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Os Pecados da Carne

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Luiz Alfredo Raposo
Economista

Ética é pensar nas consequências. Fazer ou deixar de fazer, se e só se for para a felicidade geral e o bem de todos. Fico pasmo, ao aplicar esse critério de Pedro I à Operação  Carne Fraca. Admirável seu padrão investigativo, mostra o “conto do moído de papelão”. Depois, uma professora foi ao JN só ensinar que não dá pra misturar celulose e produtos cárneos, o cristão iria refugar ao primeiro bocado… Tudo para esclarecer de vez: a famosa gravação tratava era de embalagem, não de mistura…

Admirável, também, a evidência técnica: dois laudos num universo de mais de quatro mil unidades. Pressa de concluir, concluir-se-ia. E malcasada com ela, uma vontade doida de cinema: a chance ofertada à mídia de rodar um seriadozinho de ação. Armas, helicópteros, prisões e buscas, descoberta de facções e contrafações. No fim, todo mundo e o mundo todo convicto de haver mesmo algo podre, no reino da carne brasileira. Só faltou a vítima fatal: alguém que, provadamente, comeu e morreu. Carne, salsicha, presunto… Mas depois se soube que os malsinados conservantes e “maquiadores” são, em princípio, inofensivos e autorizados pela lei sanitária. E gente da própria PF (de uma associação de delegados e de outra, de peritos) desaprovou o modus operandi da operação. 

Seria cômico, não fosse trágico. As autoridades agora arrocham e estão roucas de repetir ao mercado externo (20% da demanda) o “não é nada disso”. Claro. O setor integra, faz tempo, um sistema internacional. E sofre auditorias de qualidade diárias dos clientes, uns fanáticos da compliance. Não adiantou, nem adianta. Em hora assim, exporta-se um pânico que paralisa, governo algum quer parecer distraído. Vieram os embargos e sobrou geral: para os frigoríficos, que agora não têm como estocar o que “boiar”; para os empregados que já estão sendo despedidos; para os granjeiros, que não lograrão reter sem sacrifício de capital os animais em ponto de abate; para o governo, que vê cair a arrecadação; para a receita cambial a minguar; para todos enfim. O embrulho está feito e o ministro Maggi o avalia em U$ 1,5 bilhão. Nonada para um país nadando em mar de rosas. Prêmio merecido a uma das raras indústrias que vinha vencendo a crise…

O resumo da ópera é que a intenção foi nobre: barrar a ação de malfeitores. Mas tanto não basta a intenção e é preciso juízo no agir, que o custo social está sendo desastroso. Mais umas dez boas ações dessas, e o Brasil vai pro beleléu… Começa por seu aparelho policial-judiciário, joia de que as pessoas talvez entrem a duvidar. As de índole filosófica desconfiarão: há, lá dentro, só pode ser, alguém que quer desmoralizar a moralidade. Os cordiais quem sabe indaguem a uma nova “força-tarefa”: veio combater corrupção? Ou só competir, mostrar que consegue também tirar aquela foto ao lado do leão abatido?

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