Weimar, no leste do país, pode, com suas pequenas ruas de paralelepípedos e seu charmoso centro histórico, parecer um local de nascimento surpreendente para este movimento, moderno e minimalista, fundado em 1º de abril de 1919 pelo arquiteto e designer alemão Walter Gropius.
Após os horrores da Primeira Guerra Mundial, “os artistas se reuniram para criar uma nova forma de arte, com ideias bastante utópicas e idealistas”, explica Anke Blümm, curadora da Fundação Bauhaus em Weimar.
Seguindo a doutrina de “a forma segue a função” – o prático prima sobre a estética – , a Bauhaus desejava criar objetos ou prédios de desenho acessível para todas as classes. Este ano, Weimar, também conhecida por ser a cidade de Goethe, será o coração das comemorações da Bauhaus no país, e espera atrair turistas de todo o mundo.
Um novo museu abrirá suas portas na primavera, e a “Haus am Horn”, primeira casa branca de teto plano (característica da corrente Bauhaus) construída segundo os princípios da escola, em 1923, voltará a receber o público em maio. A corrente Bauhaus “é uma de nossas exportações culturais mais influentes”, disse o chefe de Estado alemão, Frank-Walter Steinmeier, na largada das comemorações.
Diáspora
Quando o regime nazista a proibiu, em 1933, vários artistas deixaram a Alemanha, criando uma diáspora que espalhou a cultura da Bauhaus pelo mundo.
As construções com este selo mais conhecidas fora da Alemanha são a sede da ONU, em Nova York, com suas linhas puras, ou a “Cidade Branca” de Tel Aviv, inscrita no Patrimônio Mundial da Unesco, com seus 4 mil apartamentos de fachadas brancas e lisas e esquinas e varandas frequentemente arredondados.
Também há diversos objetos do cotidiano da época, como as famosas cadeiras, e os quadros ou fotografias expostos em museus. Sem levar o selo Bauhaus, as mesas da gigante sueca Ikea e a maioria dos celulares herdaram o seu estilo.
Entre os seus pilares, a escola conta com pintores renomados, como o russo Wassily Kandinsky e o suíço Paul Klee, figura do surrealismo, embora este último tenha acabado se distanciando do movimento, por considerá-lo muito fundamentalista. A Bauhaus era movida por uma visão reformista, e inspirada nos progressos tecnológicos que se seguiram à Grande Guerra.
Para o historiador Winfried Speitkamp, diretor da Universidade da Bauhaus em Weimar, que continua ensinando os princípios da escola no mesmo campus que outrora, o objetivo era construir, através da arte, uma nova sociedade democrática sobre as ruínas do império germânico. Isto coincidindo com uma democracia incipiente e frágil, também nascida em Weimar. “Queriam acabar com a monarquia, muito autoritária e militarista.”
‘Espírito da Bauhaus’
Como a República de Weimar, a Bauhaus tornou-se rapidamente alvo dos nazistas nos anos 1920. “É típico da extrema direita considerar qualquer movimento que propague novas formas de cooperar e criar, uma abertura e diversidade, algo perigoso”, assinala Speitkamp. Isto embora, como destaca o semanário “Die Zeit”, o movimento evitasse se comprometer contra os poderes políticos, para, desta forma, manter o apoio financeiro vital do Estado. “Gropius insistia em que sua Bauhaus não era nem bolchevique, nem judaica, nem alemã”, lembra a publicação, um tanto crítica com a apresentação idílica que se faz do movimento 100 anos depois.