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Paulo Francis

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Ivan Maciel de Andrade
Advogado

Sempre tive grande admiração pelo jornalista Paulo Francis. Devido à incomum, sofisticada qualidade literária de seu texto. Mas também pela coragem e independência com que sempre exerceu suas atividades jornalísticas, dizendo o que pensava sobre os mais diferentes assuntos e sobre quaisquer pessoas que entrassem no foco de sua atenção. Para começar, era um crítico implacável, quase dizia feroz, da imprensa. Não perdoava o oportunismo, o arrivismo, o mau-caratismo midiáticos que ele tinha aguda sensibilidade para perceber. Tanto na mídia impressa e televisiva norte-americana como ainda mais na nossa, que ele conhecia melhor do que ninguém. Muito embora Francis tenha sido alvo de irados ataques como resposta às suas irreverências. Sobretudo no plano politico-ideológico.

Sua capacidade crítica se evidenciava na abordagem dos mais variados temas culturais. O que ele fazia com segurança mas com manifesto radicalismo, responsável pelas múltiplas e violentas polêmicas de que participou. Apesar desse espírito de polemista, suas opiniões sobre arte e literatura tinham boa fundamentação teórica e, na maioria das vezes, eram isentas, objetivas, faziam justiça ao mérito alheio. Mesmo que estivesse afastado, por atritos e divergências de natureza pessoal, dos escritores de cujas obras se ocupava. Sendo verdade que lhe são atribuídas posições destemperadas decorrentes de convicções intransigentes, que defendia como se fossem verdadeiros dogmas de fé.

O importante mesmo é que não fazia concessões nem praticava a vergonhosa arte de atacar ou elogiar com base em interesses e conveniências de igrejinhas ou panelinhas, como são chamados os grupos fechados de intelectuais que se dedicam a construir a própria reputação. Nem se deixava levar muito menos pelo canto de sereia das vantagens financeiras e patrimoniais. E, apesar de excessivamente vaidoso, nunca se deixou subornar pelas tentações e apelos do narcisismo intelectual. Com defeitos e qualidades como qualquer um, era ele mesmo – arrogante, para alguns, ou, para outros, um ator dramático representando o papel escolhido para si mesmo – em quaisquer circunstâncias da vida. Militou na imprensa brasileira, na condição de prestigiado editorialista e, depois, nos Estados Unidos, manteve uma brilhante, personalíssima colaboração, jamais igualada por qualquer outro, para os mais importantes jornais do país. Foi popularizado pelo programa televisivo “Manhattan Connection”. Tanto assim que foi caricaturado com sucesso pelos melhores humoristas.   

Tenho Francis na condição de profissional de respeitável integridade. Que criou dois exércitos: um, de leitores, ávidos e insaciáveis, eventualmente imitadores e, outro, de desafetos e adversários, frequentemente inimigos. Era um jornalista muito bem-informado, que fazia jornalismo investigativo. Prova disso é o episódio em que se envolveu pouco antes de sua morte. Como diz Nelson de Sá na apresentação de “Paulo Francis — A segunda mais antiga profissão do mundo” (o livro que provocou as considerações que estou terminando de fazer), Francis morreu de um infarto sob a ameaça de ser reduzido à penúria devido às revelações pioneiras que fez sobre a enorme corrupção na Petrobras.

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