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Os bichos e afros de Vereda

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Woden Madruga
[email protected]

Tentando escapar dos 40 graus do Jalapão, Florentino Vereda fez romaria (mas de avião) até a Aparecida para celebrar a Padroeira do Brasil. Não conteve a emoção. Rezou e acendeu velas. Na terça-feira desceu em Brasília e, do hotel onde se hospedou, passou o dia todo na varanda olhando para a Praça dos Três Poderes, na tentativa de entender as coisas que acontecem ali. No andar da noite, ouvindo e vendo a televisão,  teve um resumo do que ia acontecendo ao redor dos cerrados e de mais coisas do outro lado do mundo. Mas o Brasil não saia de sua agenda. Aí, então, resolveu pegar escrever um texto sobre o que passava por sua cabeça, nele alguns itens de sua variada pauta. Deu à crônica o título de “Black is Beautiful”, que transcrevo por inteiro:

“A Jéssyka está se preparando para um concurso público. O sonho dela é um emprego com estabilidade em que possa fazer greve sempre que algum motivo se apresente – por mais fútil que seja – e, se possível, com um bom auxílio-moradia. Afinal, ela e o Toninho pensam em se casar e precisam de um teto para abrigar cama, mesa e banho. Sucede, porém, que baixou nela uma incerteza, quase desespero, ao saber das profundas mudanças que passa o ensino nestas terras de Pindorama, onde cantam graúnas afrodescendentes e marrecos arianos proclamando a igualdade das raças e das cores, até mesmo, entre as avoantes.

Ela, que sempre foi uma aluna diligente – leitora voraz de todos os livros de Manoel Jairo Bezerra, adora Malba Tahan – quase pirou quando soube que a Universidade Federal do ABC acabara de criar a disciplina “Estudos Étnico-raciais e Afro-matemática como transformadora Social”, seja lá o que isto quer dizer. Vai que a moda pega e logo outras universidades retirarão dos departamentos de Física o estudo dos buracos-negros, desculpe, afrodescendentes, passando-os pela área da Medicina, mais precisamente para a Proctologia. A Botânica, certamente, dará ênfase ao estudo das orquídeas-negras (‘Maxillaria schunkeana’) e das ameixas pretas (‘Prunus domestica’); a Zoologia dedicar-se-á prioritariamente aos Mangangás (‘Xylocopa spp. Apidae’) e aos ‘Digitonthophagus gazela’, conhecidos na intimidade por rola-bostas.

Coincidentemente, o Professor Axel Geburt, PHD, que está em uma importante e centenária universidade do Reino Unido participando de um grupo de estudos sore a “Evolução das espécies à luz do marxismo-leninismo”, demonstrou grande interesse em conhecer os estudos da UFABC. Seria uma boa oportunidade de revê-lo e até o convidei pare irmos à Pipa. Lá ele poderia estudar a migração dos veados-mateiros (‘Mazama americana’) desde as praias do Sul até o Nordeste do Brasil, e que hoje abundam no que resta da mata atlântica daquela paradisíaca praia potiguar.

Entre os animais estudados pelo professor Geburt e seus colegas europeus um tem sido debatido com paixão exacerbada, provocando conflitos ideológicos que beiram a insanidade, pelos paradoxos que se apresentam nas suas diversas espécies: os ‘Ursidae’, melhor dizendo, os ursos, com quase dez tipos e cores diferentes. Há quem diga que eles, apesar de extremamente ferozes, são os animais mais representativo das discriminações que sofrem as raças desprestigiadas da fauna terrestre. Primeiro por que não existe um só exemplar habitando o hemisfério sul do planeta. Além de receberam a pecha de “amigo-urso”, personagem velhaco, falso e traiçoeiro imortalizado em música por Moreira da Silva. Ora, sabendo-se que os ursos – que não andam em bandos como a torcida do Corinthians – são criaturas arredias e solitárias, certamente não têm amigos. Donde a injustiça.

Já os ursos polares que, por serem brancos, poderiam ter dominado o mundo animal, preferem a frieza do Polo Norte. Enquanto os ursos negros habitam boa parte dos Estados Unidos, país extremamente racista. Aliás, alguns biólogos filiados ao PT britânico afirmam categoricamente que os ursos negros seriam afrodescendentes levados à América como animais de estimação dos escravos que habitavam a Cabana do Pai Tomás, donde a palavra PET, que as dondocas usam para chamar seus cachorrinhos felpudos e esnobes.  Espero que Donald Trump não resolva expulsá-los (os ursos negros, não os cãezinhos das madames) ou, pior ainda, fazer deles alvos para a ‘National Rifle Association’.

Mas são as Pandas que mais incomodam a bancada da esquerda. Originários da China e da Rússia, parecem ter traído os ideais comunistas, com a mistura do branco e do preto em sua pele demonstrando, no mínimo, uma tremenda indecisão ideológica típica dos “Ramphastidae” também conhecidos como tucanos. Se habitassem os Estados Unidos, seriam abecedistas no meio da torcida americana. O pau iria comer solto.

Seja como for, há entre os colegas britânicos do Professor Geburt, um certo ressentimento sobre o que consideram negligência de Charles Darwin não ter estudado as causas da suposta superioridade de alguns animais sobre outros, atitude típica da arrogância de um inglês da era vitoriana.
Estou recomendando à Jéssyka que leia “A Revolução dos Bichos”, de George Orwell, já que ela pretende ingressar no serviço público. Quanto à matemática, que ela procure se aprofundar no estudo das origens da álgebra, desde os seus fundamentos nos sábios árabes (donde a palavra “álgebra”), pois não tarda muito, teremos também alguma universidade ensinando a matemática sob a ótica do islamismo. Quanto a Pitágoras, coitado, nunca pensou que haveria tanta gente quadrada a contestar suas teorias, debatendo-se entre catetos e hipotenusas.

Será que Alex, bom de letras e de números, toparia nos acompanhar à Pipa? ”

Padre Monte
Carta de Veríssimo de Melo, sem anotação do ano mas,  pelo o assunto,  foi escrita em final de fevereiro de 1994. Vejamos;

Mestre Woden: meu abraço.

Peço noticiar mais uma vez a realização amanhã, dia 1 de março, da reunião conjunta do Conselho de Cultura, da Academia e a Arquidiocese de Natal para homenagear a memória do Padre Luiz Gonzaga do Monte, na passagem dos 50 anos de sua morte.

Falarão na oportunidade os acadêmicos Jurandyr Navarro da Costa, Sanderson Negreiros e Otto de Brito Guerra. Será lido também mensagem do biógrafo do Padre Monte, o Padre Jorge O’Grady de Paiva, devendo falar em nome da família do homenageado o arcebispo d. Nivaldo Monte.

Grato,

Veríssimo”

Poesia
“Conto sílabas com recato / como quem espalha cadeiras / ao largo das salas.  // A noite me espreita / por trás das portas.  // Dos vestidos à camisola / com falta de tato me dispo. // Atravesso incauta / a pista lisa do verso / caio nos precipícios. ” (Do  poema “Conto sílabas com recato”,  da poeta Diva Cunha,  em seu livro armadilha de vidro).

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