Eu havia passado no primeiro vestibular da Faculdade de Jornalismo Eloy de Souza, criada pelo governador Aluízio Alves e já tinha sido “descoberto” por Fernando Câmara Cascudo, dono da Vésper Propaganda, instalada na rua Professor Zuza, no oitão da casa do Arcebispo (d. Marcolino Dantas). Agência que ele havia fundado em Recife de onde fugia do governo esquerdizante de Miguel Arrais.
Para Dirigir a Faculdade, Aluizio (sim, o Governador do Estado) se envolveu com o projeto de uma Faculdade de Jornalismo que havia escolhido o seu primeiro, Luiz Lobo, seu companheiro na Tribuna da Imprensa.
Naquele junho de 1963, Walter Gomes, havia sido trazido pelo mesmo Aluízio Alves, dono do jornal Tribuna do Norte, para criar a “Nova Tribuna” e tratou de decretar a aposentadoria de praticamente toda a redação do jornal, que saia com seis paginas na semana e oito nas edições dominicais. Ele mandou me chamar na faculdade dizendo que queria uma conversa comigo.
O mercado de jornais era bem disputado;pela própria Tribuna, Diário de Natal (dos Diários Associados), Jornal do Comércio (do deputado Theodorico Bezerra), Correio do Povo (do senador Dinarte Mariz) e Folha da Tarde (do prefeito Djalma Maranhão). Além desses tinha o semanário “A Ordem”, da Diocese. Os jornais do Rio (Jornal do Brasil, Correio da Manhã, Diário de Notícias e o Globo) chegavam a meia noite, no Viscount da VASP. De tarde chegavam – no ônibus de Xaveta – o Diário de Pernambuco e o Jornal do Comércio, com o noticiário internacional e o nacional, que os jornais de Natal não ofereciam, uma vez que sua única fonte, o serviço telegráfico (na base do código morse) da UPI e Radional, muito deficientes e dependentes da propagação do sinal de rádio para ser captado e “traduzido”.
A conversa foi curta:
E ele me mandou, no jipe da Tribuna (único veículo do jornal) cobrir uma reunião dos dirigentes sindicais, na sede do Sindicato dos Bancários, no Grande Ponto. O jipe era tão importante que, muitas vezes, era dirigido por Djalma Barbosa da Cunha, o gerente da TN.
Eu botei no bolso uma das duas laudas (papel jornal cortado maior do que as folhas de papel ofício) e comecei a me sentir repórter; voltei menos de uma hora depois.
-Ocupe aquela máquina e escreva a matéria.
Escrevi e fui entregar ao mesmo Walter que proclamou aos berros:
– Esse cara fez a matéria com “lead”. É um gênio. Tem de trabalhar aqui conosco.
O “Lead”, que impressionara tanto a Walter, era uma nova técnica de redação que determinava que se começasse os textos jornalísticos, com o que havia de mais importante
Estava empregado. Mas, não sabia quanto ia ganhar (era o menos importante, meu pai bancava meus estudos). Estava feliz, era um jornalista, antes de completar seis meses de curso. O que só foi completado no dia seguinte, com a notícia publicada em duas colunas na última página que era onde ficava o noticiário local nobre.
Lembro a frase de José Américo de Almeida, o grande político paraibano, tantas vezes citada que se vulgarizou, mas não perdeu a verdade:
– “Voltei porque voltar é uma forma de renascer… E ninguém se perde no caminho da volta.”
O menino de 19 anos, hoje tem 75 anos e tenta reviver o mesmo entusiasmo e a crença no jornalismo na mesma Tribuna, que como no primeiro encontro,também procura se renovar. Espero que o reencontro nos leve mais longe. E com menos percalços.