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Opositores reforçam críticas à dama de ferro

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Londres (AE) – O funeral da ex-primeira-ministra Margaret Thatcher será realizado na quarta-feira, 17 de abril, na catedral de St. Paul, em Londres, informou o governo britânico. Thatcher, a primeira e até agora única mulher a ocupar o cargo, morreu na segunda-feira aos 87 anos, após um derrame. E nem mesmo a morte afastou a polêmica que marcou sua  trajetória política. Ontem, enquanto uns lamentavam a morte, outros brindam com champanhe em festas improvisadas nas ruas ao som da música “Ding Dong! A bruxa está morta”, do filme o Mágico de Oz.
Pichações contrárias à ex-primeira-ministra Margaret Thatcher são vistas em muros de Belfast
Um cartoon do jornal The Guardian descreve Thatcher descendo para o inferno. Na primeira página do Socialist Worker, a expressão “regozijem-se” é a marca de uma série de fotos que mostram o legado que Thatcher deixou para os trabalhadores.

Thatcher foi a pessoa que permaneceu no posto de primeiro-ministro por mais tempo no século 20, mas foi uma figura que provocou divisões na política britânica. A dama de ferro chegou ao poder em 1979 e venceu três eleições seguidas. Ela foi obrigada a deixar o cargo após uma rebelião no Parlamento ocorrida em seu próprio partido, o Conservador. A defesa do livre mercado transformou a economia britânica, mas as privatizações e desregulamentação promovidas por seu governo levaram a um período de turbulentos confrontos com sindicatos.

Frequentemente, muitas sociedades tendem a amenizar a imagem de um líder contraditório quando ele morre. Nos EUA, presidentes impopulares são elogiados quando morrem, mas as emoções na Inglaterra como um todo permanecem como eram quando a dama de ferro estava no poder.

Thatcher é uma figura incomum culpada por muitos por mutilar os sindicatos trabalhistas e sabotar os direitos dos trabalhadores, mas a disposição de pequenos grupos de britânicos de fazer troça publicamente da líder nacional horas após sua morte reflete o desprezo pelo poder e seus praticantes.

Ainda assim, embora confortáveis em condenar a primeira-ministra que eles detestam, os britânicos não agiriam da mesma forma após a morte da rainha ou de alguém da família real, afirmou o Robert Worcester, fundador da empresa de pesquisa MORI. “Qualquer membro da família real será reverenciado, mas apenas alguns primeiros-ministros”, afirmou ele, pontuando que milhares de pessoas passaram horas na fila no meio da noite para ter a chance de prestar homenagens à rainha Elizabeth, a Rainha Mãe, quando ela morreu em 2002 aos 101 anos.

Worcester disse também que há alguma afeição geral por Thatcher em muitos locais do país, mas que não seria possível, por exemplo, dar seu nome a um navio porque os trabalhadores “cruzariam os braços” ao invés de homenagear a mulher que eles responsabilizam por ter destruído o movimento dos trabalhadores.

Worcester não descarta a possibilidade de alguns de seus oponentes carregarem cartazes com dizeres “já vai tarde” em seu funeral na próxima semana. O movimento anti-Thatcher se espalhou pela Irlanda do Norte, com celebrações de sua morte em várias cidades.

Americanos tendem a colocar os presidentes em um pedestal, particularmente após eles deixaram o poder. Eles são chamados “Mr. President’’ (Senhor presidente) pelo resto de suas vidas, mas ninguém na Inglaterra chama Tony Blair, John Major ou Gordon Brown de “Mr. Prime Minister” (Senhor primeiro-ministro).

Também existe uma tendência forte na Inglaterra de as pessoas serem desbancadas após terem sido colocadas no pedestal, e muitos não tem qualquer pudor em atacar líderes que eles não gostam, mesmo na emoção dos dias entre sua morte e seu funeral.

“Tendo vivido nos dois países, posso dizer que o Reino Unido é de longe mais combatente, de longe mais crítico e tem menos tabus em criticar líderes”, afirmou Robin Niblett, diretor do Chatham House. “De certa forma, sua morte está permitindo as pessoas verbalizarem a frustração que elas estão sentindo com a crise atual”.

Bate-papo

Fernando Henrique Cardoso, Ex-presidente do Brasil

“Nunca defendi a privatização da Petrobras”

Em sua opinião, qual o legado deixado pela ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher?

Eu acho que é de firmeza. Tomou decisões, foi em frente. Deu um exemplo de que para governar você precisa ter crença e avançar. Eu posso não concordar com as crenças, mas ela foi firme.

Com quais crenças de Thatcher o senhor não concorda?
No caso específico, eu nunca fui favorável ao desmonte da vida sindical e também a uma visão demasiado pró-liberdade de mercado. Eu sou social-democrata, não tenho essa mesma percepção.

Mas alguns analistas veem uma inspiração em Margaret Thatcher na abertura econômica e nas privatizações que senhor fez em seu governo. O senhor concorda com essa avaliação?

Não. Abertura econômica é outra coisa. Como o mundo marchava, como marcha, para uma integração crescente das economias, tem que abrir a economia. Agora, não houve inspiração. De minha, parte nenhuma. É muito mais uma questão prática dos interesses do Brasil do que inspiração de modelos.

As privatizações que o senhor fez em seu governo então não foram inspiradas nesse modelo neoliberal?

Não. Foi na necessidade de você modernizar certos setores. O Estado tinha uma crise fiscal, não tinha recursos para trazer essas soluções tecnológicas, nem dispunha de tecnologia, por exemplo, na questão de telecomunicações.  Por outro lado, em certas empresas eu acho que a atividade era necessária para dar força a elas, como a questão da Embraer e da Vale do Rio Doce. Eram repartições públicas, não tinham como competir e, como você vai marchar para um mundo de competição, você tinha que fazer. Mas eu nunca fui favorável, por exemplo, a privatizar a Petrobras, o Banco do Brasil.

(Entrevista à BBC Brasil)

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