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Papa defende pobres e a natureza

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José Maria Mayrink – Agência Estado

Vaticano (AE) – O papa Francisco fez ontem um apelo, na homilia da missa de inauguração de seu pontificado, aos cristãos e a todas as pessoas que ocupam cargos de responsabilidade em âmbito econômico, político e social, para que cuidem dos bens da natureza, do meio ambiente e de todos os seus irmãos, especialmente os mais pobres. “Não devemos ter medo da bondade nem da ternura”, advertiu o papa, ao recomendar vigilância sobre os sentimentos e o coração, “porque é dele que saem as boas intenções e as más, aquelas que edificam e as que destroem”.
Em nome dos brasileiros, a presidenta Dilma Roussef cumprimenta o papa logo após a missa de entronização, celebrada no Vaticano
Francisco falou durante 15 minutos, lendo um texto em italiano, diante de representantes de 132 países e instituições mundiais – incluindo 6 monarcas, 44 chefes de Estado, 3 príncipes herdeiros e 12 chefes de governo. Ao convidar essa audiência seleta e cerca de 200 mil pessoas que enchiam a Praça São Pedro e ruas vizinhas, numa manhã ensolarada e temperatura de 10 graus, Francisco incluiu-se entre aqueles que devem se comprometer a proteger a humanidade e a criação, com particular atenção aos pobres. “Eis um serviço que o bispo de Roma (ele, como papa) está chamado a cumprir, mas para o qual todos nós estamos chamados, fazendo resplandecer a estrela da esperança”, enfatizou.

O exemplo a seguir é São José, santo de sua devoção, cuja festa se comemora em 19 de março. Francisco comentou o trecho do Evangelho que narra como Deus escolheu José para guardar (proteger) Maria e seu filho Jesus. A missa durou uma hora e 20 minutos, rigorosamente dentro do ritual previsto. O povo já enchia a praça quando Francisco chegou no papamóvel às 8h50 e deu várias voltas entre a multidão, antes de se dirigir à sacristia, ao lado da capela da Pietá, para vestir os paramentos litúrgicos. A maioria das autoridades já se encontrava em suas cadeiras, de um lado e de outro do altar, quando os sinos da Basílica de São Pedro começaram a repicar, às 9 horas.

A presidenta Dilma Rousseff chegou com os quatro ministros de sua comitiva. Sentou-se numa cadeira da primeira fila, enquanto os ministros Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência), Aloizio Mercadante (Educação), Helena Chagas (Comunicação Social) e Antônio Patriota (Relações Exteriores) se colocavam ao lado, um pouco atrás.

A celebração iniciou-se às 9h30, quando o papa chegou em procissão com cardeais e os superiores gerais dos frades franciscanos e dos padres jesuítas, depois de ter rezado, em companhia de 10 patriarcas de igrejas orientais católicas, junto à Tumba de São Pedro. A primeira cerimônia foi a imposição do pálio, uma estola de lã de ovelha, lembrando o bom pastor, e a entrega do anel do pescador, com a imagem de São Pedro, carregando nas mãos as chaves que simbolizam o poder de chefe da Igreja.

O cardeal protodiácono Jean-Louis Tauran entregou o pálio, enquanto o cardeal protopresbítero Godfried Danneels fazia uma oração. Protodiácono e protopresbítero são os primeiros cardeais das ordens dos diáconos e dos presbíteros. O cardeal decano Angelo Sodano, da Ordem dos Bispos, entregou o anel. Depois seis cardeais, dois de cada ordem, prestaram obediência ao papa em nome do Colégio Cardinalício.

A missa foi celebrada em latim, com exceção das leituras feitas em inglês e espanhol, e do Evangelho lido em grego. O papa Francisco não cantou nenhuma vez, nem mesmo nas invocações curtas, como a da bênção final. Também não improvisou, fugindo do texto para fazer alguma observação, como ocorreu domingo, na recitação do Angelus. No Vaticano, ainda não se sabe se é a inauguração de um novo estilo ou se é apenas uma adaptação de início de pontificado. O papa argentino age com espontaneidade e parece seguro em sua função.

Após a celebração, que terminou às 11h20, Francisco foi para junto do altar da Tumba de São Pedro, na nave central da Basílica, para receber os cumprimentos das delegações oficiais. A presidente Dilma Rousseff foi uma das primeiras da fila. Apertou as mãos do papa com entusiasmo, um gesto efusivo, enquanto conversavam. A TV do Vaticano, que documentou os cumprimentos com exclusividade, distribuiu imagens, mas sem som.

Papa fala com fiéis em vigília na Argentina

Buenos Aires (AE) – Milhares de pessoas fizeram vigília em frente à Catedral de Buenos Aires para assistir ao vivo a entronização do papa Francisco. Reunidos desde o início da noite de segunda-feira, os fiéis foram surpreendidos por uma ligação telefônica do próprio papa, em plena madrugada. “Obrigado pelas orações”, disse o papa Francisco, durante a chamada transmitida pelos alto-falantes dos telões instalados nos dois lados da Catedral. O papa pediu que “todos cuidem uns dos outros, da natureza, das crianças e dos idosos”.

