quinta-feira, 28 de março, 2024
31.1 C
Natal
quinta-feira, 28 de março, 2024

Os recortes de Castilho

- Publicidade -

Fazia bastante calor quando pisei na calçada do Cova da Onça, ainda não era meio-dia de ontem. Fui até ao balcão e me socorri do jarro de refresco de melancia, gentileza do mestre Gaspar que, sentado ao lado, lia o livro de Berilo Castro, No Consultório da Memória, lançando recentemente com o selo da 8 Editora. Coloquei três pedras de gelo no copo e voltei para a calçada à espera da galera para botar o papo em dia. Do cais não soprava nenhuma brisa. Foi aí que Gaspar me chama de volta e me entregou um envelope, dizendo:  “O Castilho  deixou isso aqui na terça-feira”. Na sobrecapa de papel madeira estava escrito com tinta vermelha, letra aprumada de desenhista aposentado: “Woden Madruga – Tribuna do Norte, Ribeira – Natal, RN. Remetente: Carlos Castilho, gol kipper do ex-América – Grambell 98871/2469”.

Abro o envelope com cuidado. Lá dentro vários recortes do Jornal de WM, leituras antigas de Castilho, algumas ainda do tempo que morava em Salvador, coisa da década de 1972. Outras mais recentes, já deste século, como uma que transcrevia carta sua datada de “tanto de tanto/2002” na qual falava sobre pesquisa eleitoral e coisas que tais. Castilho conta nessa carta que, já morando na Redinha, foi procurado por  uma pesquisadora, a serviço de determinado candidato a prefeito,  que queria saber dos problemas do seu bairro, no caso, da Redinha.  Era uma pesquisa eleitoral feita pelo telefone. Transcrevo um trechinho da resposta de Castilho, cuja carta foi publicada na íntegra aqui:

“Digo para a moça de voz de aeroporto, lápis e papel na mão:

– A senhora, por gentileza, transmita ao doutor candidato que ele não precisa se preocupar com a Redinha. Aqui não estamos precisando absolutamente de nada. O padrão de qualidade da vida da Redinha já atingiu níveis somente igualados ao Canadá, Noruega, Dinamarca, pico do primeiríssimo mundo.

– Temos postos de saúde abarrotados de remédios (até genéricos), médicos, enfermeiros, dentistas, ambulâncias funcionando 24 horas, apesar de quase vazios pela ausência de pacientes. Na área de Educação, também não é diferente. Há excesso de salas de aula, professores muito bem remunerados, psicólogos, creches excelentes oferecendo conforto e alegria às nossas crianças superalimentadas”.

Mais adiante, Castilho diz que a moça-pesquisadora desligou o telefone, desistindo da Redinha. E aí ele lembra do tempo de suas férias em Lajes, contando esta nova história:

“Lembrei-me, então, dos tempos que passava as férias em Lajes, à sombra do Cabugi, idos dos anos sessenta. Lá conheci Dona Pequena, humilde e bondosa criatura que, na sua santa ingenuidade me responde quando lhe perguntei em quem ela iria votar para prefeito: “Meu fio, eu voto em quem me dá uma sandáia”.

 Afinal ao longo de anos e anos ouvindo as mesmas promessas, as mesmas mensagens salvadoras, o povo cansado chega a pensar dessa maneira. Mas não posso concordar com Dona Pequena, pois continuo acreditando que, apesar de tudo isso, eleição ainda é coisa muito séria. Saudações praianas, Castilho”.

Prêmio literário
Está previsto para o dia 10 deste mês o anúncio dos ganhadores do Prêmio São Paulo de Literatura – 2016, nas categorias “Melhor romance”, “Melhor romance de autor estreante acima de 40 anos” e “Melhor autor estreante com até 40 anos”. O Prêmio São Paulo é o mais importante do Brasil. O ganhador recebe 200 mil reais.

Entre os dez finalistas da categoria “Melhor romance” tem um escritor norte-riograndense.  É João Almino, nascido em Mossoró. Concorre com Enigmas da Primavera (Editora Record, 2015), uma das minhas boas leituras deste ano.
Concorrendo com João Almino tem dois escritores nordestinos: o pernambucano Raimundo Carrero (O Senhor Agora Vai Mudar de Corpo) e o maranhense José Santana Filho (A Casa das Marionetes).

O moçambicano Mia Couto também está entre os 10 finalistas. Concorre com Mulheres de Cinzas (Companhia das Letras).

Prêmio duplo  Se João Almino ganhar (estou torcendo por ele), o Rio Grande do Norte terá dois ganhadores seguidos do Prêmio São Paulo de Literatura. O primeiro foi Estevam Azevedo. Ganhou em 2015 com o Tempo de Espalhar Pedras. Ele é natalense, radicado em São Paulo.

Mais literatura
Gustavo Sobral, jornalista, pesquisador e escritor, está com um saite no ar, “Leia & Leia”. Diz que é “um saite para alguma história”. E ele sabe contá-las. Logo na primeira, anuncia a publicação do livro O boi Careta e a morte do cavalo baio, reunindo contos inéditos do grande Newton Navarro. O livro foi organizado por ele, Sobral, e pelo poeta Paulo de Tarso Correia de Melo.

São sete contos, o primeiro deles, O boi Careta, é datado de 1949, “anterior, portanto, a qualquer um livro de Navarro.  A edição do livro é da Editora da UFRN, ainda sem data de lançamento.

Chuva  Não se tem notícia de chuva em nenhum canto do Rio Grande do Norte nem do Ceará. Mas continua chovendo, já faz uma semana, no sul e oeste do Piauí e também no este da Bahia.  Para quem conhece os caminhos do inverno dos sertões nordestinos, essas chuvas baianas e piauienses são sinais animadores de inverno. Amém.
Ontem corria a notícia de fortes chuvas em Imperatriz, no Maranhão, parede/meia com o Tocantins, alagando a cidade. O aeroporto ficou fechado para pousos e decolagens. Não acontecia há anos.

Festa do Boi  De hoje a uma semana começa no Parque Aristófanes Fernandes, em Parnamirim, a Festa do Boi, das mais importantes exposições agropecuárias do Nordeste.

Falência 
Manchete da Folha, de S. Paulo:
“Sem limites para gastos públicos, o Brasil vai à falência, afirmou o presidente Michel Temer”.


- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas