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Os ataques ao Papa Francisco

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João Medeiros Filho
Padre

Segundo alguns vaticanólogos, Jorge Mario Bergoglio foi eleito papa contrariando previsões da Cúria Romana. Isso mostra que, apesar das fragilidades humanas, há o sopro divino dentro da Igreja católica. Francisco é uma figura carismática, cuja missão é também reconquistar a credibilidade eclesial junto à sociedade hodierna. Não há dúvidas de que seus gestos e palavras têm contribuído para tanto. É um pastor misericordioso, simples e preocupado com os problemas e causas importantes, urgentes e justas. Entretanto, aumentam os ataques por parte de seus opositores. A falta de escrúpulo e o desespero de alguns manifestam-se acintosamente. Há uma corrente que insiste em denegri-lo e desestabilizá-lo.

A eleição de Francisco tornou a Igreja mais exposta, como entidade milenar enclausurada em suas estruturas e tradições. Ele tem reiterado a importância de uma Igreja livre para cumprir sua vocação. Isto incomoda, pois tal liberdade pressupõe riscos no caminho que leva aos sofridos. O Abbé Pierre, apóstolo dos excluídos franceses, referindo-se a seus opositores, dizia: “Eles têm as mãos limpas, pois não costumam tirá-las das luvas ou dos bolsos”. Para quem se apega à segurança institucional, uma Igreja mais despojada é uma proposta arriscada, sobretudo no mundo de hoje, tão fluido e fragmentado. As reações contrárias a Francisco revelam o medo de que a instituição se perca, especialmente depois de três décadas de sua intensa afirmação, com os dois últimos pontificados (São João Paulo II e Bento XVI). A oposição ao papa argentino consiste em críticas a uma concepção de Igreja, que assusta, porque relativiza o poder. Dir-se-ia, mais exatamente, a ilusão do poder, uma vez que se presencia o desempoderamento eclesial, não ocupando mais no mundo secularizado o mesmo espaço de outrora.

Os adversários de Francisco não discutem ideias teológicas sobre aquilo que a Igreja poderia ser ou não. Demonstram sua rejeição à mudança estrutural pela qual ela eventualmente poderá passar. Temem que a sua riqueza desapareça, seus poderes se acabem e sua fortuna seja somente o amor ao próximo (desmistificando a pompa, o prestígio e a glória) e suas mordomias se transformem em pão na mesa dos famintos. Receiam que a Igreja olhe para todos de igual forma, enchendo-se de pecadores, pois não estão preparados para isso.  “Ide, pois, aprender o que significa: misericórdia eu quero, e não sacrifícios”, afirmava o Senhor (Mt 9, 13). O Papa Francisco é um líder bastante inaudito. Surpreende, ao buscar a transformação das estruturas eclesiásticas e do mundo. Muito já se escreveu a respeito de suas atitudes. São icônicas, mostrando uma Igreja em transformação, ainda que lenta. Por isso, o papa latino-americano tem sido vítima de invectivas implacáveis, desrespeitosas e injustas, advindas, mormente, dos irmãos eclesiásticos.

Os opositores de Bergoglio não estão tranquilos. É compreensível, ainda que inaceitável. Os paladinos do “status quo” defendem a segurança e, nesse sentido, toda perspectiva de mudança soa como uma ameaça. Foi também assim com Jesus. A nova proposta da imagem de Deus trazida pelo Mestre colocava em questão elementos da religião de seu povo. Nesse sentido, entendem-se as palavras de Caifás: “É melhor um só morrer do que perecer todo o povo” (Jo 11, 50). A morte de Cristo significou para as autoridades da época a defesa da religião. O mesmo se pode dizer da oposição orquestrada a Francisco. Tal reação, tanto a dos seus adversários como aquela dos êmulos de Jesus, mostra-se como falta de percepção e apego à instituição temporal. Cristo veio anunciar a Boa-Nova, de Paz e Salvação, ou seja, o “Evangelii Guadium” (A alegria do Evangelho). É sobre isto que o Santo Padre chama a atenção. E ele com humildade tem aberto as portas da Igreja para que os cristãos respirem o ar puro do perdão e da graça divina. É certo que esta Igreja dirigida por homens continuará a ter pecados e erros, mas deverá reconhecê-los e corrigi-los para continuar a ser o sacramento de Cristo. Alguns clérigos esquecem as palavras do Mestre: “Entre vós, não seja assim, quem quiser ser o maior, seja aquele que vos serve” (Mt 20, 25).

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