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Papado curto e traumático

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Em carta divulgada no site do Vaticano, na segudna (11), Bento XVI afirma que a decisão foi tomada por sua idade avançada. “Cheguei à certeza de que as minhas forças, devido à idade avançada, já não são idóneas para exercer adequadamente o ministério petrino”, explica.Na história da Igreja Católica, Bento XVI é o quarto papa a renunciar.

Em sete anos de pontificado, Bento XVI enfrentou crises que desgastaram imagem da IgrejaEm 1415, o papa Gregório XII abdicou do cargo, depois de cinco anos no poder, durante o Cisma do Ocidente, conflitos entre Roma e Pisa, na Itália, e Avignon, na França, sobre a sucessão e o local de residência dos papas – solucionado depois da renúncia, em 1418, com o Concílio de Constança. À época, havia uma disputa entre três autoridades da Igreja que se auto-intitulavam papas. Gregório XII foi um dos papas eleitos em idade mais avançada, com 90 anos.

Outro papa que também renunciou foi Celestino V, em 1294, apenas quatro meses depois de empossado na Basílica de Santa Maria de Collemaggio, na cidade de L’Áquila, na região central da Itália. Por razões políticas e econômicas, Celestino renunciou ao pontificado em favor de Bonifácio VIII, de uma influente família italiana, os Gaetani.

No ano de 235, Ponciano foi exilado por um imperador romano e, para que os fiéis não ficassem sem um líder, renunciou ao papado. Foi sucedido por Antero.

De acordo com o Código de Direito Canônico, o papa pode renunciar ao cargo desde que a renúncia seja feita livre e manifestadamente. O ato não precisa ser reconhecido por nenhum tipo de entidade.

Confira abaixo, na integra, a carta de renuncia de Bento XVI.

“Caríssimos Irmãos,
Convoquei-vos para este Consistório não só por causa das três canonizações, mas também para vos comunicar uma decisão de grande importância para a vida da Igreja. Depois de ter examinado repetidamente a minha consciência diante de Deus, cheguei à certeza de que as minhas forças, devido à idade avançada, já não são idóneas para exercer adequadamente o ministério petrino. Estou bem consciente de que este ministério, pela sua essência espiritual, deve ser cumprido não só com as obras e com as palavras, mas também e igualmente sofrendo e rezando. Todavia, no mundo de hoje, sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande relevância para a vida da fé, para governar a barca de São Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário também o vigor quer do corpo quer do espírito; vigor este, que, nos últimos meses, foi diminuindo de tal modo em mim que tenho de reconhecer a minha incapacidade para administrar bem o ministério que me foi confiado. Por isso, bem consciente da gravidade deste acto, com plena liberdade, declaro que renuncio ao ministério de Bispo de Roma, Sucessor de São Pedro, que me foi confiado pela mão dos Cardeais em 19 de Abril de 2005, pelo que, a partir de 28 de Fevereiro de 2013, às 20,00 horas, a sede de Roma, a sede de São Pedro, ficará vacante e deverá ser convocado, por aqueles a quem tal compete, o Conclave para a eleição do novo Sumo Pontífice.
Caríssimos Irmãos, verdadeiramente de coração vos agradeço por todo o amor e a fadiga com que carregastes comigo o peso do meu ministério, e peço perdão por todos os meus defeitos. Agora confiemos a Santa Igreja à solicitude do seu Pastor Supremo, Nosso Senhor Jesus Cristo, e peçamos a Maria, sua Mãe Santíssima, que assista, com a sua bondade materna, os Padres Cardeais na eleição do novo Sumo Pontífice. Pelo que me diz respeito, nomeadamente no futuro, quero servir de todo o coração, com uma vida consagrada à oração, a Santa Igreja de Deus.
Vaticano, 10 de Fevereiro de 2013.
BENEDICTUS PP XVI”

Perfil do papado

Bento XVI sempre se definiu como um Papa relutante, um tímido afeiçoado aos livros que preferia caminhadas solitárias nos Alpes à ostentação pública e o esplendor da grandiosidade do Vaticano. O teólogo alemão, cuja missão era reavivar o catolicismo na secularizada Europa, tornou-se cada vez mais frágil enquanto carregava nos ombros a tarefa de purificar o mundo católico do escândalo de abuso sexual que surgiu ainda com o Vaticano sobe o comando do João Paulo II, e explodiu durante seu reinado até se tornar uma das maiores crises da Igreja em décadas, se não em séculos.

#SAIBAMAIS#Mais recentemente, ele precisou lidar com o dolorido peso de ser traído por um de seus ajudantes mais próximos. O mordomo de Bento foi condenado pela corte do Vaticano por roubar papéis pessoais do Papa e entregá-los a um jornalista, uma das brechas mais graves na segurança papal nos tempos modernos.

Enquanto isso, Bento perseguiu sua visão única de recuperar a fé do mundo o qual, ele frequentemente lamentou, parecia ter sido feito sem Deus. “Nas vastas áreas do mundo hoje, existe um estranho esquecimento de Deus,” afirmou ele a um milhão de jovens reunidos no Dia Mundial da Juventude em Colônia, na Alemanha, em sua primeira viagem como Papa, em 2005. “É como se tudo fosse possível sem ele.”

Com movimento decisivos e frequentemente controversos, Bento tentou relembrar à Europa sua herança cristã e posicionou a Igreja Católica em uma tendência de tradição conservadora que frequentemente alienou progressistas e exortou conservadores. Ainda assim, seu legado papal estará sempre entrelaçado com escândalos de abuso sexual.

Durante o ano de 2010, milhares de pessoas na Europa, Austrália, América do Sul e além vieram a público em reportagens que denunciavam padres que tinham molestado ou violentado várias delas quando crianças, e bispos que cobriram esses crimes.

Documentos revelando que o Vaticano sabia desses problema e manteve os olhos fechados durante décadas e, inclusive recusou a denúncia de bispos que tentaram fazer a coisa certa, foram revelados. Bento XVI teve conhecimento em primeira mão do escopo desse problema em seu antigo escritório na Congregação para a Doutrina da Fé, a qual ele dirigia desde 1982, e onde era responsável por lidar com casos de abuso.

Ele se encontrou com vítimas em todo o mundo, chorou e rezou com elas e prometeu que a Igreja faria “o que fosse possível” para garantir que este tipo de crime nunca mais acontecesse. O Vaticano atualizou seu antigo código para estender o status de limitação para casos e disse na conferencia dos bispos em todo o mundo para virem com diretrizes para evitar o abuso.

Mas Bento nunca admitiu qualquer falha pessoal ou do Vaticano. Grande parte do temor das vítimas, ele nunca agiu contra os bispos que ignoraram ou cobriram o abuso de seus padres ou moveram conhecidos pedófilos para outros postos onde eles voltaram a abusar novamente.

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