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O Zen Budismo

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Muitas vezes esta coluna transcreveu alguns dos clássicos textos da escola Zen. Entretanto, o que quer dizer exatamente isso? Como explica o Ming Zhen Shakya, o Zen está para o Budismo assim como a cabala para o Judaísmo, a contemplação para o Cristianismo, a dança sufi para o Islã: ou seja, é a prática mística de ensinamentos filosóficos ou espirituais.
A escola Zen nasce na China, misturando o budismo vindo do Nepal, com as tradições locais do taoísmo. Entre os anos 700 e 1200, monges viajam para o Japão e ali desenvolvem dois tipos de meditação, baseados na postura física: o estilo Rinzai prega que todo ser humano pode atingir a iluminação se viver sua existência com respeito e sobriedade, enquanto o estilo Soto prega a importância de um longo treinamento para que este objetivo seja alcançado. 
Para a maioria das religiões, um homem iluminado é aquele que consegue livrar-se de seu próprio egoísmo, entende que não passa de uma pequena – mas importante – peça no grande plano de Deus, e faz o possível para concentrar-se no bom funcionamento desta peça. À medida que avança nesta direção, as coisas supérfluas vão perdendo sua importância, e com isso o próprio sofrimento se afasta. 
Para os mestres Zens, todos nós temos um conhecimento intuitivo da razão de nossa existência. Portanto, a maioria dos ensinamentos filosóficos ou religiosos são apenas maneiras de provocar, no interior de cada um, o contato com esta sabedoria que já está ali – enterrada debaixo de muitas camadas de preconceito, culpa, confusão mental, e idéias falsas a respeito de nossa própria importância. 
O Zen budismo – principalmente aquele que viria ser elaborado a partir do estilo Soto – desenvolveu uma série de técnicas para o ser humano chegar até esta paz e compreensão interior. Para nós, que temos uma visão mais ocidental da busca interior, estas técnicas estão profundamente relacionadas às palavras de Jesus, no evangelho de Mateus:  “Quando rezares entre em seu quarto, feche a porta, e ore para o Pai em segredo; e o Pai, que tudo ouve em segredo, te compreenderá”.
O praticante zen procura um lugar calmo, e ali senta-se em uma posição onde consiga manter seu equilíbrio por longo tempo, mas sem ter a coluna apoiada; por causa disso, a mais conhecida postura mostra-o com as pernas cruzadas, e as mãos entrelaçando-se na frente, sobre o sexo. Alguns mosteiros que visitei no Japão usavam uma espécie de almofada de couro, de modo a elevar ligeiramente o corpo, permitindo uma melhor circulação do sangue nas pernas. 
A partir daí, deve-se procurar manter a imobilidade pelo maior tempo possível, enquanto se obedecem algumas regras simples. A cabeça deve ficar inclinada para baixo, os olhos não se devem fixar em nada, mas tampouco devem ser fechados, para evitar a sonolência. Observa-se a respiração, mas não se tenta manipular seu ritmo – ele deve ser o mais natural possível, já que à medida que o zazen (este é o nome da postura) progride, a tendência é que as inspirações e expirações se tornem mais pausadas e mais lentas. 
Embora muitas pessoas que afirmam conhecer as técnicas de meditação achem que é necessário “esvaziar a cabeça”, todos nós – e todos os grandes mestres de zen – sabemos que isso é impossível. Portanto, a idéia central não é tentar o controle do pensamento, das emoções, nem buscar um contacto espiritual com Deus; tudo isso virá a seu tempo, à medida que nos acalmamos. 
Como a prática do Zen é extremamente simples, sem qualquer conotação religiosa ou filosófica, ela nos ajuda – paradoxalmente – a conectar-se melhor com Deus e a responder de maneira inconsciente nossas dúvidas. A próxima vez que você encontrar-se em casa, sem nada que fazer, e achando tudo aborrecido e repetitivo à sua volta, tente sentar-se em um lugar tranqüilo, ficar imóvel, e deixar que o mundo corra ao redor. 
Vai perceber que, para fazer coisas muito importantes na vida, às vezes é necessário permitir-se não fazer nada. 
Os artigos publicados com assinatura não traduzem, necessariamente, a opinião da TRIBUNA DO NORTE, sendo de responsabilidade total do autor.

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