Alex Medeiros
O jornalismo potiguar está de luto. Faleceu na tarde do domingo o mais emblemático profissional do colunismo social do estado, que fez história e estabeleceu parâmetro a partir dos anos 1950 na cobertura dos assuntos de sociedade, eventos sociais e culturais e de negócios. O jornalista e imortal da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, Paulo Macedo, morreu domingo quando se recuperava de uma cirurgia após uma queda em que fraturou o fêmur.
Paulo não era apenas um ícone do jornalismo, um decano do colunismo social, mas era também uma expressão da geografia cultural de Natal, uma dessas raras pessoas que compõem a galeria de gente e de coisas que representam em si mesmas o retrato de uma época. Ele soube construir com seu espaço jornalístico, no rádio e no jornal (nas últimas décadas se estendeu também à televisão), uma dimensão de glamour para um estado provinciano e expandir no plano nacional sua própria história pessoal.
Quando eu comecei a escrever em jornal, no Diário de Natal dos anos 80, onde ele e alguns da sua geração eram as grandes referências, Paulo Macedo já se destacava entre todos pela unanimidade de um bem querer espalhado pelos diversos setores sociais, culturais, políticos e econômicos do RN.
Ele tinha aquela essência da canção de Lulu Santos que diz “eu experimentei aquela sensação de estar em sua companhia”, porque todos reivindicavam sua presença; não havia cena festiva com algum glamour se ali ele não estivesse.
Paulo estabeleceu uma marca difícil para qualquer jornalista. Não ter desafetos públicos. Porque se os tinha – e deve ter tido alguma vez – jamais deixou transparecer na sua coluna, onde não havia espaço para agressões, achaques ou recados maledicentes.
Se alguém não gostasse dele, dava de troco o silêncio, e mesmo que tal pessoa ganhasse o prêmio Nobel ele não citaria, ignoraria. É certo que havia os casos em que cobria de elogios algum inimigo daquela figura, mas nem todo cristão aguenta dar a outra face, né mesmo?
Paulo Macedo fez um jornalismo elegante, voltado para o enaltecimento e elogio dos seus personagens, e foi um dos profissionais que mais fez em favor da vida em sociedade e da atividade cultural do estado e principalmente de Natal.
Sua passagem pela Secretaria Municipal de Turismo e pela Fundação José Augusto deixou marcas e legados, como o Memorial Câmara Cascudo. E no plano político muitas obras surgiram a partir das notas em que cobrava benefícios pra cidade.
Tive a honra de ter convivido com ele durante meus doze anos no Diário de Natal e também na TV Ponta Negra. Nos últimos anos, fomos de novo colegas de atividade nas sessões semanais do Conselho Estadual de Cultura, onde ele tinha assento há anos, sempre renovando o mandato por iniciativa de todos os governos que o respeitavam.
Sua morte é uma perda indelével para Natal, que deixa uma lacuna no jornalismo, no Conselho de Cultura e na Academia de Letras. E, provavelmente, sepulta com ele os valores de uma época que jornalismo nenhum trará de volta.
Covidão
A melhor picardia do Twitter no final de semana foi postada por uma garota, que gerou muitas replicadas. Disse ela: “Governadores querem que a população use máscara. População quer que governadores usem algemas”.
Cultura
O presidente Jair Bolsonaro sancionou a Lei Aldir Blanc, que resgatou um orçamento de cultura acumulado desde Michel Temer em mais de R$ 3 bilhões. Dessa bolada, R$ 60 milhões serão destinados para o nosso RN.
Cultura II
O volume da Lei Aldir Blanc é algo jamais visto na cultura local, e agora é preciso que a divisão do bolo entre o estado e os municípios seja a mais transparente possível. É grana para ajudar artistas e espaços de cultura.
Publicidade
Um amigo publicitário liga e pergunta se tenho novidades sobre a licitação do governo do estado para contrato de seis agências de propaganda. Digo que o fato de não ter novidade já é a maior novidade na história de tais licitações.
Voo curto
Em entrevista ao site Último Segundo, o ex-juiz Sergio Moro disse na sexta-feira que está desistindo da vida pública, que não é candidato em 2022. Nem chegou no estágio de caçador de marajás e o caçador de corruptos bateu fofo.
Poesia
Luto na literatura do RN com a morte do professor e poeta Nonato Gurgel, no fim de semana, no Rio de Janeiro, onde ensinava na UFRRJ. Era natural de Caraúbas e publicou livros com temáticas do sertão e da geração marginalia.
Poema
Em 2015, quando veio ao RN, o poeta Aluízio Mathias dedicou-lhe o verso: “O poeta antes de tudo, é um corte, devorador de versos, o inverso do coletivo, e pensa que é eterno pois vive, barulhentamente, nas profundezas do interno”.
Morricone
O icônico maestro das trilhas inesquecíveis do cinema, principalmente do spaghetti italiano que catapultou Sergio Leone e Clint Eastwood, teve participação também no futebol, ao compor a Marcha da Copa do Mundo de 1978, na Argentina. Uma marcha marcial, militar.