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Os onze supremos

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Tomislav R. Femenick
Jornalista e historiador

Quando eu era jovem (faz tempo…), não havia televisão aqui no Rio Grande do Norte. Tudo que acontecia no Brasil afora, e mesmo no mundo, era-nos trazido pelas ondas do rádio. Ficávamos de ouvidos antenados naqueles grandes aparelhos modelo capelinha ou nos rádios portáteis japoneses, os rádios-transistores, a grande novidade.

Os sons dos programas de auditório, humorísticos, os grandes cantores e cantoras e os jogos de futebol nos encantavam. Porém o futebol era a grande atração. Estou falando da segunda metade dos anos 50 do século passado – Meu Deus, para que fui mexer com reminiscências? Como estou tão velho e não tinha notado? C’est la vie.

Em Mossoró não era diferente, mas com uma peculiaridade: de cada 100 pessoas, 101 torciam pelo Flamengo. Isso tudo graças a Dequinha, o craque mossoroense que jogava de center-half – hoje centro avante – no time carioca. Criou-se uma legião de fanáticos. Lembro-me de que quase lotaram um avião, para ir assistir à partida final do campeonato carioca de 1955, lá no Rio de Janeiro.

Se Mossoró tinha uma feição intuitiva pelo Flamengo, o Brasil tinha uma paixão incontida pela nossa seleção. Quando a seleção canarinha jogava, nós nos esquecíamos da inflação (na época chamada de carestia), instabilidade política, governo militar, o bota-fora de Collor, as vaciladas tucanas. Ah, como era bom ser campeão do mundo. Isso na época de Pelé, Garrincha, Rivellino, Rivaldo, Tostão, Zico, Carlos Alberto, Zagallo, Roberto Carlos, Didi, Bellini, Romário, Ronaldinho Gaúcho e tantos, tantos outros. Vencemos cinco copas: 1958, 1962, 1970, 1994 e 2002. Mas… tivemos uma derrota acachapante: 7 a 1 para a Alemanha. O pior é que foi em casa, no Mineirão, em uma Copa organizada pelo Brasil, em 2014.

De lá para cá os jogadores já não mais são craques, são estrelas; não se preocupam com o “prumo do pé”, mas com a marca da chuteira; não querem ter uma visão geral do jogo, querem que vejam os novos cortes e as novas pinturas dos seus cabelos; não querem contato com a torcida, baixam as abas dos bonés e botam fones de ouvidos, na certa para não ver nem ouvir os torcedores. Talvez por essa desfaçatez é que, hoje, quase ninguém sabe dizer de cor e salteado (olhe eu aqui mostrando outra vez que estou ficando velho) os nomes dos onze titulares da seleção.

Porém nem tudo está perdido. Em compensação hoje todo mundo (dizia um professor meu: em sociologia “tudo mundo” quer dizer “quase todo mundo”) sabe os nomes e reconhece as imagens dos onze integrantes da colenda corte que é o STF-Supremo Tribunal Federal. Não sei se os conhecemos pelos seus méritos ou desacertos; por suas ilibadas sentenças, ou por suas licenças jurídicas baseadas em entrelinhas que somente os iluminados veem; pela conduta pessoal de alguns dos ilustres, ou pelos deslizes que eles cometem.

Por outro lado, suas excelências criaram um mundo próprio para viver: quando vão sentar, há que haver um valet de chambre para empurrar a cadeira; as suas refeições hão de ter o melhor do melhor, inclusive vinhos estrelados, premiados pelos menos três vezes. E aí daqueles que os considerem serem humanos normais e os tratem como tal; serão reprimidos ou simplesmente ignorados, mas sempre denunciados como transgressores.

Enquanto isso, suas senhorias não aparentam ser tão límpidos assim. Deus e todo mundo já sabe que o deus José Antônio Dias Toffoli não possui saber jurídico algum, haja vista as duas últimas enrascadas em que se meter: proibiu o Coaf (atual UIF) e a Receita Federal de fornecer dados de fraudadores aos órgãos de investigação (MP e PF) e teve que recuar; leu um voto que tomou uma sessão inteira do STF e ninguém entendeu nadica de nada – por isso ganhou o epíteto de “o homem que fala javanês”. Nem ele entendeu, por isso voltou atrás. 

No final do governo Dilma, uma filha do ministro Marco Aurélio Mello e outra de Luiz Fux, ambas sem pós-graduação, foram nomeadas desembargadoras. Uma no Tribunal Regional Federal, na capital fluminense, e outra no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Dizem que nessa história há DNA dos pais. 

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