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Os abencerragens de Natal

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É uma carta do doutor João Medeiros Filho (30/07/1904-21/02/1987), o grande advogado, jurista e escritor, datada de 19 de março de 1984, que reencontrei esta semana na gaveta dos papéis desarrumados. Foi nela que li, pela primeira vez, a palavra “abencerragens”, assim no plural, e que me levou aos Aurélios e Houaiss e que hoje você pode, querendo, caso são saiba do seu significado, acessar o google aí diante da tela do seu computador. De lá pra cá, decorridos 32 anos, aumentou muito o número integrantes dessa tribo potiguar, dos “Abencerragens”, muitos citados, aliás, nas altas e médias rodas da província metida a besta, com ares de opulência ou coisa que tal.

A carta é manuscrita, a letra aprumada do ilustre missivista passando pelo papel pautado de um caderno escolar (22cm x 15cm). São seis páginas e meia, cada página com 22 linhas. Em cada linha, no máximo cinco palavras. Nelas a síntese exata que o doutor João Medeiros Filho faz da aldeia vaidosa, passeando pelas rodas literárias, ao redor do fazer de seus escritores e jornalistas, profissionais liberais. Dá sugestões para quem deseja praticar o ofício de escrever, mas exagera nos adjetivos dirigidos a este cronista, seu admirador de carteirinha e que teve o privilégio da sua amizade e atenção, aqui e acolá uma rodada de papos e copos pela noite boemia de Natal. Ele pediu para que a carta, escrita na Praia de Redinha, um de seus paraísos, não fosse publicada. Não foi. Publico agora. Lá de cima, papeando com Newton Navarro, Albimar Marinho, Luís Carlos Guimarães, Berilo Wanderley e Ticiano Duarte, o doutor João Medeiros Filho certamente concordará:

“Meu caro Woden:

Um abraço

Sou-lhe muito grato pelas atenções que me tem dispensado na sua “coluna” jornalística. Conquanto avesso à publicidade pessoal e profissional, tão do agrado de certos “abencerragens”, cujos retratos de corpo inteiro saem na imprensa, graças, de um lado, a Jota Epifânio, e, de outro, aos repórteres policiais, reconheço a necessidade de uma identificação social e literária, em processo de “referência”, visando às afirmações que representam a verdade acerca das atividades individuais muitas vezes desconhecidas. Incógnitas.

Esse processo de referência é útil, sobretudo, aos que vivem solitários, arredios do mundo neurótico que nos rodeis. Pergunta-se: “Será que fulano ainda vive? ” A isso, que compreende um pouco de egoísmo e de sarcasmos (partindo do princípio utilitarista de que “ninguém gosta de ninguém”), devemos contrapor uma manifestação estuante de vida superior em que possamos recolher todos os benefícios, todas as vantagens que muitos supõem obter na “feira das vaidades”.

Pedindo desculpas por esse rasgo de filosofia “redinheira”, quero transmitir-lhe meu entusiasmo com os verbetes – ‘De Chuva’, que lembram Jorge Fernandes e Menothi del Pichia : “que cheiro de mato molhado, de mato pisado…!”. Por que não aproveita o tema para um livro? Escrever não é vaidade, é afirmação. Se a fonte primária da História é a palavra impressa ou escrita, como disse no “Contribuição à História Intelectual do Rio Grande do Norte”, citando Greenlaw, convém aos que fazem jornalismo, advocacia, medicina. Magistério, etc., realizar uma obra estética, literária, especialmente os que, como você, tem um bom estilo, solto, sem empecilhos gramaticais, sabido que a gramática impede muitas vezes a liberdade de pensamento, isso sem exagero, é claro, para que não se abastarde o idioma já de si tão enxovalhado.

Isto que escrevo não é para publicar. É apenas um começo de relacionamento epistolar, como no passado, fazia com Helio Galvão, meu timoneiro seguro neste campo de atividades intelectuais.

Disponha sempre de

João Medeiros

Redinha, dia de São José (tome chuva!), 1984. ”

A luta da Igreja
Noutro canto da gaveta pego outra carta. Esta, agora, do historiador e sociólogo Itamar de Souza, também manuscrita, papel pautado de caderno mais largo, tamanho oficio. Carta mais curta, curtinha, escrita em Natal no dia 2 de dezembro de 1982. O mote é o lançamento de seu mais novo livro, A Luta da Igreja Contra os Coronéis . Está contado assim:

“Caro Woden,

Como você deve ter sabido, estou enfartado. Mas estou passando bem. A recuperação foi rápida, graças a Deus.

Venho lhe pedir o favor de publicar a seguinte notícia no seu jornal:

Está circulando em todo o pais, mais um livro do sociólogo e professor Itamar de Souza – A LUTA DA IGREJA CONTRA OS CORONÉIS – publicado pela Editora Vozes, Petrópolis, RJ.
O livro aborda o papel desempenhado pela Igreja, no início da década de 60, na implantação do sindicalismo rural no Nordeste.

Breve o livro chegará a Natal.

Grato. Um abraço
Itamar de Souza”

O Cabugi de Enélio
Enélio Petrovich, então presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte,  me escreveu no dia 2 de maio de 2000, aqui de Natal, a seguinte carta:

“WM:

Retornando de Porto Seguro, depois de uma palestra sobre o Marco de Touros, li os seus comentários de domingo (30/04), acerca da plaquete de Olavo (Olavo de Medeiros Filho). Também é muito bom o trabalho de pesquisa.

Sugeri a ele reeditar, em número maior, pois somente fez 77 exemplares e caros.
Oportuna a sua posição no episódio “escandaloso” do “Monte Pascoal no Cabugi” (27-04). Dei ciência ao Conselho Estadual de Cultura.

Não acredito que o projeto de lei seja aprovado. Se for, válida será a mudança do nome de Angicos para Porto Seguro. E no pé do “Monte Pascoal do Cabugi” uma estátua do governador Garibaldi Alves Filho com o dedo para cima. Uma grande homenagem!

A justificativa poderia ficar a cargo do conhecido humorista Davi Cunha.

Enélio Lima Petrovich”

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