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Paralisação reduz procura, mas situação é caótica

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A greve dos clínicos gerais do Walfredo Gurgel, iniciada no último sábado, se refletiu na redução da procura de pacientes pelo maior hospital do Estado. De acordo com os grevistas, vêm sendo atendidos apenas os casos de urgência e emergência, pois há apenas um médico por plantão. Com isso, o número de atendimentos do final de semana já havia caído pela metade (de uma média de 100 para 50) e a quantidade de macas nos corredores também diminuiu, de 39 na segunda-feira para 34 ontem.

Embora a greve venha resultando em queda na demanda, as cenas de pacientes esperando atendimento nos corredores parecem não ter fim. Uma senhora espera atendimento em uma maca no corredorÚnico clínico atendendo na manhã dessa terça-feira, no pronto socorro Clóvis Sarinho, Luiz Antônio Garcia confirmou: “A procura não está tão grande porque a população está atendendo nosso apelo e muitos vêm buscando outras unidades, até por saberem da greve.” Ainda assim, as condições de atendimento continuavam caóticas. O médico defendeu um número maior de profissionais nas escalas (o ideal seriam quatro e antes da greve permaneciam dois a três) e reclamou de problemas básicos, como a falta de lugar e estrutura adequadas para acomodar os pacientes.

No espaço onde o clínico atende, a maca não conta com colchonete, o encosto da cadeira do doutor é improvisado com gazes e até mesmo a cortina, pela metade, não permite que se garanta privacidade. Uma sacola com sangue de um paciente, colocada no chão por falta de outro local, dava uma mostra do quadro verificado no pronto-socorro, onde as pessoas se misturavam entre enfermeiros e técnicos, tentando fazer companhia aos familiares e amigos que esperavam por atendimentos, exames, ou vagas nas enfermarias.

“A situação aqui é precária. Às vezes faltam insumos básicos e até medicação”, revelou Luiz Antônio. Ele cobrou sensibilidade do Governo do Estado para garantir melhores condições de trabalho e até mesmo da Prefeitura, no sentido de ampliar o número de médicos nos pronto-atendimentos municipais. Dentro do Walfredo Gurgel, ele afirma que os clínicos estão sempre sobrecarregados. “Não temos neuros, nem cardiologistas (de plantão no pronto-socorro) e nem de sobreaviso”, reclama.

A estudante Adriana Maria da Conceição era uma das acompanhantes que se acomodava em uma cadeira no corredor da unidade, para acompanhar a sogra, Francisca das Chagas Luna, de 68 anos. A idosa, vítima de uma queda, aguardava pela análise de suas radiografias em uma maca a poucos centímetros do piso, em meio ao vai-e-vem de pacientes e servidores do hospital. “Isso aqui está complicado”, resumiu a nora.

A dona-de-casa Ana Lígia Silva esperava em pé, enquanto a sogra, Iraci Pereira, de 74 anos, aguardava pela consulta em uma cadeira de rodas. “O atendimento aqui está meio difícil”, declarou a dona-de-casa. Nos corredores, o quadro é de total desolação. Já na área onde os pacientes são recebidos, o clínico geral informa que quando o número de pessoas aumenta, o ar-condicionado não suporta a demanda e o calor toma conta do local.

Clínicos não voltam ao trabalho e situação pode piorar

Uma assembleia realizada na noite de segunda-feira confirmou a decisão dos clínicos do Hospital Walfredo Gurgel de não voltarem ao trabalho. De acordo com um dos líderes do movimento, Cássio Cavalcante, a proposta de fechar as escalas com três profissionais por turno, apresentada pela Secretaria Estadual de Saúde (Sesap), não convenceu os médicos. Eles exigem escalas com quatro clínicos por plantão e não acreditam que a transferência de médicos do João Machado para o Walfredo Gurgel venha a suprir a atual carência.

“Já soube que pelo menos quatro (dos 17 clínicos transferidos) não estão aceitando ir para o Walfredo”, revelou Cássio Cavalcante. De acordo com a assessoria de imprensa da Sesap, até a manhã de ontem não havia chegado nenhuma informação oficial a esse respeito. Entre as reivindicações dos grevistas estão também a melhoria das condições de trabalho, a retirada dos pacientes dos corredores e a equiparação no valor pago a título de produtividade, que hoje é de R$ 700 em média para a clínica médica e chega a R$ 1.500 em outras especialidades.

A secretaria já acenou com o aumento do valor pago pela produtividade, porém os grevista alegam que não há garantias de que a promessa será cumprida. Uma nova reunião entre médicos e o setor de Recursos Humanos da Sesap estava marcada para a tarde de ontem.

Zonas Norte e Oeste têm maior carência

A secretária de saúde de Natal, Ana Tânia Sampaio, se reuniu na manhã de ontem com diretores dos distritos sanitários da cidade. Durante a reunião, foi apresentado o resultado do recadastramento dos médicos, um censo realizado para colher todas as informações sobre a situação de cada médico do município.

Os diretores receberam o resultado com especificações de cada centro, com a descrição das especialidades e carga horária dos servidores. Segundo Ana Tânia, a região onde se notou a maior carência de médicos foi nos distritos sanitários Norte e Oeste. Foram discutidas medidas em relação à falta desses profissionais. No recadastramento, 653 médicos responderam ao censo, enquanto 148 não se apresentaram.

Os diretoras deverão conferir os dados da pesquisa e apresentar o resultado até a próxima sexta-feira (22). A secretária afirma que cobrou uma nova posição dos diretores aos faltosos e que 101 médicos que não se recadastraram e não têm justificativa para a faltar o trabalho, já tiveram seus salários suspensos e já não irão receber o salário correspondente a janeiro. “Estamos tomando medidas para melhorar o atendimento nas unidades de saúde e a relação com o servidor”, disse a secretária.

A secretaria já enviou um relatório final do censo para o Ministério Público e para o Conselho Regional de Medicina. O Conselho conferiu as informações recolhidas através do censo e já mandou chamar os médicos servidores que estão a disposição do município para assumir as vagas desocupadas. “Estamos trabalhando em parceria. O Conselho pediu as escalas dos médicos para convocar o que estão a disposição”, explicou a secretária.

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