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Parlamento dividido ameaça estabilidade

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São Paulo (AE) – A possibilidade de um Parlamento dividido após as eleições italianas é um dos fatores mais preocupantes do turbulento cenário político do país, pois tem potencial de ameaçar a estabilidade do próximo governo, assim como sua capacidade de dar continuidade às reformas estruturais iniciadas pelo primeiro-ministro interino, Mario Monti. Mesmo com uma vitória da coalizão de centro-esquerda de Pier Luigi Bersani, a maioria no Senado não é garantida e está sendo cada vez mais ameaçada pelo avanço do grupo de centro-direita do ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi nas pesquisas.

De acordo com a lei eleitoral italiana, pelo menos 54% das 630 cadeiras da câmara baixa do Parlamento são destinadas à coalizão vencedora nas eleições, garantindo maioria para o governo. Analistas do Deutsche Bank avaliam que há 70% de chances de a coalizão de centro-esquerda conquistar a maioria na câmara baixa e 30% de possibilidade de uma vitória “surpresa” do grupo de centro-direita de Berlusconi.

No Senado, a distribuição dos assentos é feita por regiões, uma divergência que pode dividir o Parlamento, já que ambas as casas têm poder igual. A coalizão vencedora em uma determinada região conquista pelo menos 55% das cadeiras destinadas àquela região.

Com base no cenário delineado pelas últimas pesquisas de opinião, a coalizão de centro-esquerda deve conquistar maioria na câmara baixa, apesar de sua vantagem nas pesquisas ter diminuído. Porém, mesmo que esse seja o caso, a coalizão adversária de centro-direita – liderada por Berlusconi – precisaria ganhar em somente duas das regiões mais importantes para impedir seu adversário de alcançar a maioria no Senado. No entanto, uma boa performance dos centristas liderados por Mario Monti no Senado pode diminuir o risco de uma divisão. O cenário mais provável é o de uma aliança entre Monti e Bersani para garantir a governabilidade.

Berlusconi está de volta à cena política

Roma (BBC/Brasil) – Ele foi forçado a deixar o governo em meio ao acirramento da crise econômica na Itália e acabou no banco dos réus ao ser envolvido em embaraçoso escândalos sexuais e financeiros – mas a multidão que comemorou a renúncia de Sílvio Berlusconi com champanhe e cantando “Aleluia” em 2011 pode ter festejado cedo demais. O ex-premiê não só está de volta à cena política italiana como, segundo o cientista político Giovanni Orsina, professor da Universidade Luiss-Guido Carli, em Roma, subiu nas pesquisas e pode vencer as eleições de domingo – apesar de muitos analistas acreditarem que ele não tem chances de se reeleger.

“Ainda não podemos descartar a possibilidade de uma ‘vitória surpresa’ de Berlusconi”, acredita Orsina. “Primeiro, porque há muitos eleitores que se recusam a admitir que votam nele. Segundo, porque no momento quase 30% do eleitorado diz que pretende se abster na votação.” De acordo com Orsina, muitos desses eleitores – hoje indecisos e desencantados com a política – eram eleitores de Berlusconi: “Então não podemos desconsiderar a possibilidade de que se decidam pelo ex-premiê na última hora.”

Para Gianfranco Pasquino, cientista político da Universidade de Bolonha, a “surpresa” da eleição poderia ser no sentido contrário. “A centro-esquerda poderia acabar com uma vantagem maior sobre Berlusconi, de 7% ou 8%, porque aqui o contato com os eleitores para as pesquisas de intenção de voto é feito por telefone fixo – e com isso os jovens, que não votam no ex-premiê, tendem a ser sub-representados”, acredita.

Mas Duncan McDonnell, professor do European University Institute, em Florença, ressalta que, mesmo sem ganhar a eleição, a recente subida de Berlusconi nas pesquisas faz com que sua campanha já possa ser considerada “vitoriosa” em muitos aspectos.
De um lado, Berlusconi mostrou que continua a ser uma figura de peso na política italiana. Do outro, ainda que pelas regras eleitorais do país, o partido que consegue mais votos na votação para a Câmara dos Deputados, automaticamente leve 340 das 630 cadeiras da Casa, é possível que Bersani não consiga maioria no Senado. “Berlusconi pode impedir que o PD consiga essa maioria e provavelmente será eleito senador – mas ainda é difícil prever se teria força como um líder de oposição”.

Até algumas semanas atrás a “queda” de Berlusconi ainda parecia uma realidade incontestável. O ex-premiê ainda está respondendo na Justiça pelas acusações de que teria mantido relações sexuais com a marroquina Karima El-Mahroug quando ela era menor de idade e, nos últimos meses, relatos de suas festas “bunga bunga” fizeram da política italiana tema de chacota no resto da Europa.

Em 2011, ele perdeu um referendo sobre uma lei que lhe daria anistia contra processos penais e, pouco depois, caiu em meio a acusações de que um manejo inadequado da economia teria permitido que a dívida italiana disparasse – tornado a adoção de medidas de austeridade inevitável.

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