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Ouro de tolo

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Thiago Gonzaga, escritor

Diz a lenda que depois de pronunciar a famosa frase I want to be alone (eu quero estar sozinha) a estrela do cinema Greta Garbo (1905-1990), abandonou Hollywood e se recolheu  a solidão até  a sua morte,  transformando-se num mito. Evidentemente, a famosa atriz sueca não foi e nem será a única celebridade a fugir dos refletores e preferir a solidão no anonimato; ela apenas faz parte de uma seleta galeria de estrelas, cujas atitudes muitas vezes não compreendemos, mas, que optaram por um estilo de vida recluso, quase antissocial.

Em tempos de internet, onde milhares de pessoas são capazes de fazer de tudo por alguns minutos de fama, outras decidem sair de cena, algumas no auge do estrelato, deixando para trás todo o glamour e toda a notoriedade que acompanham a vida artística.

Greta Garbo é um exemplo clássico da renúncia à fama; abriu mão da carreira em pleno êxito, preferindo anonimato. Foi em 1941, que ela anunciou que estava se retirando de cena. Jurou que nunca mais voltaria a um set de filmagem e cumpriu a promessa. A reclusão só fez aumentar o mito.

No final dos anos 20 e por toda a década de 30, ela recebeu diversas críticas elogiosas e indicações ao Oscar de melhor atriz, todavia não ganhou a estatueta. Sem dúvidas um dos seus maiores sucessos nas telas foi Grande Hotel (1932), lembrando a famosa frase dita pela atriz, “I want to be alone”. Curiosamente, já no topo da carreira artística, não gostava de dar entrevistas, recusava-se a pedido de autógrafos e não dava muita atenção aos milhares de fãs, também não era adepta de festas nem frequentava cerimônias de premiação. Para se ter ideia de sua reclusão, nem para receber um Oscar honorário, em 1955, ela deu  o ar da sua graça. Certa vez afirmou: Eu nunca disse “Quero ficar sozinha”. Eu disse “Quero que me deixem sozinha”. Aí está toda a diferença.

A lista de celebridades que optaram pela solidão é enorme, por exemplo, Oscar Wilde, Emily Dickinson, Marcel Proust, Emily Bronte, J.D. Sallinger, Charles Chaplin, Stanley Kubrick…No final dos anos de 1980, George Michael, astro pop inglês, que fez enorme sucesso na década, após o lançamento do LP “Faith”, que vendeu mais de dez milhões de cópias apenas nos Estados Unidos,  lançou um segundo LP, “Listen Whitouth Prejudice”, em que ele, inclusive, se negou a sair até na capa,  pediu demissão da poderosa gravadora Sony Music, se afastou dos palcos e da imprensa e passou a viver praticamente isolado em sua casa no interior de Londres; também abandonou o Show Business na América e  assim o fez até a sua morte em dezembro de  2016.  Evidentemente, outras questões tiveram influência no seu isolamento como perda de entes queridos e abuso de drogas.

 No Brasil, dentre muitos casos, recentemente, um emblemático, da  jovem atriz Ana Paula Arósio , que é dos mais impressionantes. Depois de abandonar o início das gravações da novela “Insensato Coração”, em 2011, decidiu viver isolada, no  interior de São Paulo, ter uma vida  pacata, longe dos holofotes.  Já lhe ofereceram milhões de reais para  voltar a gravar,  até o momento diz “não”.

O escritor Dalton Trevisan é outro exemplo dos que optaram pela reclusão. Trevisan é totalmente avesso a entrevistas e exposições na mídia, tanto que criou-se uma atmosfera de mistério em torno de seu nome.  Outro exemplo recente é do cantor e compositor cearense Belchior, que, desde meados dos anos de 80 já dava sinais de distanciamento da mídia, e na década de 2000 saiu de cena e preferiu viver na obscuridade, até a sua morte em 2017. O cantor  recebeu dezenas de convites e fortunas em dinheiro para voltar a se apresentar ao vivo, todavia  sempre recusou.

Quais as razões que levam toda uma legião de pessoas a renegar  os holofotes da mídia, enquanto outras fazem tudo para tê-los?  . Por que alguns têm tanta ânsia, às vezes, obsessiva, por privacidade? A resposta a essas indagações pode nos remeter à frase latina Sic transit gloria mundi, que significa “Toda glória do mundo é transitória”, ou como também é popularmente conhecida, “As coisas mundanas são passageiras”.

 Infelizmente, muitas pessoas, deixam-se iludir pelos “quinze minutos de fama”, enganando-se a si mesmas. Fazem tudo para ser notícia, pelo estrelato, e, agora, por “curtidas” nas redes sociais; muitas delas, não abrem mão disso por nada. Todavia, ainda há quem desdenhe isso para se dedicar simplesmente a uma vida anônima e sossegada. Como sugere a canção de Raul Seixas,  talvez viver essas falsas ilusões de “sucesso”  ou de “fama” seja tolice.  Os títulos e conquistas materiais, pelo menos para alguns são o verdadeiro ouro dos tolos.

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