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Partido Democrata busca inspiração em Luther King

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ELEIÇÕES EUA - Na convenção democrata: críticas a Bush e apelo em nome da unidade do partido

Denver – Num 28 de agosto carregado de simbolismo para as lutas libertárias nos Estados Unidos, o candidato Barack Obama encerrou na madrugada desta sexta-feira os quatro dias de convenção em que o Partido Democrata oficializou o nome dele e o do vice Joseph Biden na disputa pela Casa Branca. E Obama sai aparentemente fortalecido. Além de ter sido escolhido por aclamação, conseguiu o apoio decisivo do casal Clinton. Obama derrotou a senadora Hillary nas prévias do partido numa disputa marcada por troca de fartas que deixaram muitas arestas.

Coube à senadora Hillary na quarta-feira e ao ex-presidente Bill no dia seguinte a iniciativa de esquecer as ofensas e se integrar à campanha democrata. Na convenção, os dois fizeram questão de ressaltar a capacidade de Obama de liderar o país e garantir a segurança nacional. Falando na condição de quem ocupou o cargo por oito anos (1993 a 2000), Clinton procurou demonstrar que superou os atritos do passado. Diante do furor que sua chegada causou na platéia de 20 mil pessoas presentes no Pepsi Center, Clinton sorriu, extremamente à vontade. “Eu amo isso, e agradeço, mas temos um importante trabalho para fazer hoje”, disse ele à platéia, pedindo silêncio.

“Estou aqui em primeiro lugar para apoiar Barack Obama e em segundo para esquentar a multidão para Joe Biden”, disse ele, referindo-se ao candidato a vice. “Amo Joe Biden e a América o amará também.” Clinton brincou, numa menção velada aos atritos com Obama durante as primárias: “A campanha gerou tanto calor que aumentou o aquecimento global. No fim, minha candidata não venceu, mas estou muito orgulhoso da campanha que ela conduziu”, disse, olhando para Hillary e Chelsea, a filha do casal, sentadas na platéia.

Num sinal da estatura de estadista que o partido queria atribuir a Clinton – e transferi-la a Obama -, a multidão agitava bandeiras dos Estados Unidos (a platéia da convenção tem faixas e cartazes para cada ocasião). “Tenho o privilegio de falar aqui de uma perspectiva que só (o ex-presidente) Jimmy Carter tem, como democrata”, salientou Clinton. “Na noite passada, Hillary disse que fará tudo para eleger Barack Obama”, prosseguiu o ex-presidente. “Somos dois. Na verdade, somos 18 milhões”, completou, referindo-se aos votos obtidos por Hillary nas primárias.

Clinton lembrou que também foi considerado “inexperiente” e “jovem demais” para ser comandante-chefe das Forças Armadas, como acontece agora com Obama, de 47 anos. “Não funcionou em 1992, porque estávamos do lado certo da história, e não funcionará em 2008, porque Barack Obama está do lado certo da história.” Clinton declarou que Obama “está pronto para ser presidente”.

O ex-presidente se voltou, então, contra o governo de George W. Bush. “Nossa nação está com problemas em duas frentes: o sonho americano está sob cerco em casa, e a liderança da América no mundo foi enfraquecida.” Clinton passou a enumerar os problemas da classe média e dos pobres: desemprego, desigualdade, devolução das casas por inadimplência das hipotecas e aumento dos preços dos alimentos e da gasolina. Já no plano externo, Clinton acusou Bush de “excesso de unilateralismo e falta de cooperação”, além da “perigosa dependência do petróleo importado” e da “recusa de liderar no tema do aquecimento global”.

Segundo o ex-presidente, “os militares estão gravemente sobrecarregados”, e o governo atual “não usa o poder da diplomacia”. “Claramente, o trabalho do próximo presidente é reconstruir o sonho americano e restaurar a posição da América no mundo”, sintetizou. “Tudo o que aprendi nesses oito anos como presidente e o trabalho que tenho feito depois me convenceram que Obama é o homem para essa tarefa.” E finalizou: “Se, como eu, vocês acreditam que a América deve ser sempre um lugar chamado esperança, juntem-se a Hillary, a Chelsea e a mim tornando Barack Obama o próximo presidente dos EUA.”

Obama prega necessidade de mudança

A convenção democrata foi encerrada na madrugada desta sexta-feira, com uma apoteose no estádio de futebol de Denver, que tem capacidade para receber 75 mil pessoas. De acordo com a assessoria do candidato, o discurso Obama estava centrado na necessidade de mudanças urgentes nos Estados Unidos. Obama incluiria os vários desafios que hoje confrontam os Estados Unidos, da falta de um sistema público universal de saúde às ameaças internacionais, disse o gerente de campanha David Plouffe à emissora de televisão ABC.

A aceitação de Obama como candidato ocorreu no mesmo dia do famoso discurso do reverendo Martin Luther King, “Eu tenho um sonho”, proferido pelo líder dos direitos civis dos negros americanos em 28 de agosto de 1963. O discurso de Luther King falava sobre a frustração e a pobreza dos negros, em um tempo no qual os afro-americanos, em muitos estados sulistas dos EUA, não tinham o direito ao voto, mais de 90 anos após o governo federal americano ter garantido por lei esse direito.

Devido à sofrida e conflituosa história racial dos Estados Unidos – Obama tinha apenas dois anos quando King fez seu famoso discurso – a nomeação de Obama como candidato à presidência para as eleições de 4 de novembro é uma aposta dos democratas, que tentarão afastar do poder os republicanos e seu candidato John McCain, que completa 72 anos de idade hoje. “Este é um momento monumental na história do nosso país,” disse o filho mais velho de King, Martin Luther King III, à Associated Press na quarta-feira. “E teremos um momento ainda maior em novembro, se ele for eleito,” disse King III, referindo-se ao candidato democrata.

O desafio é grande para Obama, um político relativamente desconhecido e novo no palco nacional, que ainda cumpre seu primeiro mandato no Senado. “O discurso do senador Obama nesta noite será uma conversação muito direta com o povo americano sobre a escolha que teremos que fazer nesta eleição, sobre o risco de ficarmos no mesmo caminho, o risco de termos mais do mesmo, ou de escolhermos pela mudança que nós precisamos,” disse a porta-voz de Obama, Anita Dunn.

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