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Opositor quer Grael no lugar de Nuzman e vê confederações com medo

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Existe um raro ponto em comum entre os discursos de Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), e de um dos seus principais opositores. Enquanto o mandatário ensina os ex-jogadores de vôlei Marcus Vinícius Freire e Bernard Rajzman a se tornarem dirigentes esportivos, o advogado Alberto Murray Neto não discorda que atletas aposentados sejam os mais indicados a comandar a entidade. Para ele, que foi expulso do COB no final de 2008 em função de sua postura crítica, o velejador Lars Grael deveria assumir o lugar de Nuzman imediatamente.

“Há muita gente competente. Hoje, meu nome é o do Lars Grael. Meu e de muita gente boa do esporte, por tudo que já fez e ainda faz como atleta, além de ter experiência administrativa como secretário de Esportes em São Paulo e muito respeito internacional. O presidente tem que ser uma pessoa com o perfil dele: honesto, competente, sensível, entendendo que o Brasil precisa apoiar modalidades menores e que antes de tudo há de se ter uma política social”, enalteceu Murray, que foi atleta do Pinheiros, árbitro da Corte Arbitral do Esporte entre 2007 e 2011 e atualmente dirige a Organização Não Governamental Sylvio de Magalhães Padilha.

Pelo menos até 2016, no entanto, quem continuará à frente do COB será o ex-jogador de vôlei Carlos Arthur Nuzman. O mandatário que coordena a entidade desde 1995 já garantiu o apoio de 28 presidentes de confederações nacionais de esportes olímpicos para se reeleger no segundo trimestre de 2012 e completar mais de duas décadas no cargo. Ainda conta com três membros natos com direito a voto: João Havelange, seu vice André Richer e ele próprio. Nem mesmo os 21 ex-atletas que são incentivados a seguir carreira no Comitê (como Marcus Vinícius e Bernard) ousam externar qualquer pretensão para a sucessão presidencial.

No início do ano, o médico Alaor Azevedo, presidente da Confederação Brasileira de Tênis de Mesa (CBTM), foi um dos poucos cotados a concorrer como opositor de Carlos Arthur Nuzman no pleito do COB. Já Eric Leme Walther Maleson, da Confederação Brasileira de Desportos no Gelo (CBDG), acabou impedido de registrar candidatura por enfrentar processo judicial e correr risco de impeachment (sua entidade ficou suspensa).

“Posso assegurar que há várias outras confederações insatisfeitas. Mas não falam porque têm medo”, acusou Alberto Murray. “Não entendo esse medo. Mas houve, sim, alguns encontros de um número considerável de confederações para discutir uma possível chapa de oposição. Nuzman descobriu e impôs a sua chapa na canetada. Chamou-as para uma reunião para tratar de um assunto e quando estavam lá enfiou uma lista de apoio a ele, para que elas assinassem. Constrangeu as confederações. O Alaor não estava nessa reunião. Oposição é sempre bom em qualquer coisa que se faça. Quanto à candidatura do Eric, ele apresentou a sua e, ao que sei, irá à Justiça fazer valê-la, uma vez que o Nuzman ignorou-a”, acrescentou o advogado.

Alaor Azevedo usa um discurso muito mais ameno ao analisar a situação política do COB. Ao mesmo tempo em que almeja uma candidatura para suceder Nuzman em 2016, o principal dirigente do tênis de mesa nacional elogia a evolução do desempenho esportivo do Brasil nos Jogos Olímpicos de Londres. “Penso em 2016. Não só eu. Outros dirigentes estão preparados para substituir o Nuzman, que ficará no cargo até lá. Isso é irreversível. A candidatura dele já foi lançada com o apoio da grande maioria das confederações. Para o futuro, eu apontaria o meu nome, o do Ary Graça (presidente da Confederação Brasileira de Vôlei e aliado de Nuzman), o do Paulo Wanderlei (da Confederação Brasileira de Judô), que estão alcançando bons resultados, o do… Há vários dirigentes capacitados no Brasil. Estou entre eles. Acho que eu teria condições de implantar algumas mudanças importantes no esporte brasileiro”, discursou.

Algumas das principais críticas feitas a Nuzman, contudo, não são partilhadas por Azevedo. O mandatário da CBTM confia na ascensão brasileira no quadro de medalhas olímpico sob o comando de um presidente com longo tempo de posto. “A continuidade não influencia tanto. O esporte tem uma característica legislativa, em que podemos fazer uma correlação com deputados e senadores. Para eles, não há limite de reeleições. E o poder legislativo te dá reconhecimento internacional. Como o Romário falou uma vez, ninguém senta na janelinha no primeiro ano de cargo. É um longo caminho. O Nuzman mesmo disse que, se não fossem todos esses anos na presidência, ele dificilmente teria poder para falar em nome do País lá fora e trazer os Jogos de 2016 para cá”, defendeu. “Os recursos também melhoraram. A imprensa batia muito nos investimentos de milhões, mas não é do dia para a noite que a gente consegue trazer mais medalhas. Para ter resultados consistentes, o período de maturação é de no mínimo dez anos. Agora é dar tempo ao tempo. O Ministério do Esporte está fazendo a parte dele, e o COB melhorou a distribuição do dinheiro. Alguns trabalhos isolados também têm dado resultado”, acrescentou.

