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Palavras cruzadas

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Dácio galvão
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Neste cenário barra pesada implodindo nosso cotidiano e marcado no repertório pautado pela intolerância migratória, religiosa, homens-bombas, por velhos e jovens  conservadores na onda nacionalista respectivamente tirando pijamas e surrando jeans de grifes refinadas, progressistas atrelados aos mais escabrosos esquemas de corrupção e a direitona tomando conta do mundo fica tudo muito desanimador. A problemática do sempre renovado desenho da geopolítica articulado nas entranhas da intelligentsia das potencias dominantes há anos e anos, engendrada num íntimo profundo esquemamidiático, impossibilita o público chamado esclarecido perceber seu grau de complexidade e interesses. A manipulação da temperatura informacional torna a muito difícil a compreensão da tensão vivenciada nos dois hemisférios. Os editoriais e reportagens de grandes empresas da comunicação se comportam num grau de pluralidade admirável fazendo prevalecer em proporção maior a parcialidade aonde se configura os planos hegemônicos de poder que vivenciamos. Tudo isto fulcrado nas incertezas e presentemente sem horizontes neosutópicos. O velho ouro preto ou o petróleo, as riquezas ocultas estão na base justificando a barbárie como gênese da humanidade e parece nunca há de se despregar do seu DNA.

O fim sonho já havia sido decretado há quase cinco décadas. Na canção Good, o Beatle, John Lennon gutural cantou para todos: And that’s reality. / The dream is over, / What can I say? / The dream is over / Yesterday. A semente da paz e do amor havia sido espalhada mais não germinou ao ponto de se manter crescida florescida absorvida. Não. O sonho acabou transformando o sangue do cordeiro em água. E estamos aí jogando somente com a perspectiva do pragmatismo neoliberal incorporando as questionáveis novas bossas de consumo e poucos procurando a poesia os melhores pensamentos nos livros materiais e ou virtuais, nos blogs e sites que possam trazer idéias discernimentos e alavancas possibilitadoras da liberdade mental e do diferencial de senso crítico tão fundamental para nos livrarmos do mal da informação maniqueísta.

Então nos parece que a porta de saída pode ser na literatura. Clamor por expressão e liberdade de um Ignácio de Loyola Brandão que ganhou recentemente o prêmio Machado de Assis considerando o conjunto da sua obra. Não Verás País Nenhum do mesmo autor acontece na mesma pisada. É procurar na logopeia dos textos ou na linha da melopeia? Tanto faz. O impacto pode ser de igual detonação transformadora. Esta última é aonde me rendo com mais comodidade e consigo transfigurar a realidade caótica ainda nas fugazes viagens oníricas lidando com várias vertentes escriturais e sonoras do medievo sincronizado ao contemporâneo. Num brevíssimo sumário você pode se deparar: Com “Intradução” do provençal Bernart de Ventadorn na voz de Diogo Franco. O armorialismo de Ariano Suassuna no cantar visceral de revolta em signos de Antonio Carlos Nóbrega de Almeida (Martelo Agalopado). O transgressor Soneto do Olho-do-Cu na tradução livre de Zé Celso Martinez Correia, Marcelo Drummond sobre poema de Paul Verlaine e Artur Rimbaud interpretado por Zé Miguel Wisnik. A versão do Canto I Do Inferno de Dante Alighiere no característico artístico de Arrigo Barnabé. A delícia da récita vocal de Maria Bethânia incorporando Clarice Lispector (Prece). Cida Moreyra na performance dramatúrgica de Bertolt Becht (Canção do Vendedor de Vinho). Gilberto Gil lusitano e metafísico em Fernando Pessoa (Prece) O sempre à margem Walter Franco em um susto secreto entoando Carlos Drummond de Andrade (No Exemplar de Um Velho Livro). Funeral de Um Lavrador de João Cabral de Mello Neto com Chico Buarque de Holanda exigindo reflexão social e reforma agrária. Caetano Veloso cosmopolita exercitando a textualidade concreta de Augusto de Campos (quasar). A inventividade linguística das Galáxias de Haroldo de Campos em Caetano Veloso (Circuladô de Fulô), assim igualmente em Jonh Donne (Elegia) Oswald de Andrade (Escapulário) e Souzândrade (Gil Misterioso). Por fim a embolada forrozeira em Balalaica do cubofuturista Vladimeir Maikóvski na ótima leitura do maluco beleza Alceu Valença…

Então resta uma fresta. Resta alguma festa, ainda. Presta o textual. Brecha para o musical. Arestas para o sinestésico visual. Sim, o confronto com forças desoladoras se presta. Historicamente a arte sendo antenas da raça não conseguiu ser a protagonista de bandeiras decisivas mas está crivada em qualquer uma que venha a ser hasteada pois sua ação simbólica e intangível exerce papel imprescindível no processo civilizatório. É só enxergar paradoxalmente como atesta o Estado Islâmico em atos destruidores para apagar o identitário de povos.

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