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Papo de marinheiro

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Nelson Mattos Filho [[email protected]]

Estava eu sentado em um banco de uma marina bacana na capital baiana, a espera de um técnico que consertaria o piloto automático do Avoante, quando chegou um grupo de marinheiros e estes ficaram ali proseando e rindo dos casos acontecidos durante o final de semana. Em meio a pensamentos abstratos, apurei os ouvidos para bisbilhotar o bate papo animado do grupo, porque nessas horas sempre surgem boas pérolas e causos engraçados.
Histórias hilárias existem muitas nesse universo de rios e oceanos
A conversa seguia entre piadas e brincadeiras, quando do píer surgiu uma daquelas moças que fazem faxina em barcos. A moça chegou, deu boa tarde a todos, falou algumas brincadeiras e se afastou faceira em meio a risos. Enquanto ela saia, um dos membros do grupo disparou: – Ela se parece com o novo ferry boat! Todos caíram na gargalhada e um deles perguntou o motivo. Ele respondeu: – Ninguém sabe se ela está indo ou se está voltando, pois os lados se pareceSinceramente não tive como esconder o sorriso, pois na hora me veio à imagem das novas embarcações, que fazem a travessia Salvador/Itaparica, que são exatamente com o marinheiro falava: Quando o novo ferry está navegando, se olharmos depressa, é difícil distinguir a proa da popa. Essa turma não deixa barato!

Outro caso foi de um velejador que estava com seu veleiro ancorado em Itaparica, mas sem muita experiência na Baía de Todos os Santos, pediu ajuda para um amigo lhe indicar um tripulante que pudesse retornar com ele para a baía de Itapagipe, onde está localizada o bairro da Ribeira. A tripulação que tinha ido com ele havia desembarcado e ele não se sentia seguro para realizar uma navegada em solitário.

O amigo pensou e logo achou alguém disponível para aquela empreitada. Com tudo acertado ficaram a esperar, porque     o tripulante somente poderia chegar ao finzinho da tarde.

Já próximo ao pôr-do-sol o marinheiro chegou, se apresentou e embarcou pronto para soltar as amarras e iniciar a navegação sem mais delongas. O comandante perguntou se ele conhecia bem o trajeto e se não teria nenhum problema em navegar durante a noite. O marinheiro, com muita segurança, afirmou que conhecia a Baía de Todos os Santos como a palma da mão e que o comandante não se preocupasse com isso. – Então tá, vamos em frente!

O amigo que havia feito a indicação também iria para Salvador em seu veleiro e resolveu esperar para seguir em flotilha. Na saída o comandante e seu novo marinheiro se atrapalharam um pouco com as amarras, devido à falta de entrosamento, e ficaram para trás. Mas tudo bem, o marinheiro conhecia tudo e chegar até a Ribeira não seria tão difícil assim.

Após duas horas de velejada, já com a noite alta, o comandante comunicou que os equipamentos eletrônicos estavam em curto e que não estava conseguindo ligar o GPS para abrir a rota. O marinheiro respondeu que não precisava do GPS e após coçar a cabeça, olhou para os lados e apontou o fogo de uma chaminé da refinaria na cidade de Candeias, que eles visualizavam por bombordo, e disse ao comandante que seguisse naquele rumo. Sem questionar, o comandante mudou o rumo, pois nunca iria duvidar da palavra de um mestre dos mares.

Navegaram mais duas horas e quando alertaram estavam diante da praia de Madre de Deus que fica próximo a Refinaria e nem sinal da Ribeira. Foi quando o marinheiro, novamente coçou a cabeça, olhou para um lado, para o outro e falou: – Agora danou-se! Cadê a Ribeira que era aqui?

O comandante percebeu que o marinheiro estava mais perdido do que cego em tiroteio e não conhecia nadica de nada, pegou o telefone e ligou para o amigo que havia feito à indicação. – Meu amigo, estou perdido de frente a Madre de Deus e olhando para uma refinaria de petróleo e esse meu tripulante não conhece nada de navegação. Estou sem GPS e todos os equipamentos eletrônicos estão em curto. Me oriente dai como danado eu chego à Ribeira.

Simplesmente eles tinham navegado para o lado norte da Baía de Todos os Santos e a Ribeira fica no lado leste. Se vendo perdido durante a noite e sem enxergar um referencial, o marinheiro apontou o fogo chaminé da refinaria na esperança de ao chegar ali achar uma solução para sua falta de rumo e conhecimento.

Histórias hilárias existem muitas nesse universo de rios e oceanos. Basta que fiquemos sentados em um cantinho de um clube náutico ou em uma beira de calçada onde se reúnem velejadores, marinheiros, pescadores e afins.

Tem ainda aquela do veleiro que deu voltas e mais voltas em meio ao oceano atlântico na tentativa de achar uma saída para o desatino, mas essa fica para a próxima.        

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