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Os livros seduzem

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Lívio Oliveira
Advogado público e escritor

POR QUAL RAZÃO os livros reunidos seduzem tanto? Quanta força visual, quanto cheiro de história e de memórias ancestrais! O tato suave ingressa entre as folhas, entre as capas e suas texturas, os olhos entre os textos, nos músculos das capitulares, na pele lisa das palavras que voltam às bocas e ao centro do mundo, o umbigo de tudo. Aí é o livro solto e que vibra entre os demais milhares.

Viver entre os livros, optar por essa viagem sem fim, manter-se nessa floresta de mistérios, surpresas, sustos e deslumbramentos, todos os riscos a correr. Não há razão e nem instante para a desistência. A fé e a paixão obstinada mantêm o desejo nos trilhos e engendra coleções, raridades, descobertas e invenções. É a opção de vida, opção do ser. Também do ter e manter, que se situam na ordem real da aventura eleita.

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ORDEM NA BIBLIOTECA é a tentativa, após cada viagem e cada retorno. Após a desordem das ideias em face dos desafios que se impõem no tempo. Reingresso nas horas dos meus livros, meus amigos, meu silêncio, que é como deitar na areia úmida da praia durante uma neblina.

Minhas marcas ficam na areia, a areia fica no corpo, o corpo se reúne à alma, novamente. E o olho fita o céu, onde há uma lua que seduz e acalma.

Cercado pelos meus velhos livros, sinto que é assim que tudo (se) passa. E prossigo na estrada, agora com mais calma e num ritmo constante e sem pressa.

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ATÉ PARECE FÁCIL, mas colocar ordem nos livros é tarefa de organizar a própria vida, definir prioridades, escolher amigos, calcular riscos, efetuar descartes e abandonar excessos que não tragam qualidade e não sejam dignos da composição do conjunto, da obra lida e mantida, em evolução, como a obra que se escreve e só termina no dia certo.

O passeio em meio aos autores colocados nas prateleiras dos sonhos, entre as nuvens de palavras que levitam diante do olhar morno da tarde. Todos esses sentidos potencializados nas tábuas imemoriais da biblioteca gigantesca e imaginária (e outra muito autêntica, menor). As mãos apertando o couro pleno – ou o cartão duro – dos livros antigos (antes indevassáveis e indecifráveis), o nariz que se aproxima e retém partículas do tempo e de várias vidas: tudo é tato firme e sentimento maiúsculo. O livro é objeto amoroso exposto à exploração sensual e mística dos dedos e das retinas. E da cola da alma.

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