Lisboa – Pela primeira vez, o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, manifestou-se publicamente sobre o impacto que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) pode ter na economia brasileira. Segundo ele, o Produto Interno Bruto (PIB) tem condições de crescer mais este ano do que a previsão elaborada pelo BC em seu Relatório de Inflação de dezembro, de 3,8%. “A previsão do BC para o crescimento do PIB em 2007 foi elaborada antes do PAC”, ressaltou. Meirelles disse também que o PIB poderá crescer numa taxa duas vezes maior à média registrada entre 1999 e 2003, de 1,8%.
A avaliação foi expressa numa palestra para cerca de cem pessoas durante o Fórum Brasil 2007, realizado ontem pela Fundação Luso Brasileira, em Lisboa. No evento, Meirelles voltou a tratar da polêmica envolvendo a taxa de câmbio. Ele disse que “felizmente ou infelizmente, o BC não tem meta para o câmbio”. Questionado sobre essa declaração, ele explicou que não estava fazendo “juízo de valor”. “Tudo depende do ponto de vista de cada um”, afirmou. “O que eu salientei é que os fluxos comerciais com o Brasil têm sido os grandes responsáveis pela evolução da taxa de câmbio.” Ele enfatizou que a cotação atual do real está muito próxima de sua média histórica calculada diante de uma cesta de 15 moedas estrangeiras. Ele também apresentou uma defesa enfática da política monetária. Munido de gráficos, disse que o BC, ao controlar com sucesso a inflação e reduzir a instabilidade financeira, tem dado uma contribuição fundamental para que o Brasil possa crescer mais e de forma sustentável.
Após o evento, ele disse que não se considera pressionado diante das críticas . “O que sinto é que, na medida em que a estabilidade econômica se consolidou, a ansiedade para o País crescer mais, para uma redução maior dos juros, aumentou”, observou. “É normal, mas compete ao BC cumprir sua função determinada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e ele tem feito isso.” Ele evitou comentar os rumores que circularam no início desta semana de que estaria demissionário. Mas, diante da insistência dos jornalistas, disse que não “houve nada nesse sentido”. Meirelles disse que pesquisas de opinião mostram que o combate à inflação conta com o respaldo da sociedade brasileira.
O presidente do BC disse que concorda com as recentes declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de outros integrantes do governo sobre a importância do aumento da demanda doméstica para o crescimento do País. “Concordo totalmente que a demanda está crescendo em função, principalmente, do aumento da massa salarial e do emprego, e isso é muito positivo”, disse. “O Brasil está fazendo um grande trabalho para o aumento da oferta através do PAC.”
Lula defende BC dos ataques dos petistas
A menos de 24 horas da reunião do Diretório Nacional do PT que poderá discutir, hoje, uma resolução política de crítica frontal à política monetária do Banco Central (BC), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu, sem mencionar o nome, o presidente da instituição, Henrique Meirelles. Lula lembrou a crise do PT em 2005 e 2006 e pediu “juízo” aos petistas.
O presidente repudiou os “pessimistas”que criticam a política marcada por juros altos e câmbio valorizado – principais alvos dos ataques dos petistas que pedem a saída de Meirelles – e citou números para dizer que o País nunca viveu momento tão bom na área. Ele afirmou que pretende viajar pelo Brasil para difundir o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e difundir o otimismo.
“Acho que é um bom momento para o PT”, disse o presidente, em entrevista após solenidade que marcou o início da produção comercial de gás natural do Projeto Manati, na Bahia. “Olhem, tomem juízo e sejam o partido grande que nós queremos que sejam.” Em crítica velada aos petistas que, em documentos internos, atacaram a política monetária, Lula afirmou que a taxa básica de juros cai há nove meses seguidos e declarou que o câmbio será ajustado. Ele chegou a dizer que as pessoas querem mágicas que só duram “enquanto o palhaço está no circo”.