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Para ler o Ocidente

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Laurence Bittencourt
Jornalista

O desejo de racionalidade total é uma aspiração humana, desde os Gregos. Isso é um fato comum. Mas como a própria expressão registra, trata-se apenas de uma “aspiração”.  Aliás, há um livro por demais indicado escrito ainda nos idos de 1950 pelo historiador irlandês E. R. Dodds, especialista em Idade Antiga, intitulado “Os Gregos e o irracional” e que se tornou um clássico, em que o mesmo tenta mostrar que apesar de ser quase unanime entre especialistas que os gregos antigos primavam pela racionalidade, eles também se preocupavam com a irracionalidade. Essa é a tese do livro.

Obviamente que o livro de Dodds tenta mostrar sua tese a partir de um recorte, de uma análise bem especifica, ou seja, a partir da “religiosidade” grega antiga, completamente diferente da nossa hoje em dia, mas que lança luz para todo o interessado no assunto.

Os gregos antigos junto com os judeus e os romanos ficaram as bases culturais do que se chama hoje de Ocidente. Isso também, me parece ser um fato indiscutível e inconteste. No entanto, é muito comum, e apressado diria eu, que o estudioso ou mesmo o não estudioso admitir como sendo ou vindo dos gregos antigos as principais normas e condutas da civilização Ocidental a partir da fundação da Europa. Basta pensarmos na herança e experiência democrática inaugurada pelos Gregos, por exemplo.

No entanto, há um livro também muito interessante intitulado “Para ler o Ocidente” escrito pelo professor, escritor e jornalista brasileiro José Hildebrando Dacanal e que vale a pena ser lido. Neste livro, Dacanal vai, contrariando muitos, mostrar que o Ocidente deve muito mais a Israel e o seu Deus único como fator determinante para a formação cultural nossa, do Ocidente, um paradoxo se pensarmos que Israel é Oriente, do que os Gregos.

O livro de Dacanal é gigantesco, tem 608 páginas, mas pode ser lido por partes, se assim o leitor quiser, sem com isso perder a unidade, uma vez que a obra é assim dividida, iniciando pelos Gregos, ou seja, pela Hélade e seus principais autores, depois Israel e por fim Roma. A obra a meu ver entre diversos méritos, tem dois que me tocou em particular, que é primeiro, o de resgatar como já disse os Judeus como mais importantes para o Ocidente que os Gregos antigos, e segundo por resgatar um autor grego chamado Hesíodo, que viveu em VIII a. C., e que ganhou muito menos fama que Homero, outro autor grego antigo, por exemplo. 

Hesíodo é autor de dois livros fundamentais e que chegaram até os nossos dias como “Teogonia” em que fala da origem dos deuses, e “Os trabalhos e os dias” em que defende o valor do trabalho, da justiça, numa sociedade eminentemente aristocrática. Dacanal recupera frases interessantes de Hesíodo como, por exemplo, sobre a “justiça e a injustiça”, em que Hesíodo diz: “Hoje, nem eu nem meu filho quereríamos ser incluídos entre os justos”, ou ainda, “mau é ser um homem justo se o injusto é tratado com mais justiça”. Qualquer semelhança com o nosso país não é mera coincidência.

Mas a parte melhor do livro “Para ler o Ocidente”, de Dacanal a meu ver fica reservado para sua análise de Israel e dos Judeus em que vai mostrar que a noção de democracia vem deles, e principalmente a separação entre o público e o privado. Pena que mais de 2.000 mil depois, os ensinamentos dos israelitas não tenham aportado por aqui como deveria, a não ser, claro, da boca pra fora, mas isso é outra história. Vale a pena ler urgentemente os livro de Dodds e o de Dacanal.

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