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Os gansos eram 5

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Vicente Serejo
[email protected]

cena urbana

Napoleão Veras, herança da infância e médico, deveria ter sido mais cuidadoso com a vida perigosa deste amigo hipertenso, no beiço dos setenta, que engole um betabloqueador todo dia para seu coração viver em paz. Eis o seu belo texto sobre a lembrada casa, nossa Combray proustianamente perdida, formal de partilha de uma saudade mágica.

A foto da praça apareceu neste animado grupo de zap, e me deixou de joelhos. Tanta beleza e estranhamento que meu filho Daniel imaginou tratar-se de elegante espaço de alguma cidade americana.

Sob a emoção pelo que estava revendo, escrevi um textículo que partia da praça, ia ao ‘jardim de infância modelo’ e retornava, adentrando a casa da juíza, numa espécie de volta ao mundo dos meninos da Praça Pedro Velho – em duas centenas de caracteres, se muito.
Aí entra Vicente, sesmeiro dessa nostalgia, e joga luz sobre as coisas soterradas – pátina, poeira, olhares guardados em décadas.

Então, o menino compenetrado, bem menos falante que hoje, estava a gravar em minúcias o que ali existia e o que se passava?

Nada lhe escapou aos olhos e à memória. Os objetos, a ambientação da casa, seus interstícios, as ocasiões, os gestos, os vestidos da lua da infância, a sensualidade exalada, o arabesco das cadeiras com suas rosas de ferro, a alma que habitava o lugar.

E o olhar fluido, proustiano, a filmar tudo.

De repente me vem García Márquez falando sobre a grande literatura da romancista catalã Mercè Rodoreda, do incensado ‘A Praça do Diamante’:

‘Um escritor que ainda sabe como se chamam as coisas tem salvação para metade da sua alma’.

Recriar aquele universo. Narrá-lo, como se fosse uma criação literária, em seus elementos mágicos e ambíguos, vizinhos da ficção, mas, magistralmente não, pois embora passeie pelas franjas do sonho e flerte as aparências, os elementos de sua narrativa não se afastam do real.

Dou fé.

Desde sempre a casa retorna às nossas conversas. A Praça e a casa, quem era extensão de quem?

Gravitávamos ao redor do cartão postal da cidade. Das fotos obrigatórias de família. Da diversão de fins de semana. Como entender a extensão de atos administrativos que arrebentam as cidades, a história delas e das pessoas, seus afetos, sua memória, em nome de uma modernidade de araque?

Se identificar as bases do afeto é tarefa quase impossível a qualquer um, dúvida não tenho de que aquele universo, real e fantástico, com aura da qual não esquecemos sequer os detalhes, está na base da nossa estima.

Sim,Vicente, Themis lhe manda confirmar que os gansos eram 5.

AVISO – O governo avisou que o óleo derramado nas praias não vai afetar o turismo no Rio Grande do Norte. Com efeito. O que afeta mesmo, há vários anos, é a gestão do trade oficial.

NUNCA! – A poetisa Diva Cunha chegou. Não rezou no Vale de Los Caídos. A tanto prefere cair na sarjeta. Mas tomou bons goles na Espanha, Holanda e Portugal. O que fez muito bem.

PESSOA – Quanto aos versos citados aqui, de Miguel-Manso, Diva identificou com precisão: são de Fernando Pessoa. Manso não citou autor, usou certamente como realce. Coisa de poeta. 

GARGANTA – Só milagre – e dinheiro em terra pobre é milagroso – faz a governadora Fátima pagar  algum centavo das três folhas que o governo deve há mais de um ano. O quadro piora. 

ABISMO – Entre 30 de novembro e o quinto dia útil de janeiro, coisa de 35 dias corridos, são três folhas de 2019: novembro, dezembro e décimo-terceiro, este sem provisionamento prévio.

BOIS – Do filósofo do Beco da Lama alisando as sobrancelhas e olhando as fotos da Festa do Boi: “Eles são os mesmos, nos mesmos cargos, no mesmo e cínico cortejo de cada governo”.

PRÊMIO – O romance ‘Paradeiro’, de Luís Bueno, publicado pela Ateliê, recebeu o primeiro lugar do prêmio literário da Biblioteca Nacional que hoje contempla nove categorias literárias.

AINDA – O prêmio de ensaio foi para ‘Maquinação do Mundo: Drummond e a mineração’, de José Miguel Wisnick, edição  da Companhia das Letras. O ferro na grande poesia do itabirano.

OMISSÃO – É injustificável a não homenagem, em caráter póstumo, à govenadora Wilma de Faria, por tudo quanto ela fez ao longo de dois governos em favor do “Parque de Exposições Aristófanes Fernandes” e que seus auxiliares lembram a esta coluna como forma de protesto.

ROL – Construiu 96 baias para cavalos, dois pavilhões de bovinos, pista de julgamento para caprinos e ovinos, pavilhão do torneio leiteiro, alojamentos para técnicos e tratadores, custeio da conta de energia, ajuda nas exposições agrícolas, parque de Caicó e a Criação do IDIARN.

INJUSTO – A omissão da homenagem póstuma a Wilma de Faria não é em razão da velha máxima – ‘Rainha morta, rainha posta’ – afinal, a hoje governadora Fatima Bezerra ainda nada pode fazer pelo Parque. É a Assembleia e a Anorc, juntas, num esquecimento que ficou feio.

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