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Paulo de Balá segundo Pery

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Paulo de Balá segundo Pery

Na gaveta dos papeis desarrumados, remexida esta semana, encontrei uma carta de Pery Lamartine (02/05/1926 – 17/05/2014) datada de 04   abril de 1985, lá se vão 32 anos. Fala de uma outra carta, esta do doutor Paulo Bezerra (falecido no dia 17 de julho deste ano), publicada aqui na coluna e que daria início às famosas Cartas dos Sertões do Seridó, título do primeiro livro de Paulo, lançado em junho do ano 2000. Depois, no passar dos anos, saíram mais três livros.  As cartas começaram a revelar o ferro do escritor que assumia presença forte, marcante na literatura potiguar. Tive a honra de prefaciar este seu primeiro livro, cujas orelhas foram escritas por outro seridoense ilustre, o grande poeta Luís Carlos Guimarães. Vejamos a carta de Pery, também nascido no Seridó e escritor, além de aviador:

“Prezado Woden Madruga – saúde, a Deus querer,

A carta do Dr. Paulo de Balá falando daquele novilho cevado dá pra gente ficar espantado. Ainda bem que “matou a cobra e mostrou o pau”, como se diz no sertão, pra nenhum fariseu dizer que é conversa de vaqueiro; lá está o retrato do bicho junto da cerca de pedra e vara, que tem no mínimo 10 palmos de altura e o sendeiro ainda está mirando por riba da cerca.

Novilhão aquele nascido e criado nas pastagens da ribeira do rio Acauã! 51 arrobas e 9 quilos, fora o couro, os mocotós, os chifres, o fato e os possuídos que não entram no peso da carne. São quase 13 arrobas em cada quarto. O bicho é todo igual do peito a anca. Se os quartos trazeiros são mais carnudos, nos dianteiros tem o cupim e o toitiço pra compensar. Pra conseguir isto o Dr. Paulo Balá deu a receita: é deixar o bicho crescer “… nas quebradas das serras, com a barriga empanturrada de mororó, catingueira, amarra-cachorro, maniçoba, panasco, milhã, mimoso e mais tudo quanto á de sustança naqueles pastos”. Tá bem visto que só nos anos bons de inverno e mais o “olho do dono”.

É uma pena que os fazendeiros do Seridó tenham abandonado as suas propriedades e as engordas de bois; passaram a engordar as Cadernetas de Poupança. Lembro-me que no passado, mesmo no Acari, havia uma competição anual entre os fazendeiros para ver quem abatia o boi mais gordo e quem tinha a vaca mais leiteira. Isto era motivo para muita conversa nos alpendres das fazendas.

Agora que voltou a chover no sertão e vem por aí um plano para salvar o Nordeste não seria bom botar um tempero nestas competições para voltar tudo de novo? Seria um grande adjutório para aquelas fazendas que se acham agora com a porteira do curral fechada.

Pery Lamartine – Faz. Timbaúba (Ribeira do Quipauá) Rua Trairi, 520 – Natal/RN”

De Ascendino para Lula

Noutro canto da gaveta, pego uma carta do jornalista e escritor paraibano Ascendino Leite para o poeta Luís Carlos Guimarães, escrita assim:

“Cabo Branco, 1º. 6. 94

Caro Luís Carlos Guimarães,

Vá sabendo logo que estou envergonhadíssimo por só agora acusar-lhe o delicioso prazer intelectual que acabou deixando em mim o seu “A Lua no Espelho”.

Os reflexos dessa sua nova vaga poética confirmam em meu espírito os limites excepcionais de sua lírica. Por ela me deixei seduzir desde as cores do dia; eis que me cobre agora o raio de luz refletida num universo cada vez mais raro, de acontecimentos da mais genuína expressão literária e estética. O Paulo de Tarso soube definí-lo com precisão de mestre no prefácio. O essencial, entretanto, se erige espiritualmente no quadro panorâmico das suas projeções poemáticas. Os críticos especializados do país estão dormindo ou não sabem de nada do que está acontecendo ou aconteceu em sua própria área. Devem-lhe o panegírico da obra perfeita, da poesia concebida sem pecado, boa de ler-se, melhor de ser sentida como o hálito de Deus.

Gratíssimo, finalmente, meu caro Luís Carlos, pela honra com que me cercou de suas páginas. E me aguarde por aí qualquer um dia destes para matar saudades.

Abraço afetuoso do velho

Ascendino Leite.”

De Meira e Drummond

Carta de Meira Pires, datada de 27 de agosto de 1980:

“Meu querido Woden:

Em primeiríssima para você e para amanhã, na sua coluna, a carta de Carlos Drummond de Andrade:

‘Prezado Meira Pires

Tive a satisfação de receber o exemplar da História do Teatro Alberto Maranhão, com generosa dedicatória, que muito lhe agradeço.

Trabalhei longos anos no Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Por isso posso vem avaliar o interesse do seu livro, como fonte preciosa de documentação para a História do Teatro brasileiro, que se fará graças a obras dessa natureza, elaboradas com grande zelo de pesquisa e amor à cultura.

Abraço-o cordialmente, felicitando-o pela realização desse valioso trabalho’.

Aí está. Tenho, ainda, cartas de Gilberto Freyre e Mauro Mota e deixo-as para depois. Acho importante que a História do Teatro brasileiro ‘se fará graças a obras dessa natureza, elaboradas com grande zelo de pesquisa e amor à cultura’, como afirma o velho Drummond de quem sempre fui amigo e nunca divulguei.

Espero que você me honre comparecendo ao lançamento do livro à noite de amanhã.

Um abração do velho amigo

Meira Pires”

Poesia

“Na praça há um carrossel / tão bonito que dá vontade / de ser menino” (Do poema “Em Avignon, com Fernando Sabino”, de Luís Carlos Guimarães em seu livro A Lua no Espelho).

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