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Os Dois Franciscos

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Frei José Soares da Silva – OFM Cap
Congregação dos Frades Capuchinhos – Natal

‘O Papa Francisco tem se revelado uma das figuras mais carismáticas do momento atual da história: inspiradora de humanismo terno e fraterno, que vai além dos limites do cristianismo e dos povos” (Boff, L., Francisco de Assis e Francisco de Roma, ed. Mardeideias, 2ª. ed., Rio de Janeiro 2014, p. 9). Francisco de Roma reflete, nos seus ensinamentos, gestos, maneira de ser e anseios, muito do espírito que animou e marcou a vida do jovem convertido e santo de Assis, Francisco (1181/2-1226), empolgado com o inusitado apelo do Crucifixo de São Damião que, chamando-o pelo nome, assim falou: Francisco, vai e restaura a minha casa que, como vês, está toda destruída (2Celano, 10,4).

“Francisco de Roma quer imitar o Francisco de Assis: o irmão universal, irmão dos mais pobres e dos pobres, mas também, o irmão do Sol, da Lua, de todos os seres vivos, da morte e até do feroz lobo de Gubbio” (Idem, Ibidem, p. 9). Falando numa entrevista coletiva aos jornalistas – na Aula Paulo VI, aos 12 de março de 2013 – com simplicidade explicou o motivo da escolha do nome Francisco, primeiro fato na longa história do papado. Lembrando o apelo do Cardeal Cláudio Hummes, que lhe sussurrou no momento da eleição: “Não te esqueças dos pobres”, o Papa Francisco afirma: Em seguida, em relação aos pobres, pensei em São Francisco de Assis. Depois pensei nos pobres e nas guerras. Durante o escrutínio, cujo resultado das votações se punha ‘perigoso’ para mim, veio-me um nome no coração: Francisco de Assis. Francisco, o homem da pobreza, da paz, que ama e cuida da criação, um homem que transmite um sentido de paz, um homem pobre. Ah! Como gostaria de uma Igreja pobre e para os pobres.

A partir dos fatos marcantes que pontuam os seus dois primeiros anos de pontificado, “o papa sinaliza profundas transformações que poderão inaugurar o terceiro milênio da Igreja Católica”. Será uma nova primavera para a nossa história cristã, com reflexos positivos sobre toda a sociedade? Esperamos que sim! Sintamo-nos convidados para esta maratona da vivência e do exercício da compaixão, do cuidado, da misericórdia e do amor, sem excluir a própria natureza, a nossa casa comum. O “Poverello” de Assis, com o seu espírito “todo católico e apostólico”, viveu também essas realidades. Francisco de Roma e Francisco de Assis se aproximam, se irmanam.

Como nos tempos de Francisco de Assis, “a Igreja vive num mundo ferido, de pessoas feridas”. Importa falar-lhes de Cristo, irrupção do amor salvífico e libertador do Pai, doador de todas as benesses. E, com amor misericordioso, o Papa Francisco pensa em quem se sente ferido, mergulhado nas trevas, à procura de luz. Daí anunciar que Cristo é a salvação e que exige uma resposta de salvação; que a Igreja continuará, com ternura e vigor, apontando o perigo das distorsões morais, mas, em contrapartida, oferecendo, qual mãe e mestra da verdade, pistas de saída, veredas de solução, de superação.

Nessa recém-encerrada viagem missionária a Cuba e aos EUA, a mais longa entre muitas outras até agora empreendidas, “o pontífice confirma a sua estatura de estadista, enquanto prepara novos lances renovadores”. Peregrino da misericórdia, líder mundial exclusivo, capaz de demolir muros e lançar pontes, foi o “protagonista de um degelo que há meio século separava dois países geograficamente muito próximos, mas tornados antípodas por ideologia, cultura, desenvolvimento econômico e tecnológico” – Cuba e EUA. Em face aos políticos estadunidenses, não temeu tocar em dois assuntos melindrosos: a defesa do meio ambiente e a questão dos refugiados. Foi aplaudido 36 vezes. Junto aos bispos, tocou no delicado assunto da pedofilia, louvando o “generoso empenho” deles, mas, sendo incisivo ao afirmar: “Estes crimes jamais se repitam”.

Francisco de Assis do Cântico das Criaturas ou Cântico do Irmão Sol (1224) “caminhou num mundo bem diferente do mundo moderno, mas seu modo de construir a vida e a convivência provoca até hoje um entusiasmo, que mostra a proximidade que há entre o Francisco da Idade Média e as pessoas de hoje” (Leers, B., Francisco de Assis e a moral cristã, ed. Vozes, p. 10).

“Oxalá o Papa Francisco de Roma [da Laudato Sì – 2015] em sua prática de pastor local e universal honre o nome de Francisco e mostre a atualidade dos valores vividos pelo Fratello e Poverello de Assis. Ele é fonte viva de inspiração e de práticas humanitárias e profundamente ecológicas” (Boff, L., Ibidem, p. 57). O revolucionário documento papal cobra redobrado cuidado pela nossa casa comum. Gesto enobrecedor!

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