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Orgulho LGBTQIA+ : potiguares falam sobre o que orgulha no movimento

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Ícaro Carvalho
Repórter
Resistência. Força. Liberdade. Transformação. Essas são sem dúvidas palavras que definem bem o movimento LGBTQIA+ (Gays, Lésbicas, Bissexuais, Transexuais, Queer, Pessoas Intersexo, Assexuais), que remetem às lutas diárias por direitos e respeito, a celebração do amor e pelo desejo de ser quem realmente é. É com esse pensamento em mente, que a comunidade celebra mais um dia do Orgulho LGBTQIA+, comemorado em todo o mundo nesta terça-feira, dia 28 de junho.

 

“A ideia do orgulho é uma forma de reagir a uma série de violências. Se a gente vive nessa sociedade LGBTfóbica, que é violenta, que desqualifica, subalterniza, que dizem que as pessoas LGBT devem se esconder, se transformar, serem outras coisas que elas não são. Então as pessoas LGBT reagem dizendo: não, somos plenos, temos orgulho de ser quem somos. A ideia do orgulho é essa reação a essa sociedade que violenta essa população.” aponta o professor Paulo Victor Leite Lopes, do departamento de Antropologia da UFRN.
Para o estudante, apresentador de teatro e dançarino, Ryan Silva, 20 anos, o orgulho passa pela aceitação de si próprio e de sua sexualidade. Ryan faz parte de uma realidade de dificuldade de aceitação por parte dos familiares, o que faz com que precise de apoio de programas sociais, como um abrigo público, para ter onde morar. 
“Tenho muito orgulho do que eu sou, da minha sexualidade, tenho muitos colegas LGBT. Fico muito feliz de me assumir e mostrar quem realmente sou. É uma liberdade”, comenta. 
Num mundo cada vez nas diverso, o preconceito com a comunidade LGBTQIA+ ainda é presente e em alguns casos, deixado de lado. O movimento teve conquistas recentes no país, como a criminalização da homofobia e da transfobia, em 2019, e o casamento entre pessoas do mesmo sexo, em 2013, em reconhecimentos do Supremo Tribunal Federal. Para Shimene Dias, 33 anos, militante na causa e coordenadora do Grupo Afirmativo de Mulheres Independentes (Gami), essas são causas importantes, mas que precisam ser acompanhadas de outras ações.
“A negação de acesso à saúde é algo super sério e que precisa galgar mais espaço. Temos nossas especificidades negadas. Enquanto profissional, tento minimamente contribuir. Temos uma evasão escolar grande de pessoas LGBT. As escolas precisam estar preparadas para essa população, o combate à LGBTFobia dentro dos espaços institucionais. Se a gente tira essas pessoas das escolas, obviante elas vão alcançar menos o mercado de trabalho. São direitos básicos que não avançamos tanto como esperávamos. Ainda não está o ideal”, explica. 
O que fazer para superar o preconceito? Para o especialista e pesquisador da causa LGBTQIA+, o Poder Público precisa regulamentar políticas públicas continuadas e com orçamento para essa população ser integrada de fato à sociedade.
“O desafio, além da transformação das mentes, e é um efeito disso, é que precisamos de políticas públicas continuadas. A população LGBT é vítima de violência, inclusive, estatal. Então precisa-se de política pública que deem conta disso, que ofereça programas de educação, saúde, geração de trabalho e renda, habitação. A população é muito estigmatizada e segregação continuada”, reforça o professor Paulo Victor Leite Lopes.
Recentemente, em 2020, Natal ganhou um Centro de Cidadania LGBTQIA+, com o intuito de atender e acolher membros da comunidade no acesso à benefícios socioassistenciais, qualificação profissional, e acesso ao mercado de trabalho. Há ainda o ambulatório TT, com acompanhamento do processo de hormonização e acesso à saúde. O Estado também conta com um ambulatório para pessoas trans e travestis, localizado no Hospital Giselda Trigueiro.
Lésbica: “Liberdade”
A enfermeira Shimene Dias, 33 anos, se descobriu lésbica aos 24, quando já era mãe de dois filhos. No começo, teve receio de reações da família e amigos, mas logo se viu abraçada e acolhida. Atualmente morando com sua esposa e seus dois filhos, cita que hoje está realizada e feliz de ser quem realmente é, militando na causa em associações e no auxílio a outras mulheres lésbicas na luta pelos seus direitos. Para ela, o Orgulho LGBT é algo libertador.
“É o que me mantém viva e com vontade de transformar o mundo. Costumo dizer que a lesbianidade não é só minha orientação sexual, é meu sujeito político. É a forma como eu enxergo o mundo e como eu quero que ele me veja. É minha forma de transformar o mundo. Tenho orgulho de ser lésbica, sorte de ter uma família que me aceite, e acho que a partir da nossa orientação sexual podemos mudar a visão do mundo, a forma como as pessoas se olham e se respeitam”, cita.
Gay: “Vitória”

