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Pecado original

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Vicente Serejo
Fica difícil de acreditar que o novo partido, fruto da fusão PSL-DEM, garante a oxigenação da prática política brasileira. Nasce com o pecado original, mas sem o batismo que seria capaz de livrá-lo do passado. São as mesmas figuras e suas velhas ideias, mas agora detentores de mandatos e, muitos deles, dotados das moedas do fundo partidário e do tempo de tevê dispostos a reinaugurar a falsa renovação que reúne vantagens sem compromisso com o futuro da democracia brasileira. 
Indo ou vindo – União Brasil ou Brasil União – não há como acreditar em mudanças, se o destino é cair na polarização estéril de votar em Bolsonaro contra o PT ou vice-versa, se for essa a disputa no segundo turno. Unir forças – e isto o novo partido foi capaz – não é, necessariamente, unir bons propósitos. No cardápio das siglas partidárias, já ficou provado, os progressistas não são progressistas, como não são democratas, liberais ou cristões os que juram e assinam suas fichas.   
Para constatar o pobre futuro do partido que se diz novo, basta olhar o cenário que se monta no Rio Grande do Norte. Estamos diante do mesmo mando e dos mesmos mandados, ainda que se possa, por dever de isenção, admitir os desempenhos individuais. No conjunto, não há como ter a convicção de que teremos mudanças. Por mais que o país viva o mais terrível atraso político, não será com o novo partido que será possível uma mudança de azimute, a não ser no manejo retórico.
Não é fácil voltar ao passado, depois de execrado nas urnas, como a retomada do futuro. Somos hoje o resultado do que temos sido até hoje. Nossa falência política não se deu ontem como vingança das urnas. Vem sendo construída nas últimas décadas, fruto estéril dos legados de dois grupos familiares voltados para a manutenção do poder, ocupando os cargos diretos pelo voto, mas estendendo os seus tentáculos com a nomeação de parentes e aderentes para posições de mando. 
Pior, muito pior do que as fantasias que encobrem os trapos, é constatar que sequer fomos capazes de defender os interesses maiores que levassem aos segmentos, de fato, uma vida melhor para todos. Os bons gestos não nascem da bondade de uns ou de outros, mas do compromisso dos que abraçam a vida política movidos pelo espírito público. Não, não foi assim que fizemos política nas últimas décadas. Nunca tivemos tantos ministros e fomos tão pobres de gestos e de conquistas. 
O falso novo é o destino traçado para o partido que nasce da fusão de velhos hábitos políticos. E o falso novo é sempre um artifício assumido para falsificar a renovação. Aqui, há anos e anos, filhos, sobrinhos, netos e que tais, venderam-se como a renovação. E o que restou foi um cenário desolador de um estado sem líderes. Tão são líderes que a nenhum de nós resta ao menos o sonho de tê-los. Cavamos o abismo sob nossos pés e agora vivemos o terrível medo da vertigem.  
AVISO – Arquejam de mesmice nas gavetas bolorentas da Assembleia Legislativa os relatórios que nada revelaram de novo das CPIs da Arena das Dunas e da Pandemia, num blá-blá-blá inútil.
MAS – Segundo uma fonte da CPI, há uma esperança de fervura: o depoimento, como investigado, do secretário da saúde, Cipriano Maia, no dia dois próximo. As canhoneiras já estariam assestadas.  
DÚVIDAS – A CPI quer saber quanto o governo recebeu em recursos federais para combater a Covid; se tudo foi aplicado na saúde; ou se parte foi desviada para quitar outras dívidas do governo. 
  
FORTE – A oitava Mostra de S. Miguel do Gostoso, hoje item permanente do calendário nacional de cinema, abre dia 27 próximo, às 21h, com a exibição do filme ‘Mariguella’. Seguido de debate. 
QUANTO – A Assembleia, em nome da transparência, bem que poderia divulgar suas despesas com diárias para viagens desnecessárias de deputados. Fazer segredo com dinheiro público é feio. 
SINAL – O fim do ano está perto. As acácias amarelas já derramam seus cachos de ouro nas ruas e canteiros da cidade, anunciando dezembro. Depois, virá o verão com a sua alegria cheia de vida.  
POESIA – Da jovem poetisa Maria Clara Parente, jornalista e documentarista, que mereceu duas páginas da L’Officiel, no minúsculo e certeiro poema: “Às vezes / você acha que é só sexo / e é”. 
REAÇÃO – De Nino, o filósofo melancólico do Beco da Lama, triste e cansado dos solilóquios intelectuais que assassinam as manhãs de domingo: “O verão luminoso já vem aí para nos salvar”. 
AVISO – O ex-governador e ex-senador José Agripino Maia ainda não deu por encerrado seu sonho de voltar a exercer um mandato, de preferência de senador. Não é fácil encontrar um lugar seguro. O cenário político mostra: não há vaga de senador entre petistas e nem nos bolsonaristas.  
ÁGUA – Vivaldo Costa levantou a aba do seu chapéu de palhinha do Panamá e jogou água nas palavras flamejantes do deputado seridoense Nélter Queiroz ao pedir a exoneração do secretário Cipriano Maia, da Saúde. Vivado tem a marca dos anos: sabe que governo, mesmo do PT, é bom. 
VINTE – Depois do sucesso de ‘Metrópole à Beira-Mar, os leitores de Ruy Castro esperam que chegue dezembro A Companhia das Letras lança “As Vozes da Metrópole: uma antologia do Rio dos Anos 20”. Como avisa, “saborosa reunião de frases, provocações, poemas e textos de ficção”.  
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