Durante trinta anos a empresária Flávia Mariz, 56 anos, sofreu com fortes dores, principalmente nos braços e nos ombros. Porém, o diagnóstico de fibromialgia só veio há quatro anos, com a recomendação médica de se movimentar bastante. Mas ela sempre tentou atenuar a situação praticando pilates, hidroginástica e caminhando. Mas foi com o tai chi chuan que ela diz ter conseguido controlar as dores.
Ela diz não ter acreditado quando ouviu o diagnóstico de fibromialgia, pois sempre ouviu coisas pesadas a respeitos da doença. Mas ela não se deixou abater e continuou sua busca por uma atividade física que ajudasse a suportar as dores.
Lembrou que uma amiga sua praticava tai chi chuan e sempre lhe falava aspectos positivos da terapia — principalmente sobre equilíbrio emocional e do corpo, a distribuição energética. Decidiu então experimentar. Foi quando ficou sabendo das aulas no Parque das Dunas.
“No primeiro dia que eu fui, na primeira vez, eu estava com dores no braço. O professor passou uns movimentos e eu sai totalmente sem dor. Então, todas as vezes que eu vou para o exercício, eu não sei o que é, qual é o tipo de movimento que eu faço, que eu saio de lá sem dor. É uma coisa imediata, tipo apertar um botão. É fantástico pra mim”, relata Flávia, praticante da arte marcial há três meses.
#SAIBAMAIS#Ela diz sentir dores no braço todos os dias, ininterruptamente, exceto naqueles quando tomam remédio. “Mas eu não posso passar a vida inteira tomando anti-inflamatório, até porque eu não estaria viva aqui”
Mas basta ela fazer tai chu chuan para as dores sumirem. E o alívio perdura durante todo o dia. A sensação de alívio é tamanha, segundo Flávia, que chega a deixá-la espantada. Ela acredita em um benefício cumulativo na prática de tai chi chuan.
“Só sei que eu fiquei espantada. Eu colocava fé em uma coisa a longo prazo, não pensei que fosse uma resposta tão rápida. É uma coisa que eu recomendo pras pessoas. Digo que faça pois o negócio é bom mesmo.”
MÉDICA E PACIENTE
A reumatologista aposentada Margarita Mota Rocha de Arruda Câmara pratica tai chi chuan há três anos para aliviar os sintomas de uma escoliose e da osteoporose. Segundo ela, alguns artigos médicos apontam o tai chi chuan é a melhor atividade física para quem sofre do problema ósseo, pois melhora a flexibilidade das articulações ao transferir o peso de uma perna a outra durante a prática dos movimentos, além da força e o equilíbrio.
“Essa transferência de peso alternadamente faz com que o indivíduo o tempo todo esteja se equilibrando. E dessa forma fica menos sujeito a quedas e, consequentemente, menos sujeito a fraturas. O grande objetivo do tratamento da osteoporose é evitar fraturas vertebrais e de quadril ou de punho”, comenta a reumatologista.
Margarita Mota comenta também ser o tai chi chuan ideal para tratar fibromialgia, artrose e as labirintopatias.
“A fibromialgia de uma maneira geral precisa de atividade física porque faz subir o nível de endorfinas naturais, de maneira natural. Qualquer atividade faz subir o nível de endorfina. E ela vai proporcionar uma analgesia fisiológica”, comenta a reumatologista.
Os movimentos que mexem com o centro gravitacional do corpo são importantes para tratar as doenças do labirinto, pois receptores neurológicos nas plantas dos pés levam informações para o cérebro que debelam a tontura.
De acordo com Margarita Mota, os portadores de artrose podem não ter facilidade de executar algumas posturas do tai chi chuan, mas eles melhoram a força. Elaressalta também os benefícios do tai chi chuan para a mente. “Eu já experimentei, recentemente, quando Marcelo passou um exercício bem simples e a gente repetiu muito e, de repente, minha cabeça ficou vazia. A meditação!
Bate-papo – Marcelo Sena
Professor de Tai Chi Chuan
O que significam os movimentos do tai chi chuan?
São movimentos que eles chamam de “espalhar as nuvens”, para poder ter a memorização do movimento, sempre ligados à energia da Terra. E tem uma parte do tai chi, que chama Chi Kung, onde engloba mesmo a parte de energização. Outro método, que foi retirado do tai chi, chamado Lian Gong. Um ortopedista, na China, tratava o paciente mas precisa de uma fisioterapia. Então, ele incluiu o movimento do Lian Gong do tai chi para os pacientes, e acabou desenvolvendo uma técnica para a região da cabeça, do tronco, pernas. Hoje, essa técnica, quando os pacientes saem do consultório dele já vão fazer esse tipo de tratamento. E ele teve bons resultados com esse tipo de movimento. Quando se faz um movimento brusco, você agride a musculatura. Você vai socar e agride. A gente que é novo, sente a dor. Mas quem já é de uma certa idade, se você usar força no braço , agride a musculatura. E no tai chi os movimentos são lentos, suaves e circulares.
— Como os movimentos ajudam a atenuar doenças como a a fibromialgia, por exemplo?
Fibromialgia: uma aluna lá do parque, quando começou, falava com a gente de braços cruzados. Hoje ela fala com os braços soltos. Se fizer um movimento brusco, vai doer e vai aumentar a dor. Aí, tem que fazer um exercício de alongamento e também os exercícios. Não pode parar! Recentemente, teve uma reportagem no Globo Repórter falando que o remédio para dor é o movimento. A pessoa não pode ficar parado. Outra questão também, além das dores articulares, é respirar. Ninguém sabe respirar corretamente. Quando a gente passa a respirar melhor, passa a levar mais oxigênio para o sangue, e isso vai para o cérebro e para o corpo também. O sangue vai estar mais oxigenado e a pessoa vai ter mais energia. Outra também: o pessoal com problemas de mobilidade, de andar. Os velhinhos começam a perder o equilíbrio… Aí o tai chi trabalha muito a questão dos movimentos, vem os suaves, mas ele está fazendo umas bases, caminhando, calcanhar, puxando, levantando a perna, coluna também, é bom para osteoporose também.
— Os exercícios e movimentos são diferenciados para quem tem uma patologia específica?
O aluno normal busca qualidade de vida, a parte marcial, defesa pessoal. A força que a gente adquire através dos Chi Kung são através de exercícios de respiração, de concentração, a gente puxa energia do universo, tem o Dantian, que é abaixo do umbigo, onde armazena essa energia vital, que na yoga usa. A parte dos chakras também é visualizada. Mas a gente faz uma geral. O aquecimento é leve, os movimentos são lentos, repetitivos. Você também tem que visualizar o que você quer tratar. Se você não visualizar, vai mexer o braço só por mexer o braço e ficar pensando em outra coisa… não vai valer nada. Você tem que ter a consciência do que está fazendo.
— Então é preciso concentração?
Isso. Inclusive, lá no Parque das Dunas, de manhã, a gente faz na quadra, em meio à natureza, e aparece um monte de “soim”, passarinhos. À tarde, a gente faz em frente ao lago, e por incrível que pareça, os peixes ficam todos próximo da gente.