Alberto Murray, ao contrário, revolta-se com a longevidade de Nuzman no COB. A justificativa de que a permanência do presidente contribui com a representatividade do Brasil em organismos internacionais não convence o advogado. “Esse conceito foi inventado agora para tentar justificar a permanência longa no poder. Isso não é democrático no mundo de hoje. Será que não existe ninguém tão ou mais competente do que eles no meio do esporte que presidem? Se é isso, então o esporte está perdido. Quem deve ter boa representatividade internacional não é a pessoa do fulano de tal, mas a modalidade que ele representa. O próprio Comitê Olímpico Internacional, em uma de suas medidas moralizadoras e de governança corporativa, após os escândalos de corrupção que envolveram a eleição de Salt Lake City para os Jogos de Inverno em 2002, limitou a permanência de seus presidente. Existe apenas um mandato de oito anos e uma reeleição de quatro. Sou favorável a um mandato de quatro e uma reeleição de mais quatro e pronto. Mas, de qualquer forma, o COI já impôs a si próprio o conceito de limitar as reeleições. E é isso que deveria ser seguido pelo Brasil. A permanência por muito tempo acaba por desgastar o exercício do poder”, argumentou, inconformado também com a distribuição dos recursos destinados ao esporte.

“Um absurdo o Arthur Zanetti (ginasta campeão olímpico) viver com R$ 2.000 ao mês enquanto vemos cifras gigantescas abastecendo os cofres do COB”, contrapôs Murray. “Pelo critério de meritocracia, as confederações que mostram melhores resultados ganham mais dinheiro. E mostram melhores resultados por quê? Justamente porque têm outras fontes de recursos, patrocínios. Os esportes mais pobres continuarão com resultados mais fracos se não tiverem incentivo financeiro. Então, no mundo do Comitê, as confederações ficam assistindo ao voleibol, ao atletismo e à natação gastarem a maior parte do dinheiro, exatamente as que já possuem outros patrocínios de estatais. Isso tem que mudar. O COB dá pouco apoio a levantamento de peso, lutas, canoagem, remo, esgrima, tênis de mesa”, complementou o advogado.

No balanço que tradicionalmente faz após uma participação em Olimpíadas, o COB prometeu investir mais em modalidades individuais (com maior quantidade de medalhas em disputa) e traçou o objetivo de conquistar pódios em 13 esportes distintos nos Jogos do Rio de Janeiro, em 2016. Em Londres, o Brasil ganhou três ouros, cinco pratas e nove bronzes, totalizando 17 medalhas, um recorde do País na história da competição. Assim, o time nacional terminou na 22ª colocação geral e no 14º posto apenas pelo número de pódios – satisfazendo Carlos Arthur Nuzman.

Alberto Murray e até Alaor Azevedo ainda acham pouco para o potencial do Brasil. “A participação foi rigorosamente dentro do esperado, razoável para um país que nunca teve política de desenvolvimento do esporte. Mas muito ruim se considerarmos o volume de investimentos públicos que houve desde a edição da Lei Piva, mais de R$ 10 bilhões. Principalmente neste ciclo Olímpico, em que se investiu mais de R$ 2 bilhões e não avançamos nada com relação a Pequim”, atacou o advogado. “A verdade é que não existe uma política nacional de esporte. Ninguém sabe se devemos dar mais recursos para modalidades que rendem mais medalhas, se precisamos apostar em escolas ou em clubes. Qual é o papel do Estado? Hoje, temos um monte de gente dando tiros para todos os lados, mas a grande maioria passa longe do alvo. O Brasil já conta com recursos importantes, bem próximos aos dos Estados Unidos e aos da China, mas não existe uma política de gastos definida. A Grã-Bretanha, por exemplo, obteve um resultado espetacular agora. O que eles fizeram? Política nacional de esporte Falta isso ao COB e ao governo”, afirmou o presidente da CBTM.

Alaor sugeriu que os clubes não fossem sobrecarregados no papel de formar atletas olímpicos, dividindo a responsabilidade com escolas e com centros nacionais de preparação para o esporte de alto rendimento. Murray concordou: “A solução para o esporte do Brasil está na escola. Enquanto as autoridades não entenderem que a prática da educação física deve ter a mesma relevância na grade escolar que a história, geografia, português e matemática, continuaremos à míngua de medalhas. Cerca de 12% das escolas públicas do Brasil têm praças de esportes. Isso é vergonhoso para o país que vai realizar Jogos Olímpicos e gastar bilhões de reais. Os clubes têm sido a célula máter do esporte brasileiro faz tempo. E devem continuar cumprindo seu papel importante de formadores de atletas. O atleta que se destaca na escola pode ser enviado ao clube para o seu aprimoramento. Mas os clubes formadores que receberem dinheiro público devem dar uma contrapartida social maior do que já dão, aumentando o número de atletas militantes em seus quadros”, opinou.

Com Nuzman no poder, entretanto, o crítico Murray não acredita em mudanças radicais até 2016. “O Rio e o Brasil querem fazer em quatro anos o que não fizeram em 400. Não dá mais tempo. O Brasil tem que entender que o Rio deve realizar Jogos Olímpicos que caibam no bolso do País e que deixem um bom legado ao povo brasileiro. Mas considerando que as mesmas pessoas que fizeram o Pan-americano, ao menos por enquanto, estão à frente do CO-Rio 2016, não tenho razões para acreditar que algo será diferente. O Rio de Janeiro logicamente não está preparado para receber os Jogos Olímpicos. Mas tem aí pela frente quatro anos para fazer o que for possível nesse tempo”, disse, duvidando da meta de medalhas do COB de seu desafeto Carlos Arthur Nuzman. “Não acho que o Brasil ficará entre os dez primeiros. Quem acompanha os resultados internacionais do Brasil nos campeonatos juvenil, que é a geração de 2016, vê que nossos deixamos muito a desejar. Acho que 2016 será como sempre tem sido”, lamentou.

*Com informações da Gazeta Esportiva

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