A ligação foi feita para o telefone celular de um de seus colaboradores mais próximos, o padre Alejandro Russo, reitor da Catedral Metropolitana. Do Centro de Televisão da Arquidiocese (CTA) Santa Maria de Buenos Aires, a mensagem do papa chegou a todos e foi a grande surpresa da madrugada argentina, por volta das 3h30. O papa pediu aos fiéis para deixar de lado o ódio e não temer Deus, que sempre perdoa. “Que não haja ódios, brigas, deixem de lado a inveja”, disse o papa aos seus fiéis reunidos em frente à Praça de Maio, o histórico palco popular argentino. “Que entre vocês este desejo de cuidar uns dos outros siga crescendo no coração e aproximem-se de Deus”, afirmou. “Deus é bom, Deus sempre perdoa, Deus compreende, não tenham medo dele.”

Antes de finalizar a ligação, o papa pediu à Virgem Maria que abençoe a todos e repetiu o tradicional pedido: “Por favor, não se esqueçam deste bispo, que está longe, mas que os ama muito. Rezem por mim.” O papa Francisco finalizou a chamada telefônica com uma bênção ao povo na Praça de Maio que, mais parecia uma extensão da Santa Sé.

Na praça houve choro, aplausos, cantos e orações ao papa argentino. “Até agora eu não posso parar de chorar de tanta emoção”, disse ao Broadcast Eugenia Odilía, ao lado da irmã gêmea Eugenia Ofélia, que passaram a noite em vigília. De 57 anos, as duas são assistentes sociais e trabalharam muitos anos nas obras realizadas pelo ex-arcebispo de Buenos Aires Jorge Mario Bergoglio na favela 20 e em um colégio católico, de Lugano, na periferia.

A partir das 5h30, quando chegaram as imagens do Vaticano, os fiéis reunidos na Praça de Maio – gente de todas as idades, com predominância de jovens – agitaram as bandeiras da Argentina e do Vaticano, vendidas por dezenas de ambulantes por 30 pesos (R$ 12). Outros levantavam fotos do papa de todos os tamanhos e valores, que variavam de 10 a 40 pesos (entre R$ 4,00 e R$ 16,00).

Não houve bandeiras de partidos políticos, como pediu a cúria metropolitana, mas do time de futebol do papa, o San Lorenzo, havia muitas. Um grupo de jovens do Parque Patrícios, de 14 a 17 anos, explicou que foi “muito comovedor e histórico” participar da vigília. Neli Colombo, de 75 anos, do bairro de Belgrano, afirmou que sentia “uma enorme vontade de que todos estejam juntos a serviço de todos e que o espírito de solidariedade do Santo Padre inspire a todos”.

Para o padre Daniel Molina, que liderava um grupo de fiéis da paróquia Santa Rita, de San Justo, província de Buenos Aires, a chegada de Francisco “abriu uma esperança muito grande de um caminho ainda mais belo e comprometido da Igreja”. A portenha Juana Benedict, de 37 anos, afirmou: “Eu tinha me afastado da Igreja nos últimos dez anos porque não me identificava com nenhum pastor para me guiar, mas agora sinto de novo a fé reavivada.”

Dilma conversa com Francisco sobre pobreza

Vaticano – A presidenta Dilma Rousseff se encontrou ontem com o papa Francisco por alguns minutos. Os dois conversaram, na fila de cumprimentos, após a cerimônia que marca o começo do pontificado. Antes do encontro, a presidenta disse que sua intenção era conversar com Francisco sobre o combate à pobreza e à fome no mundo. Dilma elogiou o empenho do papa em dar prioridade aos pobres. Ela ressaltou ontem que o papa Francisco “tem um papel importante a cumprir”. “É uma postura importante”, disse ela, referindo-se à preocupação dele com os pobres.

Em seguida, a presidenta acrescentou: “É claro que o mundo pede hoje além disso [da preocupação com os pobres] que as pessoas sejam compreendidas e que as opções diferenciadas das pessoas sejam compreendidas”.

A presidenta lembrou que os ensinamentos de Jesus Cristo devem ser colocados em prática. “Acho que é um papa preocupado com a questão dos pobres no mundo. O papa tem um papel especial e eu acho que ele cumpre, vamos dizer assim, os princípios básicos que inspiraram o cristianismo e que inspiraram Cristo”, ressaltou a presidenta.

O Brasil deve ser o destino da primeira viagem internacional do novo papa. Francisco irá ao Rio de Janeiro para abertura da Jornada Mundial da Juventude, um megaevento da Igreja Católica que deverá atrair milhões de pessoas em julho.

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