Genebra – As Nações Unidas anunciaram a formação de uma comissão internacional que investigará as circunstâncias relacionadas à onda de violência em Timor Leste, que deixou pelo menos 30 mortos e causou uma crise social e institucional. A comissão será formada pelos especialistas em direitos humanos Sérgio Pinheiro, do Brasil; Zelda Holtzman, da África do Sul; e Ralph zackling, da Grã-Bretanha. Eles viajarão a Timor Leste ainda esta semana.
O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, encarregou o grupo de investigar principalmente os fatos ocorridos entre 28 e 29 de abril, assim como entre 24 e 25 de maio, estabelecer responsabilidades e apresentar recomendações destinadas a garantir que as violações dos direitos humanos sejam punidas.
Os distúrbios na capital timorense, Díli, começaram no final de abril durante os violentos protestos de soldados que reclamavam de maus-tratos e discriminação por parte dos militares mais antigos. Na ocasião, várias pessoas morreram ou ficaram feridas. Sem conseguir conter a violência, o governo timorense pediu ajuda de forças internacionais. Quase um mês depois, ocorreu novo surto de violência, elevando para 30 o número de mortos.
A crise foi provocada pela decisão do primeiro-ministro Mari Alkatiri de demitir os 600 soldados – um terço do Exército – que reclamavam de discriminação. Gangues se aproveitaram dos protestos para saquear e incendiar casas e lojas. Lembrando dos massacres ocorridos após o referendo de 1997 que levou à independência de Timor Leste, mais de 100 mil moradores de Díli deixaram suas casas. Sob pressão, Alkatiri renunciou na segunda-feira, mas a capital voltou a ser cenário de graves confrontos e vandalismo esta semana. Alkatiri está sendo investigado em meio à acusação de que teria contratado um esquadrão da morte para eliminar seus opositores e os soldados rebelados.
As acusações ganharam credibilidade na semana passada quando o ex-ministro do Interior Rogerio Lobato, aliado de Alkatiri, foi indiciado. O chanceler José Ramos-Horta disse hoje que Timor Leste deverá ter um novo governo nos próximos dias. Ramos-Horta, que ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 1996 por sua resistência pacífica às ocupação indonésia, informou que até que o novo primeiro-ministro não assuma o poder ele controlará os assuntos de Estado.