira opção para conseguir os recursos necessários para a instalação do elevador, que irá garantir acessibilidade ao segundo pavimento, por exemplo, faz parte desse pacote. “Se aprovarem, temos que estar com tudo pronto para receber os recursos”, lembrou a museóloga Ângela Ferreira.

O Museu

O Museu Café Filho é dedicado à memoria do único potiguar a ser presidente do Brasil. Vice na chapa de Getúlio Vargas, Café Filho (1899-1970) governou o país entre agosto de 1954 e novembro de 1955. Construído entre 1816 e 1820 em estilo colonial, os dois pavimentos do imóvel abrigam acervo de documentos, comendas e objetos do ex-presidente. Há sala de estar e quarto mobiliados, biblioteca e espaço para exposições temporárias.

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