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Os vazios do isolamento

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Ivan Maciel de Andrade                                                                                              
Procurador de Justiça e professor da UFRN (inativo)
Há diversas formas de se proteger das incertezas e inseguranças que assediam os mais fleumáticos e fatalistas diante dos riscos criados por essa apavorante e devastadora pandemia que mudou a forma de viver e conviver da humanidade. Uma boa estratégia é não ficar absorvido pelos noticiários que divulgam diariamente as estatísticas de infectados e de óbitos: fechar-se em ocupações e preocupações que suspendam por algum tempo os acontecimentos do mundo exterior. Para isso, a receita varia de acordo com o gosto e as preferências de cada um. Há quem opte pela leitura – e não faltam livros nas áreas da ficção (dos clássicos mais antigos aos últimos lançamentos), da biografia, das pesquisas históricas, do ensaísmo literário, da divulgação científica, da autoajuda, da literatura erótica. Mas, admitamos – não só de livros sobrevivem os confinados.
Existe também a música. Pouco importa o gênero musical: do erudito ao popular mais simples, difundido e propagado exaustivamente pelos vídeos compartilhados no YouTube e pela TV. A música se comunica com a sensibilidade de forma direta, imediata e intensa. As pessoas se transfiguram, se comovem, se exaltam, se humanizam. A música dá voz aos sentimentos essenciais: amor, saudade, encontros e desencontros existenciais, busca da felicidade, paixão pela dança (representada por Terpsícore da mitologia grega). Certo tipo de música poderia ser a linguagem divina, se a divindade quisesse se comunicar com os humanos. Através dela imergimos numa região imaginária, onírica, que permite entrever os mistérios insondáveis da vida e da morte. 
Mas não só os livros e a música podem preencher os vazios do isolamento. Há também os prazeres da comunicação virtual. Muitos se renderam às exigências da civilidade suscitadas pela pandemia e adotaram um tom ameno, compreensivo, tolerante de relacionamento nas mídias sociais. Outros ainda continuam esbravejando seu ódio e sua polarização. A verdade, entretanto, é que os contatos se tornaram de modo geral mais amistosos e amigáveis. Mas a própria pandemia, de vez em quando, provoca controvérsias e conflitos ideológicos. O exemplo maior: o presidente Bolsonaro, copiando Trump, ideologizou o tratamento da Covid-19, um assunto de natureza estritamente médico-científica. Sabem por quê? Porque esse é o ambiente político que ele entende indispensável para manter fiel a fatia do eleitorado que o apoia e assegurar a reeleição em 2022.
Há ainda os filmes, oferecidos em várias plataformas, com muito bom leque de escolhas e a preços razoáveis. E, por falar em dinheiro, não podem ser tratados com indiferença os milhões de desempregados, de excluídos, de lúmpens, de párias sociais. Não são a caridade e a solidariedade, por mais nobres que sejam, que vão resolver os problemas de subsistência e de preservação do mínimo de dignidade desse segmento injustiçado e desamparado da sociedade. Um segmento que se multiplicou tragicamente com a pandemia. O Poder Público tem o dever de retirar da pobreza e da miséria essa enorme parcela de brasileiros através de políticas ousadas, prioritárias, eficazes. 
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