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Os feitos do Monsenhor

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Ramon Ribeiro
Repórter

Homem de estatura mediana, nem magro, nem muito robusto, pele clara, olhos azuis. Nascido em Caicó, Monsenhor Walfredo Gurgel (1908-1971) era um seridoense típico, de hábitos simples e bastante culto. Sacerdote virtuoso, educador idealista e político realizador, foi uma figura emblemática da história potiguar, tendo sido governador do Rio Grande do Norte entre os anos 1966 e 1971. Foi esse perfil de chefe do estado que o escritor e advogado José Daniel Diniz retratou no livro “O Governo do Monsenhor Walfredo Gurgel”. A obra será lançada nesta sexta-feira (2), a partir das 18h, no Clube de Rádio Amadores (Tirol).
O autor do livro José Daniel Diniz é sobrinho do sacerdote e ex-secretário da Fazenda na gestão do Monsenhor Walfredo Gurgel como governador
Sobrinho e secretário estadual da Fazenda no seu governo, José Diniz diz que o objetivo da publicação é servir como um registro histórico. “Sabe-se muito pouco sobre os detalhes da história política do Rio Grande do Norte. Acredito que o livro é a oportunidade para as gerações mais novas conhecerem como as coisas antigamente eram diferente”, comenta.

O autor pretendia lançar o livro no centenário de nascimento do tio, celebrado em 2008. “Esbocei o livro mas faltou tempo para concluí-lo”, diz. Mais afastado das demandas de advogado, foi de 2015 para meados de 2016 que Diniz se debruçou com mais dedicação as pesquisas e aos escritos.

Para as pesquisas, o autor mergulhou nos arquivos do Diário Oficial do Estado, onde encontrou material da época que ele podê juntar com as informações de quem conviveu de perto com Walfredo Gurgel e atuou em seu governo. “Monsenhor foi um grande realizador. Identifiquei as datas de inauguração de 123 obras de seu governo”, aponta.
Regilioso, educador e figura emblemática da política potiguar, a gestão do saudoso Monsenhor Walfredo Gurgel como governador será revista em livro
Dentre as principais obras de sua gestão, ele cita a construção da primeira ponte de concreto sobre o Rio Potengi. “Naquela época existia uma ponte de madeira improvisada sobre a ferrovia. Só se passava um carro por vez, era um transtorno. A construção da nova ponte possibilitou maior desenvolvimento para a Zona Norte. Depois, no governo de Geraldo Melo, a ponte foi ampliada”, comenta.

Com destacada atuação no campo da educação, foi Walfredo Gurgel quem inaugurou a Biblioteca Câmara Cascudo, há quatro anos fechada para reformas que somente agora parece que vai ser definitivamente realizada. O seridoense também foi o responsável por levar energia da Usina de Paulo Afonso para 59 cidades do RN. Outra de suas obras foi a construção do primeiro Pronto-Socorro de Natal, inaugurado no governo seguinte – que com o falecimento do Monsenhor, ganharia o nome de Hospital Walfredo Gurgel.

Para Diniz, uma das maiores marcas de gestão do tio foi saber superar o radicalismo numa época de acirramento das disputas entre as lideranças políticas do estado, polarizada entre os seguidores de Aluízio Alves e os de Dinarte Mariz. Indicado por Aluísio, do grupo político Cruzada da Esperança, Monsenhor foi eleito com 9,5% de diferença para então senador Dinarte Mariz, na que foi a última eleição direta para governador até 1982. “Sua gestão teve uma oposição moderada. Ele rompeu com uma prática antiga na política brasileira de perseguir os adversários”, avalia.

De acordo com Diniz, por causa do cerco dos militares, o gestor teve pouca margem de governo. “Monsenhor não tinha prestígio com os militares. Mas isso não quer dizer que ele foi hostilizado. Apenas sua atuação que ficou limitada, já que só tinha os recursos do próprio estado para aplicar na realização das obras”, conta.

Na opinião do autor, uma das razões do sucesso de Walfredo Gurgel como governador foi a sua simplicidade. “Monsenhor não era autoritário, embora soubesse assumir as posições importantes de forma firme”, afirma. “Até por ser padre, não gostava de muito oba oba. Tanto que não fez um governo festivo. Seu governo foi mais de paz e ações”.

Walfredo Gurgel faleceu meses depois de concluir sua gestão, em 1971. “Assim que terminou o governo, ele fez uma viagem para a Europa com os amigos. Ao voltar, começou a sentir dores. Ele achou que era reumatismo, fez os exames e foi constatado um câncer em estado avançado”, explica.

RELIGIÃO X POLÍTICA
“Monsenhor sempre foi muito vinculado a Igreja. No dia de sua posse, na revista da tropa da Polícia Militar, ele passou acompanhado de dom Nivaldo Monte, arcebispo de Natal”, lembra Diniz sobre o tio, que, mesmo governador, não deixou de celebrar missas aos domingos na Catedral.

“O monsenhor dedicou uma grande parte da sua vida à política, mas nunca usou a igreja para suas ações”, afirma o autor. “Hoje a gente vê essa mistura entre política e religião de forma explícita no cenário nacional. Sabemos que há um objetivo por trás. Mas não condeno, porque num estado democrático, todos tem o direito de participar”.

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