Por Luiz Carlos Merten
Rio – Havia gente sentada no chão do Cine Odeon BR, terça-feira à noite, para assistir à exibição de “O Homem que Desafiou o Diabo”. O longa que Moacyr Góes adaptou do livro “As Pelejas de Ojuara”, de Nei Leandro de Castro, estreou na sexta-feira em salas de todo o país. Se tiver um décimo da recepção calorosa que teve no Festival do Rio, será um sucesso. O próprio Moacyr Góes, diretor de teatro que já fez TV e agora filma sem parar, diz que tem um carinho especial por este filme, entre todos os que já realizou.
Moacyr diz que é autoral no teatro, mas na TV e no cinema não tem controle sobre o produto, que pertence à emissora ou ao produtor. Mas ele gosta de “O Homem que Desafiou o Diabo”. A platéia do Rio também gostou.
Martin Scorsese fez um filme inteiro – “Depois de Horas” – para metaforizar a masturbação como resposta masculina ao medo da vagina dentada. Ojuara – o nome vem de Araújo, escrito ao inverso -, o homem que desafiou o diabo, lança-se no mundo em busca de uma terra impossível de fartura e liberdade. Vive diversas peripécias que esculpem sua fama de valentão – a de mulherengo, ele já carregava antes.
Num dessas aventuras, ele enfrenta (e vence) a mulher da vagina dentada. Na obra, encontra a mulher de sua vida e, para prendê-lo, ela precisa ter uma vagina de alicate. Foi a cena mais aplaudida de “O Homem que Desafiou o Diabo”. Ojuara participa de uma disputa com um tipo de muitos maus bofes. Ambos disputam a cabocla mais bela do bordel. O desafio é cravar um prego na madeira só na base do soco. Dá empate. A mulher entra em cena. Se ela conseguir retirar o prego, poderá escolher o homem com quem vai viver? Aceita a proposta, ela baixa a calcinha, senta-se sobre a madeira, a cavalo, e retira o prego só com movimentos das partes íntimas.
Ojuara não é o tipo de filme pelo qual os críticos têm muito apreço. Ele leva mais jeito de agradar ao grande público, mas a época anda difícil para o cinema brasileiro. Filmes que eram grandes apostas de bilheteria, como “Antônia”, de Tata Amaral, e “Cidade dos Homens”, de Paulo Morelli, não fizeram, nem de longe, o sucesso esperado. A época anda tão confusa que ninguém sabe ao certo o que é, hoje, o filme popular brasileiro. “2 Filhos de Francisco”, de Breno Silveira, arrebentou na bilheteria. “Tropa de Elite”, de José Padilha, chega (dia 12) para arrebentar, pelo menos é o que esperam distribuidores, exibidores e a própria equipe do filme mais pirateado da história do cinema brasileiro.
Ojuara tem alguma coisa de “Macunaíma”, de João Grilo. Herói do sertão, ele conhece a opressão doméstica e dela se liberta. Vive na estrada, picaresco e libertino, num Nordeste mais de fantasia que real. Marcos Palmeira faz o papel com entusiasmo. O filme de Moacyr Góes tem a cara dele.
Serviço
– “O Homem que Desafiou o Diabo” (Brasil/2007, 97 min.) – Comédia. Dir. Moacyr Góes. 16 anos. Cotação: Regular