Londres – Os seis países considerados chave para o sucesso da rodada de Doha da organização Mundial de Comércio (OMC) iniciaram ontem uma nova reunião para tentar superar o impasse nas negociações admitindo que o encontro não deverá resultar em avanços decisivos. Além disso, sinalizaram que data limite prevista para a obtenção das as bases amplas para um acordo – 30 de abril – provavelmente será novamente adiada para junho ou julho. “Eu não acredito que a expectativa para esse encontro é que ele venha permitir a quebra definitiva do impasse”, disse o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, que se reunirá até amanhã com colegas da União Européia, Estados Unidos, Índia, Japão e Austrália. Ele demonstrou cautela com a possibilidade de um acordo até o final do próximo mês. “Toda vez que você abandona um prazo ou cronograma isso se torna uma profecia que se auto-realiza e por isso temos que trabalhar com a data limite.”
Para Amorim, o avanço crucial nas negociações deverá ocorrer em junho ou julho. O comissário europeu para o Comércio, Peter Mandelson, ressaltou que as diferenças entre as posições dos países em desenvolvimento e ricos ainda são muito grandes. “As negociações não estão bloqueadas, mas sua conclusão é complicada por uma grande variedade de interesses e o número de temas entrelaçados que estão sendo decididos”, disse. Brasil e seus parceiros do G-20 pressionam os Estados Unidos a reduzirem seu apoio doméstico a agricultura e também exigem a redução das barreiras para suas commodities agrícolas na União Européia.
Os países ricos, por sua vez, reivindicam a queda dos impostos sobre importação de bens industriais e a abertura do setor de serviços nos países em desenvolvimento. “Brasil não está satisfeito” – Numa palestra a cerca de duzentos estudantes e acadêmicos na universidade London School of Economics , Amorim disse que a proposta de uma reunião de chefes de Estado, apresentada pelo presidente Luis Inácio Lula da Silva e apoiada pelo primeiro-ministro Tony Blair, será crucial para destravar de vez as negociações. “Há dois caminhos para se negociar: o incremental, com uma melhora gradual de ofertas, e o político, que gera uma solução definitiva”, disse. “Nós já obtivemos o máximo possível com a negociação incremental e o Brasil não está satisfeito.” Sobre a viabilidade de um encontro de cúpula, o ministro ressaltou que a proposta “ainda não foi rejeitada” por nenhum país. A França, no entanto, já deu sinais que se opõe a idéia.
Segundo Amorim, a reunião poderia ser realizada em abril ou no mês seguinte, quando então as bases do acordo poderiam ser firmadas. Sobre o encontro em Londres do G-6, que se estenderá até amanhã, ele disse que poderão ocorrer progressos nas discussões sobre alguns temas específicos, como dos produtos agrícolas considerados “sensíveis” pelos europeus, ou seja, que não são inclusos no pacote de redução de tarifas.