Marcos Paulo, ou Cristal Pervenche 24 anos, DJ e drag queen, se identifica como uma pessoa gay e também como não binário. Desde 2015, trabalha como DJ e em eventos de Natal, inclusive, com uma personagem artística drag queen chamada Cristal. Sua identidade, diz, foi descoberta na infância e pré-adolescência. O processo de aceitação foi rápido, situação que foi ainda mais tranquila pelo apoio e respeito dos familiares. Entre 12 e 14 anos, já tinha sua opinião formada sobre sua sexualidade. Para Cristal, o Orgulho LGBT é sinônimo de vitória, um triunfo ante ao preconceito.
“O orgulho se antagoniza a vergonha, porque a maioria das pessoas quando começam a se descobrir, seja no início da adolescência ou vida adulta, essas pessoas têm o receio de se mostrar e se entender. A questão da aceitação, quando você se orgulha de si próprio, está batendo de frente com a própria sociedade”, revela.
Bissexual: “Resistência”
Leovictor Alves Mendonça, 21 anos, trabalha com bodypiercing e assim como a maioria das pessoas LGBTQI+, se percebeu “diferente” desde que era criança e não conseguia se adaptar a costumes predominantemente masculinos. Na adolescência, teve relações com mulheres, mas também sentia interesse em homens. Atualmente, estudante de Serviço Social e estagiário do Centro LGBT de Natal, fala que a bissexualidade é invalidada na sociedade e que se encontrou e não é nenhum “ponto fora da curva”. 
“A gente que é bissexual passa por isso, eu não sabia que existia esse “B”. Se não sou hétero, seria gay. Quando descobri, me encontrei. O Orgulho se dá por nossa resistência. A gente só se orgulha de algo que é difícil. E isso representa exatamente essa resistência diária, porque é difícil ser LGBT, de viver e sobreviver nesses dias que têm sido tão sombrios para gente”, cita.
Transexual: “Força”

Giselly Giovana dos Santos Silva, 18 anos assistente administrativa, se identificou como uma pessoa gay desde sua infância e adolescência. Aos poucos, viu que não se identificava com seu corpo e aos 14 anos, iniciou seu processo de transição, feito com “calma e paciência”, segundo ela. O processo de transição hormonal começou há pouco mais de dois meses, em razão da maioridade. A escolha do seu nome é em homenagem a uma amiga de infância. 
“O Orgulho é uma questão de aceitação relacionado à opiniões, não se importar com o que pensam, o que dizem. É você mostrar sua identidade e dar sua cara a tapa. Para mim é um grande orgulho. Ser LGBTQI é sinônimo de força”. Hoje, mulher trans, e independente e dona de si, é enfática ao dizer que está feliz e realizada.
Queer: “Travessia”

Marcone Soares, 24 anos, Max, ou Marxine, artista plástico, vive em constante processo de construção e transformação do universo que o rodeia. Sua identificação para consigo mesmo, o que chama de “travessia sem saber o que é o final”, é algo que o orgulha e ao mesmo tempo o faz pensar sobre sua presença no mundo. Atualmente, faz performances em suas redes sociais e em eventos artísticos de Natal. Se identifica como uma pessoa não binária, podendo se encaixar na definição “Queer”, termo que já foi um xingamento no passado e é um termo abrangente de várias possibilidades de gênero e sexualidade.
“Quando se fala em orgulho, falo sobre a felicidade de estar vivo e fazendo o que eu quero e posso fazer. Esse orgulho vem muito disso: que bom que estou vivo, que bom que estou lutando por outras pessoas que estão comigo e acho que esse orgulho vem nesse lugar de reafirmação, de ainda estar, poder estar vivo e poder lutar por isso”, conta.
Assexual: “Afirmação”
Jamie Librenjak, 36 anos, vendedora, se identificou “completamente por acaso” como uma pessoa assexual aos 30 anos ao ler uma matéria de revista. No caso de Jamie, sua orientação sexual é a demissexualidade, que é a falta de atração sexual por outras pessoas sem forte conexão emocional. 
“Não é celibato. Pessoas assexuais, mesmo as estritas, podem se apaixonar, namorar, casar. O orgulho pra mim é de ser eu mesma, de ter tido o privilégio de ter acesso à informações adequadas, que acho que foi tardiamente, com custos grandes à minha saúde física e mental. Tenho orgulho de estar resistindo para existir e poder confrontar médicos, psicólogos e dizer: não somos doentes, não precisamos de conserto, até porque só se conserta o que está quebrado. E a gente não está quebrado”, finaliza. 
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