Objetiva subjetiva

Repórter      

A arte tem a capacidade de registrar momentos, sejam alegres ou tristes, e dar a eles o carimbo poético da eternidade. Dois projetos diferentes estão em andamento para marcar em livro esses registros: o 1º Prêmio Margem de Fotografia vai mapear em livro a nova produção fotográfica local, e está recebendo inscrições até o dia 31/07; e em âmbito nacional, o livro “Mergulhos, pelas nossas janelas” está em fase de financiamento coletivo até agosto e tem a designer e fotógrafa Caroline Macedo como um dos representantes potiguares. Duas histórias contadas em imagens.

      

Em fotografia, Caroline Macedo explica que gosta de observar o cotidiano, de ver as coisas que normalmente passam despercebidas e observar suas formas, cores e texturas. Foi esse olhar subjetivo e sensível que chamou a atenção do projeto “Mergulhos, pelas nossas janelas” e rendeu o conseqüente convite para participar dele. O trabalho que ela expõe no Instagram já era apreciado pelo casal paulista Daniel Ianae e Anna Charlie, idealizadores do projeto.

“Mergulhos” reúne os trabalhos de mais de 60 artistas ao redor do Brasil, cada qual contando suas histórias e reflexões sobre os dias de isolamento social através de ilustrações, poesias, fotografias, quadrinhos, notas de diários e colagens. O livro terá mais de 160 páginas com imagens, palavras e silêncios para contar as narrativas que costuram as travessias de cada um dos artistas. Gonzaga Neto é o outro artista potiguar envolvido.

Para este “livro encontro”, a natalense Caroline participará com fotografias. Uma parte das imagens será de “Abraço”, uma exposição virtual que ela fez em seu perfil no Instagram – da qual Daniel Ianae fez uma composição com algumas fotos -, e outras são registros das coisas que ela mais tem observado durante o isolamento: o crescimento do cabelo, dos afetos, das agonias, das leituras, e das palavras escritas. “Eu não quis identificar cada imagem para pessoa que estiver lendo tenha mais abertura para interpretar, sabe?”, diz.

Caroline afirma que a proposta íntima e sensível do livro tem bastante em comum com seu trabalho. “É um projeto que abraça o artista e a arte. Eu realmente considero algo íntimo, porque é um pedaço do cotidiano e das impressões cotidianas de todo mundo que está participando. Então tudo pareceu se encaixar: minhas fotos e como eu penso a imagem e a proposta do livro, até antes de ter um nome oficial”, diz. A proposta de “Mergulho” é imersão, algo que ela aprecia enquanto artista.

Nascida e criada em Natal, Caroline Macedo tem apenas 22 anos e uma produção efervescente. Recém formada em design pela UFRN, é diretora de arte do Idema, tem uma marca de cadernos artesanais, a CM Cadernos, e assina uma linha de zines, bottons, adesivos e prints. Ela ainda faz parte do Coletivo Mão de Lula, com outros colegas designers,  e é moderadora do clube do livro Glitteratura, dedicado à literatura LGBTQIAP+.  Seu TCC foi sobre as relações afetivas dos moradores de Mãe Luíza com espaços públicos e arte.

Em 2020 ela teve um trabalho publicado na revista “Paris/Atlantic”, da University American of Paris, junto com dois outros fotógrafos de Natal, Ian Rassari e Sofia Ohanna. Na próxima sexta (24), às 19h30, Caroline fará parte de uma live para falar sobre si e seu trabalho no projeto “Mergulhos”, junto com outra fotógrafa que está participando do livro, Ana Carolina Haddad. As duas vão falar sobre fotografia e seus respectivos trabalhos no livro.

Reconhecer a fotografia potiguar, com seus novos olhares e possibilidades, é a idéia por trás do 1º Prêmio Margem de Fotografia. A premiação faz parte do projeto Atlas da Fotografia Emergente Potiguar, e vai selecionar dez ensaios fotográficos produzidos por artistas visuais e fotógrafos nascidos no Rio Grande do Norte, ou residentes no estado há pelo menos três anos.

Os trabalhos selecionados serão publicados em livro composto por uma coletânea dos trabalhos finalistas e de outros cinco fotógrafos convidados. Os vencedores também participarão de uma exposição coletiva a ser realizada em novembro na sede da Margem Hub de Fotografia e, posteriormente, na sede do Sebrae/RN.

Cada participante deve submeter um conjunto de seis imagens que serão avaliadas por uma comissão de especialistas. O tema é livre, mas os organizadores sugerem um fio condutor, o poema “Onde”, lançado pela poetisa Zila Mamede em 1978. Trecho: “Entre a ânsia e a distância onde me ocultar?/Entre o medo e o multiapego onde me atirar?”. As fotos devem trazer imagens relevantes para a sociedade potiguar contemporânea, de forma coesa, em um conjunto ordenado.

Segundo Paula Lima, umas das organizadoras do prêmio e gestora de projetos da Margem Hub, a expectativa é receber trabalhos de pessoas de todas as regiões do estado, e em diversas linhas, como documentais, fotografias experimentais, foto-performances, colagens e fotos conceituais. “O que será um dos fortes critérios para a escolha é a capacidade do trabalho de nos transportar para esse tema, de contar uma história visual, seja ela bem realista, completamente ficcional, ou que mescla o imaginário com o cotidiano”, explica.

Paula ressalta que a organização está recebendo e analisando trabalhos que foram produzidos durante a quarentena, mas também muitos ensaios já do repertório desses artistas, mesmo não sendo trabalhos inéditos. O Prêmio Margem de Fotografia foi contemplado pelo edital de Economia Criativa do Sebrae/RN e conta com o patrocínio de SICOOB RN, além do apoio de Bólide 1050, Editora Deu na Telha, Espaço Duas e Rede de Produtores Culturais de Fotografia do Brasil.

I Prêmio Margem de Fotografia. Inscrições até 31/07 no site

Livro “Mergulhos, pelas nossas janelas”. Campanha de financiamento até 17/08 no site