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Os que ainda tripudiam

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Ticiano Duarte
Escritor

Nesta quarta-feira da Semana Santa, que antecede a quinta- feira de trevas, dia em que minha mãe guardava sagradamente, proibindo-nos de quaisquer manifestações de alegria e festa, até que os sinos anunciassem Aleluia, Aleluia, a ressurreição de Cristo. Era o sábado que chegava alegremente com as rasgadas dos Judas e os primeiros goles que eram ingeridos logo cedo, para finalizar nos salões iluminados do Aéreo Clube.

O mundo mudou e mudaram os hábitos provincianos. Cresceu a violência, bem com o egoísmo dos homens. A lição de Cristo anda esquecida. O seu suplicio, sua Via Crucis se repete no sofrimento dos que chegam às portas dos hospitais, no dia-a-dia do trabalho, na busca do transporte coletivo, na insegurança que mata, que violenta, que estupra.

Carlos Lacerda, na grandeza do seu texto, escreveu sobre a Via Sacra, segundo a sua ótica. Fala quando Jesus é despojado de suas vestes para dizer que lhe tiraram o manto e o disputaram no jogo. Rasgaram-lhe a túnica e revelaram ao povo o corpo de Deus feito homem. “É bem fraco esse corpo que suportou o suplicio e a agonia da morte”.

Lacerda enfatiza que os que se julgam mais fortes, os que os despiam e por isto exibem a sua força opressora, “são os mais fracos de todos”. E adianta: “precisam exibir o que supõem possuir, para esconderem dos outros o que a si mesmo já não conseguem ocultar”.

O texto de Lacerda parece escrito para os dias de hoje, quando se vê diariamente a truculência dos poderosos contra os fracos e deserdados. Ele diz com sabedoria ainda que “o medo dos fortes vem da consciência que têm de sua íntima fraqueza”.

Ainda é importante observar o que Lacerda discorre, na sua visão da Via Sacra: “Jesus martirizado, este sim, é forte, porque não pertence a ninguém, não depende de nada. Desde que venceu o sofrimento, este começa a não existir. Então a fraqueza se torna forte. Os que se julgam fortes, com medo de tudo, com medo de todos, perdem toda a grandeza e se tornam mesquinhos diante do irremediável”.

Ele diz no seu belíssimo texto que “os torturadores tiveram muitos descendentes”. E os identifica: “os fracos que se fingem fortes, os insinceros, os que não ousam encarar a verdade e abraçar-se a ela. Mas ninguém conhece o seu nome. E todos se envergonharão quando souberem quem são, ao saber quem foram, naquele tarde, no alto do monte, os que riam e jogavam sobre o manto do Senhor”.

Nesta quarta-feira de reflexões, por que não dizer de tantas indagações sem respostas, lembra a figura de um dos nossos, de um grande pastor encantado, Eugênio Sales. Ele pregou inúmeras vezes que os pobres são incômodos, “mais ainda, as aglomerações de necessitados. Eu penso: quanto mais baixo descem da escala social, mais são merecedores de nossa ajuda (…). As dificuldades que o pobre, abandonado na rua, causa, não justificam os obstáculos criados aos que buscam reconstruir a imagem de Deus, deturpada pela miséria em que vive esses nossos irmãos, filhos do nosso Pai e remidos, como nós, por Jesus Cristo”.

Eugênio Sales lutou pelos marginalizados, pelos excluídos, pelos vencidos da vida. Foi uma lição de Amor que dignifica sua trajetória de Pastor.

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