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Os chargistas

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A irreverência dos chargistas, com a crítica política e de costumes, estava presente desde as primeiras edições da TRIBUNA DO NORTE, mas de forma esporádica e apenas como colaborações. Às vezes, as charges completavam reportagens ou ilustravam artigos e crônicas. Na década de 1970, o jornal profissionalizou a seção de humor, destinando espaço próprio e periodicidade diária para as charges.

A decisão foi motivada pela oportunidade de contar com as tirinhas de um dos maiores nomes do humor nacional. Henrique de Sousa Filho, o “Henfil”, veio morar em Natal e, através da amizade com editores e repórteres da TN, passou a colaborar diariamente com a redação. As tirinhas traziam os personagens “nordestinos” de Henfil – Zeferino, Graúna, Bode Orelana – e também os “Fradinhos”. Aos 32 anos, quando veio para Natal em 1976, Henfil já era um “nome nacional”.

A estreia dele como chargista foi aos 20 anos de idade, na revista “Alterosa”, de Belo Horizonte. Henfil era mineiro, nasceu em 1944 e faleceu em 1988, vítima do vírus HIV, contraído durante uma transfusão de sangue. Após a estreia, passou a colaborar com jornais – O Diário de Minas, Jornal dos Sports – e revistas, como “Realidade”, “Visão”, “Placar” e “O Cruzeiro”.

Em 1969, para ficar mais próximo das redações que publicavam seus desenhos, Henfil mudou-se para o Rio de Janeiro. No mesmo ano é contratado pelo “Jornal do Brasil” e passou a fazer parte da turma de “O Pasquim”, jornal alternativo que fez história na imprensa brasileira, fundado naquele ano por com Jaguar, Tarso de Castro e Sérgio Cabral. Em 1972, Henfil lançou pela editora Codecri a revista “Fradim”, que tornou conhecida seus personagens.

Na Tribuna do Norte, Henfil publicou tirinhas entre 1976/1977, anos em que morou em Natal. Ao deixar a cidade, também tinha “descoberto e lançado” vários talentos locais para a charge, além de incentivado a formação de grupos de estudos e pesquisas em histórias em quadrinhos, desenho e humor.

Um dos talentos lançados por Henfil foi o natalense Cláudio Oliveira, atual chargista na imprensa paulista. Na Tribuna do Norte, Claudio começou a desenhar charges aos 14 anos de idade, após ter conhecido e feito amizade com Henfil. Do mestre mineiro, ele lembra ter recebido as orientações básicas sobre a arte da charge, além de “uma forte influência nos traços”.

Henfil chegou a recomendar a publicação de alguns dos trabalhos de Claudio em “O Pasquim”. A militância nas redações também foi decisiva para a escolha do curso de jornalismo, na UFRN (co cluido em 1989), e uma especialização em Artes Gráficas na Escola Superior de Artes Industriais de Praga, na antiga Tchecoslováquia. De volta ao Brasil, Claudio radicou-se em São Paulo, onde desenha para os jornais do Grupo Folha. Em 2008, por alguns meses, voltou a desenhar as charges diárias da Tribuna do Norte.

Emanuel Amaral começou a trabalhar com histórias em quadrinhos, charges e arte publicitária em 1970 e, em 1989, estreou na Tribuna do Norte e ficou até 1992. Neste período, além das charges e desenhos para ilustrar reportagens e artigos, também respondeu pelo planejamento gráfico do jornal.

Emanuel é um dos pioneiros das HQ’s potiguares. Em 1971 foi um dos organizadores da 1ª Exposição Norte-riograndense de Quadrinhos, base para a criação – também com a participação dele – do Grupo de Pesquisa de Histórias em Quadrinhos (Grupehq), o mais antigo núcleo de HQ’s em atividade no Brasil. Entre as dezenas de histórias produzidas por Emanuel Amaral, destacam-se parcerias com Claudio Oliveira, Edmar Viana e Ivan Cabral, além do livro “Já Era Collor” e, com Aucides Sales, a revista “Igapó” que apresenta episódios da história do RN em quadrinhos.

Edmar Viana (1956-2008) foi  o chargista mais longevo na história da TN. Apaixonado pelo futebol – torcedor fiel do Fluminense (RJ) e do Alecrim (RN) – começou a desenhar em 1973, quando enviava desenhos para ilustrar a coluna do cronista esportivo Everaldo Lopes.  A parceira entre os dois deu origem ao Cartão Amarelo, charge diária com tema voltado para os esportes. Em 1988, a dupla Everaldo/Edmar estreou na TN.

Alegre, expansivo e generoso, Edmar foi um dos primeiros a participar do Grupehq, criado em 1975 por Emanuel Amaral. Entusiasta da proposta de produzir HQ’s com temas e personagens locais, colaborou com as revistas Igapó, Maturi  e a revista do grupo. Em 1980, criou o personagem “Pivete”, um menino das favelas natalenses, que dava voz à crítica social e de costumes da cidade. Na TN, Edmar também assinou as charges políticas da editoria de Opinião e ilustrações de reportagens, artigos e cronicas culturais.

Antônio Amâncio de Oliveira Filho ( veio para a Tribuna do Norte em 2009. Natural de Macau, antes da estreia na imprensa natalense, já tinha conseguido publicar charges na revista Veja, Caros Amigos, Revista da Semana e em O Pasquim 21, além de militar na imprensa sindical. Teve trabalhos premiados em vários salões nacionais de humor, como o Paraguaçu Paulista de 2005 e o de Ribeirão Preto em 2009. Também rcebeu menções honrosas e foi publicado em coletâneas internacionais de cartunistas na Turquia, Portugal, Itália e Grécia. Amâncio deixou a TN em 2012. No ano seguinte, faleceu vítima de uma acidente automobilístico.

Rodrigo Serra Brum Machado, 37 anos, é de Maricá (Rio de Janeiro), e começou trabalhando com ilustrações aos 17 anos. Segundo ele, “encomendas” para fazer charges sempre apareciam “ entre um trabalho ou outro, mas nada sério”. Em 2000, ele formou-se em Publicidade e Marketing,  pela ESPM-Rio. Em 2012, veio para a Tribuna do Norte.

O primeiro trabalho como chargista, com alguma repercussão, foi em 2001. “Após o atentado das Torres Gêmeas, em Nova York, tive a minha primeira charge publicada em um veículo de comunicação. O site Charge On Line (que reúne chargistas de todo o Brasil e onde ainda publico). Foi daí que começaram a me olhar mais como chargista do que como ilustrador. Mas virei profissional mesmo, com o nome “chargista” na carteira de trabalho em 2006 quando me mudei pra Natal e comecei a trabalhar no extinto Correio da Tarde”, lembra Brum.

Admirador confesso de Henfil, ele também admite influência do quarteto Ota, Laerte, Glauco e Angeli, fundadores da revista Chiclete com Banana e criadores de uma lista de personagens. “Muita gente nem olha tanto pra eles como “chargista” e mais como “cartunistas” (sim, existe diferença). Se hoje vivo disso, pode culpar os quatro. E claro, quando estando no meio vamos conhecendo outros que admiramos e acabamos nos espelhando. Dessa galera posso destacar três que sou fã de carteirinha: Nani, Dálcio Machado e o Aroeira”, acrescenta Brum.

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