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Peixe: é bom fisgar essa ideia

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Gladis Vivane – repórter

Natal é uma cidade litorânea, mas guarda muitos hábitos alimentares do sertão. A cultura gastronômica dos natalenses é profundamente influenciada pelos ancestrais sertanejos e pode ser essa a explicação para que, hoje em dia, se consuma tão pouco peixe na cidade.
O Mercado do Peixe, nas Rocas, é ainda o melhor local para venda
Churrascarias e açougues não faltam. Mas, onde estão as peixarias de Natal? Fora o Mercado do Peixe, que outras opções o natalense encontra para comprar o pescado?

Para o chef François Schmitt essa é a grande barreira que separa o peixe do prato do natalense.

“Se você quer comprar carne, tem ótimas opções de casas especializadas, com pessoal treinado, produto de boa qualidade, ambiente organizado, aceita cartão de crédito e tem toda a estrutura necessária. Se você quer comprar peixe, praticamente só existe o Mercado do Peixe e a estrutura ainda deixa a desejar. Há a questão cultural, de que as pessoas aqui comem muito mais carne do que peixe, mas há a questão prática também, falta quem queira investir nesse tipo de comércio por aqui. Sem ter tanta facilidade para comprar, as pessoas acabam deixando o peixe de lado”, opina François.

E ao excluir o peixe da mesa, o natalense perde em sabor e em riqueza nutricional. Além da infinita variedade de pratos saborosos (acompanhe sugestão de receitas ao final da matéria e na página 12) a carne do peixe é mais rica em nutrientes que a carne vermelha, além de ser uma grande fonte de ômega 3 – a famosa “ gordura do bem”. Cada 100 gramas de peixe tem 30 gramas de proteína e pouquíssima gordura, se compararmos com a carne vermelha.

No Brasil

Em relação ao consumo de peixe, a realidade de Natal não é muito diferente da do Brasil como um todo. Apesar de ter algumas regiões onde o peixe é muito apreciado, no geral, uma parcela bem pequena da proteína consumida no país vem do mar. O brasileiro consome cerca de 10kg de peixe por ano. Número abaixo do recomendado pela Organização Mundial de Saúde, que é 12kg. Em países que tem o peixe como base da alimentação esse número é bem maior. No Japão por exemplo, o consumo de peixe por ano chega a 30kg por pessoa.

Para François Schmitt, as pessoas consomem menos por que têm dificuldade em comprar o pescadoMudando os hábitos

Qual seria então a maneira de mudar essa realidade e colocar o peixe na mesa do natalense? Se o hábito alimentar é formado na infância, estimular o consumo de peixes na alimentação infantil é um caminho.

O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação quer colocar mais peixe na merenda escolar das escolas públicas brasileiras e nos programas sociais de erradicação da fome no Brasil.

Aqui no Rio Grande do Norte, alguns chefs já levantam essa bandeira. Para Sanyle Faraj, não só o consumo do peixe deve ser estimulado, como também deve-se prestar atenção ao tipo do peixe, dando preferência aos naturais.

“Não adiante colocar peixe para as crianças comerem e colocar sardinha e outros enlatados industrializados. Você acaba combatendo um problema e criando outro por causa da grande quantidade de aditivos químicos desses alimentos. O ideal é treinar as merendeiras para preparar conservas naturais e equipar as escolas para o armazenamento e a manutenção dos peixes que são alimentos muito perecíveis”, explica a chef.

Nossa costa

O Rio Grande do Norte tem 400 km de costa litorânea e pode ser considerado privilegiado quando o assunto é pescado. Alguns dos peixes mais apreciados na culinária são facilmente encontrados na nossa costa. A chef Sanylle Faraj prepara diariamente uma série de pratos cuja matéria-prima é o peixe. E a maioria dos pescados que usa vem do litoral potiguar.

“É incrível que se consuma tão pouco peixe aqui quando temos na nossa costa serigado, robalo, cioba, meca e tantos outros peixes maravilhosos”, diz Sanylle.

Só para dar uma ideia da riqueza do manancial potiguar, a albacora, peixe conhecido como “atum brasileiro” e muito apreciado pelos chefs e gastrônomos, é típico da nossa região. O município de Baía Formosa é o que mais pesca albacora em todo o território nacional.

