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Para salvar a música pop

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Por Lauro Lisboa Garcia

O fim da canção como a conhecemos ainda não chegou, como havia imaginado Chico Buarque no limiar do século 21. Há uma nova geração de compositores, como Fabio Góes, Marcelo Jeneci, Tulipa Ruiz, Andreia Dias, Pélico, Cibelle e Leo Cavalcanti, que despretensiosamente vem apresentando boas soluções estéticas nessa praia. Com linguagem pop elaborada, em termos de melodia, arranjos e letras, eles trazem concepções sonoras acessíveis “e ao mesmo tempo apresenta uma sensação que não é comum”, como diz Góes, além de visões particulares sobre relações humanas, até mesmo o surrado tema amor.
Em Feito pra Acabar,  Jeneci faz música pop de consistência
“É a vontade de salvar música pop”, diz Góes, que lança o segundo álbum solo, “O Destino Vestido de Noiva”, com show hoje no Estúdio Emme (SP). “Sinto saudade do tempo em que a canção pop surpreendia, como nos anos 1980, com músicas como ‘Mensagem de Amor’ (Herbert Vianna) e outras de Marina Lima, Lobão, Lulu Santos.”

Como “Feito pra Acabar” (Jeneci), “Efêmera” (Tulipa) e “Que Isso Fique Entre Nós” (Pélico), “O Destino Vestido de Noiva” tem diversas faixas – como “Nossa Casa”, “Domingo” e as “Plantas”, “A Rua”, “Fugindo” e “Na Pele” – com cara de hits radiofônicos, como se dizia nos tempos em que as emissoras eram mais democráticas e audíveis. Não que sempre tenha sido fácil emplacar música acima da média. Gilberto Gil, que às vezes Góes evoca viajando no pensamento, até fez “Essa É pra Tocar no Rádio”, brincando com essa ideia em 1975. E essa não tocou.

Como, então, chegar ao ponto? “A gente tenta entender até um lugar, daí pra frente é etéreo, é onde as coisas se materializam em música e que não tem muita fórmula. Acontece para uns e para outros não. Quero acreditar que acontece pra mim”, diz Góes. “Nossa Casa” é uma boa síntese de sua relação com a música, que, como Zé Rodrix e Thomas Roth, não esconde o background da publicidade, além de trazer influências de Radiohead, Coldplay, Clube da Esquina e o despudor do easy listening.

Da maneira como Góes trabalha com texturas nas canções, a sensação é de água que irriga a terra, em pacientes variações de clima. “Gosto da sensação de irrigação em que você percebe o fluxo, se você se encanta com ele vai te transportar para um outro tipo de movimento, de estado.”

“Desde Sol no Escuro” (2007) o nome de Fabio Góes não passou batido entre interessados nessa canção pop que ousa experimentar, sem que essa atitude soe anacrônica ou hermética. O produtor Kassin foi um desses que se impressionaram com o trabalho do compositor paulistano, procurou por ele, e agora além de escrever um texto rasgando a seda sobre seu trabalho, participa do CD tocando baixo em duas faixas.

“Curumin”, “Luisa Maita” e seu mestre “Ed Côrtes” (clarinete) também participam. No CD Góes toca vários instrumentos. No show será acompanhado por André Lima (piano e teclado), Dudinha (baixo), LQ (guitarra) e Luiz André Gigante (bateria). Na nação das cantoras também é cada vez mais volumoso o número de compositores que lançam CDs – a maioria muito ruim. Alguns forçados a cantar dentro de fórmulas equivocadas para fazer sucesso instantâneo, sem vocação para ser popular nem consistência para ser elevado a uma categoria artística mais profunda. É aí que Góes, Jeneci, Pélico e outros poucos fazem a diferença.

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