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Os donos do poder

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Vicente Serejo

Visto assim, de longe, não parece que tenhamos nos libertado do velho patrimonialismo que sempre lastreou a formação do poder político ao longo de cinco séculos. Ainda vivemos sob o peso d’Os Donos do poder, para usar a bela expressão de Raimundo Faoro na sua obra magna. Tão indispensável e definitiva quanto ‘Casa Grande & Senzala’, de Gilberto Freyre; ‘Raízes do Brasil’; de Sérgio Buarque de Holanda; e ‘História Econômica do Brasil’, de Caio Prado Júnior.

A rigor, em essência, nunca nos afastamos, de fato, daquele Brasil patriarcal de Gilberto Freyre ao revelar, com seus olhos eruditos, a civilização do açúcar. É tanto que vivemos entre a casa grande, hoje representada pelo palácio presidencial, e as senzalas, num processo feroz de guetização da sociedade brasileira e seus muitos guetos. Das favelas dos grandes centros urbanos, como Rio e S. Paulo, às invasões faveladas que se alastram usinando a nova e eterna pobreza.

Esse Brasil partido ao meio e exacerbado pela polarização dos dias contemporâneos, com suas raízes cinco vezes secular, tem sido o húmus sobre o qual se renova a transmissão do poder sem perspectiva real de mudança. O método do auxílio – regular no Bolsa-família e emergencial agora na peste do Coronavírus – são indispensáveis a quem tem fome e desemprego, mas exercem sobre a estrutura social uma forma forte de manutenção do embate de incluídos versus excluídos.

Não interessa a uma classe política de fundo patrimonialista, nem mesmo interessou ao próprio PT, o Partido que tem nos Trabalhadores sua nomenclatura e sua clientela. Mais: não foi por outro motivo o até hoje imperdoável desagrado provocado pelo educador Paulo Freire com seu método que buscava o princípio básico de fazer da educação uma prática de libertação. Seria correr o risco de conscientizar, o que fere os donos do poder. Temem perdê-lo para a liberdade.   

O que hoje oferecemos como o novo é, exatamente, o que temos de mais retrógrado, agora embalado no verde e amarelo de um falso patriotismo, quando se sabe que a verdadeira pátria, como conceito e como prática, não é bem essa nova casa grande que distribui auxílios, mesmo que chegue na forma de cifras bilionárias. Apascentam, é bem verdade, mas não transformam o quadro de pobreza. Ao contrário: aprofundam a necessidade e valorizam ainda mais as esmolas.

E há os que não respeitam o papel cristão da Igreja ao assumir a defesa dos desprotegidos, dando-lhes voz, ao menos. Esse sempre foi seu papel, taxem de progressista ou comunista, como queiram acusá-la. Falsificam o debate e o fazem temendo que os movimentos sociais lutem por direitos. Uma instituição não resistiria há mais de dois mil anos, entre ditaduras e democracias, se não fosse capaz de se manter acima de todos regimes e vencendo suas próprias contradições. 

Força
Uma fonte, tão logo a coluna circulou, ontem, pôs em dúvida que o governo sozinho consiga tirar dois deputados para aprovar, com quinze votos, a PEC da reforma previdenciária.

Quem
Na opinião da mesma fonte, a governadora Fátima Bezerra não estaria disposta a fazer concessões e a saída é buscar a força do presidente da Assembleia, deputado Ezequiel Ferreira.

Mas

Também admitiu que é arriscado o jogo da governadora. Se negociar, ela mesma, sairá com os frutos da negociação. Se for o presidente da AL, será dele o mérito. Uma sinuca de bico.

Bi
A informação precisa está no TL, no texto do médico Domício Arruda: o faturamento da Unimed em 2019 ultrapassou um bilhão de reais. Ainda com sobra, para rateio, de R$ 38 milhões.

Espelho
É o melhor plano de saúde cooperativado, sem dúvida. Mas a sua robustez não se reflete bem na qualidade do atendimento: burocratizado, restritivo e filas. Já os vivi na prática.  

Aliás

No cooperativismo brasileiro, e vem de longe, o associado não tem direito a voz nem a voto. Tem a obrigação de pagar em dia. Como se uma cooperativa não fosse um bem de todos.

Blefe

Esta TN mostrou que a violência, pelo menos no RN, não matou mais do que a covid Mais um mito que a pandemia derruba de quem quer justificar erros cometidos desde o início.

Desdém
De Nino, o filósofo melancólico do Beco da Lama, desdenhoso, ao sentir o veneno de um companheiro de mesa: “O cretino é aquele que faz, exatamente, o que critica nos outros”.

Estilo
O coronel-deputado André Azevedo, no seu estilo sempre deselegante, deu mais uma triste aula de indisciplina a seus soldados quando, fardado, dirigiu-se de maneira inadequada à governadora que, na condição, constitucionalmente, é comandante-em-chefe da Polícia Militar.

Pior

Mais triste ainda foi a aula do diretor do Instituto Federal ao convocar a Polícia Militar numa demonstração de intolerância, autoritarismo e incapacidade de negociação. Ali não é lugar de repressão. Submeteu a PM ao constrangimento numa instituição séria de natureza educacional.

Triste
Certeira a declaração do ex-deputado Fernando Mineiro. São lamentáveis os dois gestos: o autoritarismo do diretor do IFERN e o populismo castrense do coronel, escudado na liberdade que a democracia garante. O mandato de deputado garantiu sua fala, não sua patente.  
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