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Origens

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Dácio Galvão
A cobiça imobiliária, mineradora e a madeireira impera sobre as terras indígenas de diversas etnias há muitos anos no Brasil. O marechal pacifista Cândido Rondon descendente dos povos Terena e Bororo, os irmãos sertanistas idealizadores do Parque Indígena do Xingu Cláudio e Orlando Villas Boas, o antropólogo Darcy Ribeiro são exemplos da luta pelo respeito a esses povos originários. Da idealização romanesca de José de Alencar (Iracema, O Guarani, Ubirajara) indo ao ambiente da narrativa crítica e literária de Quarup e da Expedição Montaigne de Antonio Callado a resistência chega aos dias atuais contabilizando ganhos mas também perdas indignas e absurdas.

Não é brincadeira não. É duro. Duríssimo. São nações com suas tradições violentadas e ou preservadas que vão do campo etnolinguístico (a Unesco definiu 2019, o Ano Internacional das Línguas Indígenas) ao conflitante, permanente e dialógico reenquadramento de valores simbólicos. Cotidianamente, numa sociedade que elege o consumo como prioridade de vida torna a virada de rumo quase impossível. Entretanto, apostamos que um dia esse jogo vai virar. Esperamos. O oposto da construção cidadã é a praga do consumo obsoleto!

Estamos diante do superdesafio. O período é turbulento e o neopopulismo virtual politicamente influenciador prepondera sobre massas navegantes e alienadas das redes sociais. Massas sem reflexão e quase sempre impulsionadas por 144 toques do Twitter, imagens do Instagram, grupos de WhatsApp… E basta. É mole? Instantaneidade e simultaneidade em grande parte a serviço da manipulação e do poder dominante. A gana de uma narrativa globalizante e superficial.

Nossos índios, nossos mortos? Não. A diversidade é fundamental. Nossos índios, VIVOS! Escutamos suas vozes minoritárias, é verdade, mas potentes. Vozes se erguendo e vociferando feito dardos envenenados do bem como a de Ailton Krenac. A bola da vez. Sopro de alerta dentro do espectro de suas ideias para adiar o fim do mundo: “Tem quinhentos anos que os índios estão resistindo, eu estou preocupado é com os brancos, como vão fazer para escapar dessa. A gente resistiu expandindo a nossa subjetividade, não aceitando essa ideia de que somos todos iguais. Ainda existem aproximadamente 250 etnias que querem ser diferentes no Brasil, que falam mais de 150 línguas ou dialetos.”

As últimas notícias da mídia nacional dão conta do assassinato do líder indígena Emyra Wajãpi supostamente executado por garimpeiros invasores. O governo federal põe as barbas de molho e pondera que o indício de invasão ainda não se confirmou. Sabe-se da política de apoio aos mineradores e do desinteresse que o atual governo tem na pauta cultura indígena.

A incapacidade de ações, do pensamento plural, da bandeira da intolerância hasteada, a aposta no agronegócio sem o equilíbrio da sustentabilidade  empurra a   superestrutura do poder a se enquadrar na fala do jurista Miguel Reale Júnior. Discurso lúcido de centro direita! Se reportando ao cenário político referindo-se as práticas do governo central e alerta:  “o fascismo cultural corta pela rama toda a capacidade de pensamento, de crítica, de divergência. A diversidade desaparece. O lema é este: é proibido pensar, mas é permitido obedecer….”

    É preciso respeitar memórias ancestrais. Num contraponto, o multiartista Antonio Nóbrega, cantando Chegança, composição autoral de temática identitária de povos originários,  ao som de preacas ( arco e flecha percussivos de grupos Caboclinhos ) poetiza na primeira pessoa e se reparte em etnias, celebrando: “Sou Pataxó / Sou Xavante e Cariri / Yanomami, sou Tupi / Guarani, sou Carajá / Sou Pancaruru Carijó, Tupinajé / Potiguar, sou Caeté / Ful-ni-ô, Tupinambá”! Há mais de quarenta anos pesquisando músicas de povos origens avessa ao sucesso mercadológico na batalha incessante por entidades culturais Marlui Miranda ( CD’s Tchautchiüãne, Vozes da Floresta, Paiter Merewá, Fala de Bicho, Fala de Gente ) enveredou imersa na música Juruna, Suruí, Kraô, Urubu-Ka´Apor, Parakanã. Vamos ao que ela diz a respeito do canto e da melodia indígena: “Não é folclore, não é word music. Não é música brasileira. É música tikuna, mundurucu, yanomami. São povos, temos que respeitar essas fronteiras. E aceitar a realidade. Chegou a hora de aceitar que existe indígena no Brasil, que está no mercado, os indígenas fazem sua própria música.” Outras palavras: Egberto Gismonti fez o disco Kuarup. Trilha para o filme de Ruy Guerra, baseado da obra de Antonio Callado. Morou por um breve período com índios yawaiapiti, do Alto Xingu. E a cantora Djuena Tikuna ( Aldeia Umariaçu – AM ) fora indicada para concorrer ao Indigenous Music Awards, o maior prêmio mundial da música indígena, que acontece anualmente na cidade de Winnipeg, no Canadá.  Dirigiu o audiovisual WIYAE: 1a. Mostra de Música Indígena do Amazonas com vinte e dois grupos de artistas indígenas. O documentário WIYAE é de Bárbara Umbra e Jorge Grego, da Umbra Foto e Vídeo.

Nossas minas de há muito já foram todas devastadas na sede da exploração colonial. Agora pinta entre muitos desastrosos o resultado da voracidade capitalista em Brumadinho. Catástrofe. Ouro, ferro e terras. Ambição, ganância! E as Terras de um pertencimento? Terras de quem lida com a ecologia de saberes imemoriais? Nesse momento na região norte do país as terras continuam se derramando de vermelho. De sangue. E aí? Tempos mais que difíceis. Vamos empunhar nossas ferramentas da luta pela paz!  

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