terça-feira, 23 de abril, 2024
32.1 C
Natal
terça-feira, 23 de abril, 2024

Os retumbantes

- Publicidade -
Anote, Senhor Redator: se por artes de Deus ou artimanha do Demônio, for sugerido a este cronista a tarefa de falar, por telefone, no prazo de quinze minutos, entre uma autoridade local ou o presidente da república, preferiria tentar falar com Jair Bolsonaro. Sendo sua excelência um comedor de sanduiche de pão com leite condensado, e dado a churrasco com farofa, e, ainda, posto que estamos em ano eleitoral neste paraíso populista, ouviria fácil sua voz rascante do outro lado.
Aprendi, num texto que ganhei de Aurino Araújo, ainda no tempo das nossas conversas em Marpas, ali na esquina com o Grande Hotel, que o mundo é feito das pessoas do sim e pessoas do não. Quem é do sim só é do sim quando vive de bem com a vida. As do não, essas são invencíveis. Vivem absolutamente convencidas de que o não consagra e o sim banaliza. E, se são acometidas da velha síndrome do pedantismo, nem pensar – dizer um não é mais glorioso que a própria vida.
Há nas pessoas do não um eco tonitruante. Um espasmo cavernoso que vem do mais fundo das vísceras e jorra pelos sete buracos da cabeça, como nos versos de Caetano Veloso. É como se o próprio silêncio fosse um não. E o sim, creia Senhor Redator, fosse perigoso para quem acredita que só é importante quem nega. Os mais educados, raros certamente, ainda se lamentam, afinal é o charme da falsa humildade e não há nada mais medonho do que o falso humilde quando fala. 
O pedante não dorme, se a vaidade é a sua vigília. Fica ali, um olho fechado e outro aberto, vendo passar o cortejo dos que ele imagina menores do que a sua importância. E se acordam com o furor dos vitoriosos, jogam o sono debaixo da poltrona. Antônio Maria, o grande cronista, dizia que o rosto do ser humano se desfaz de todas as tramas quando dorme. Ele certamente, e sendo um lírico, nunca viu um pedante dormindo, suas rugas cavando no rosto os caminhos do rancor.
Já as pessoas do sim, não. São os simples e os simples são tocados de uma grandeza humana que preferem esconder o que possa, mesmo de leve, cantar fortuna. Nem sei se a um simples de verdade interessa a fortuna se é um desassossego. O simples vive simplesmente. E daí? Nega a si mesmo o direito de parecer melhor do que os outros. Pra quê, se o destino colocou nas suas mãos o ouro de viver de bem com a vida e se viver é o ouro que lhe foi dado merecer como uma dádiva? 
E se cabe confessar, e se não parece ser por nenhum temor, diria que não tenho medo dos pedantes. Tenho pena. A eles, por artes do Demônio, foi dada a maldição de não descobrirem que a vida é sublimação. Que a vida ensina nos ganhos e das perdas, posto que nunca a ninguém, nem aos santos, será dado saber de que matéria são feitos os sonhos e os pesadelos. Só os simples amam com o coração. Como se soubessem que o cérebro é a casa do prazer, mas também dos horrores… 
MÉRITO – Maria Sanali Paiva, cardiologista intervencionista e diretora do Instituto Atena, é a nova imortal da Academia de Medicina do RN. Ocupa a cadeira seis do patrono Ovídio Fernandes.
BRILHO – Doutora Sanali Paiva coordenou a pesquisa nacional da vacina Clover (para Covid 19) em todo o Brasil, e é hoje um nome com uma forte projeção científica na cardiologia nacional.
VAMPIRO – Os jornalistas Alex de Souza, da Universidade Federal da Paraíba, e Pedro Fiúza, começam a trabalhar numa sacada genial: um ensaio jornalístico sobre O Vampiro de Areia Preta.
VIDA – O Vampiro, um personagem criado por Sanderson Negreiros na página policial do Diário de Natal e tem sua morte, no imaginário natalense, com outra sacada de Cassiano Arruda Câmara. 
DRAMA – O grande instante dramático que faz a história sair do plano da ficção para ganhar sua forma viva e real, é quando o poeta Milton Ribeiro é preso pela polícia acusado de ser o vampiro.  
BUENOS – O poeta Diógenes da Cunha Lima foi visto, alegre e faceiro, na grande feira de livros de Buenos Aires. Com a mancheia, como cantaria o grande e inolvidável condoreiro Castro Alves.
SILÊNCIO – De uma fonte muito próxima ao gabinete do Palácio Felipe Camarão convencida de que o silêncio do prefeito Álvaro Dias tem método: “Ele não puxa freio de mão sem motivo”.   
CASCUDO – Esta coluna já afirmou várias vezes, mas não custa repetir como tem sido a cada dia mais evidente a má gestão das instituições públicas e privadas da obra de Câmara Cascudo como força inspiradora e indutora do turismo cultural que, por sua incúria, o Estado nunca soube fazer.
MÉRITO – Cascudo é um produto hoje nacional e internacional por seu mérito pessoal, na solidão da sua sala de trabalho, chegando pela via do talento às maiores editoras do seu tempo, mas nunca, nem depois de morto, foi valorizado e transformado numa força seminal para novas conquistas.
PREÇO – O historiador da alimentação não teve na Escola Doméstica uma consciência educadora para criar aqui um centro formador do estudo e da prática das gastronomias nordestina e brasileira. Hoje, entre os 200 livros dos 200 anos da Independência, é o último colocado com apenas um voto. 
- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas