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Palavras que consolam

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Valério Mesquita – Escritor

Costa Leitão, candidato a prefeito do Assu, era o tipo que a gentinha queria. Um tanto quando “analfa”, porém popular demais. No palanque do deputado Edgar Montenegro, só havia letrados. O vereador Raimundo Galdino, conhecido por Nô, era um rábula inteligente e, fazia questão de falar difícil. Certa noite, num comício, Nô, começou atacando o “negro forasteiro” Costa Leitão. Tachava o adversário de “moleque acéfalo macrocéfalo”. Costa ouvia tudo na área de sua casa, rodeado de amigos e comentou: “Esse “adevogado” de bosta vai se ter comigo! Vocês viram? Ele me chamou de Arcelino Magro e Boi Búfalo… Boi tem chifre. Ele vai ter que provar o que tá dizendo.” Assu, a cidade dos poetas, era também do humano “folclore”.

02) Nos anos 60, a feira livre do Assu era mais desenvolvida e freqüentada por feirantes de Angicos, Afonso Bezerra, Augusto Severo e vizinhanças. O misto de Petronilo, um chevrolet gigante, rodava lotado, cobrindo o mato de poeira, mas à tarde estava de volta. Os feirantes soltavam pilhérias com quem cruzava. O velho Neo Pinto, morador do sítio Quixabeirinha todas as tardes, tirava uma soneca no alpendre à beira da estrada. Murilo Caiana, um passageiro presepeiro, gritava sempre: “Tá descansando heim, corno véio?”. O riso era geral e a viagem prosseguia. Um dia, o caminhão furou um pneu a poucos mais de quinhentos metros da casa de Neo Pinto. O grito de “corno véio” ainda ecoava no ar. Neo Pinto levantou da rede, apanhou uma espingarda calibre 36 e aproximando-se do caminhão cumprimentou: “Boa tarde, pessoal!”. Responderam uníssonos: “Boa tarde!”. O velho interrogou: “Eu queria saber quem é o f.d.p. que grita toda vez: “Tá descansando corno veio?? Todo sábado eu escuto isso!”. E engatilhando a arma: “Fala gente! Quem grita isso?”. Ninguém falou. “Vamos bando de cornos!”, gritou Neo já irado. “Não tem homem não?”. Todos olharam para Murilo Caiana, cobrando uma atitude. O engraçado, amarelo de medo, tentou remendar: “Meu patrão, quem falou foi eu… Porém, o senhor entendeu errado. Eu digo assim: Tá descansando, heim, corpo véio?”. E ainda, meio trêmulo, concluiu: “O senhor desculpe. Daqui prá frente não digo mais nada”. A merda descia no mocotó…

03) No Educandário Padre Felix, estudava o garoto Domingos Sávio que era, o oposto de D. Bosco. Sávio era o calo do vigário padre Pinto, diretor do colégio. Aproxima-se a data cívica, o sete de setembro. Os alunos perfilados, ensaiavam o hino nacional. Sávio, por ser de boa estatura, postava-se entre os últimos, local ideal para suas peripécias. Às voltas com a dívida escolar, Sávio não perdia a oportunidade de alfinetar o colégio credor. À certa altura do hino, o menino trocou os versos a pleno pulmão: “Mas, se ergues da justiça a clava forte, verás que um filho teu não foge à luta, “nem deve a nenhum f.d.p”, terra adorada…”. Um amigo alertou: “Sávio, padre Pinto vai ouvir”. O moleque ironizou: “Que nada. Ela tá é muito empolgado lá na frente”. Protesto lavrado.

04) O velho Chico Alexandre não era funcionário da prefeitura, mas, sendo pessoa de casa, colaborava com o prefeito Nezinho de Souza de Boa Saúde, cuidando dos animais soltos pela cidade. Todos sabiam que o alcaide possuía dois possantes jumentos que vadiavam pelos logradouros. Para que não criticassem a administração, o velho constantemente vigiava os dois animais, apanhando cocô. Aconteceu que o prefeito adquiriu mais um. Chico Alexandre, “gari para tarefas especiais”, encontrando a primeira dama rumo a missa, reclamou enfático: “Comadre, diga ao meu compadre prefeito que dois jumentos eu agüentei, agora três, não tem c. que agüente. É trabalho demais”.

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