Além disso há também os peixes de água doce, como a tilápia – antes tida como um peixe de qualidade inferior, hoje “descoberta” pela alta gastronomia.

“Antes a tilápia tinha um problema sério que era o gosto de areia que ficava na carne do peixe. É um peixe que vai até o fundo do rio ou do açude, no barro, para se alimentar. Isso deixava um gosto na carne. Hoje as tilápias são criadas em gaiolas e esse problema foi eliminado, permitindo o uso desse peixe em diversas receitas saborosas”, explica Sanylle Faraj.

DICAS PARA O CONSUMO DO PEIXEA falta de informação sobre o preparo do peixe também inibe os consumidores.

– Dê preferência aos pescados frescos. Saia cedo de casa e compre o peixe do almoço na mesma manhã em que for preparar.

– Quando for comprar o peixe fique atento aos sinais de peixe fresco: olhos brilhantes e guelras bem avermelhadas.

– Nunca congele o peixe mais de uma vez. Após ser congelado e descongelado ele perde as propriedades nutricionais e tem alterações de sabor e textura da carne.

Prepare a sua própria sardinha em conserva:

A conserva caseira é saborosa e livre de aditivos químicos. É ótima para o lanche das crianças e apara a alimentação de toda a família. Aprenda a fazer com a receita da chef Sanylle Faraj:

Ingredientes:

1 cebola grande picada

3 dentes grandes de alho amassados

2 copos (tipo americano) de vinagre de álcool (branco)

1 copo (tipo americano) de óleo de soja, canola ou girassol

1 colher (sopa) de sal

Salsinha 2 colheres de sopa(opcional)

Orégano 1 colher de sopa(opcional)

2 kg de sardinhas frescas limpas sem cabeça e rabo

Modo de Preparo

Numa panela de pressão de 4,5 litros, coloque a cebola, o alho, o vinagre, o óleo e o sal.

Misture

Coloque as sardinhas dentro da panela, arrumando-as, chegando até a boca da panela.

Leve ao fogo a panela tampada

Depois que pegar a pressão, deixe de 45 a 50 min (depende do tamanho da sardinha)

Tire a pressão da panela e um pouco do caldo

Deixe esfriar por 15 min e retire as sardinhas cuidadosamente para não quebrar

Sugestões de acompanhamento: Pão, macarronada (molho no lugar da carne moída) e tortas.

Compras no Mercado do Peixe

Visitamos
o Mercado do Peixe, no Canto do Mangue, com a chef Sanylle Faraj para
que ela apontasse os principais pescados encontrados na nossa costa. Com
a ajuda de seu Reinaldo Costa, do Box 16, um dos mais tradicionais do
mercado, selecionamos os peixes que merecem espaço no seu prato.
Chef Sanylle indica peixes no box do seu Reinaldo, no Mercado
Serigado – também conhecido no sul como Badejo, é um peixe muito saboroso.

Robalo – por aqui algumas pessoas conhecem como Camurim.

Cioba – fácil de encontrar no mercado, tem um ótimo custo benefício e é versátil, pode ser usada em diversos tipos de receitas.

Albacora – considerado o atum brasileiro, a albacora é o ouro da gastronomia em matéria de pescado.

Meca – conhecido como “o churrasco do mar” por ser ideal para o preparo na brasa.

Ginga – muito parecida com a sardinha, pode ser preparada frita ou em conserva.

Tilápia – peixe de água doce que está sendo incorporado pela alta gastronomia.

Carapeba – muito comum no RN, é pescado em regiões de encontro entre rio e mar.

COZINHA ORIENTAL

Teriyaki

balsâmico de albacora

Receita
do chef François Schmitt usando o peixe típico do litoral potiguar com
releitura do molho teriyaki, inspirado na cozinha do chef Nobu Matsuhisa
em Los Angeles

Para o molho balsâmico

250 gr de vinagre balsâmico

300
ml de caldo de legumes (aromatizados com shitakes secos , 4 colheres de
soy , 4 colheres de mirim (sakê ou vinho de arroz) , 50 gr de açúcar,
30 gr de gengibre, 1 colher de sopa de maizena para dar espessura ao
molho. Modo de fazer : reduzir o vinagre em dois terços, numa outra
panela coloque o caldo, o gengibre, o açúcar, o vinho de arroz (mirim), o
soy e leve a fervura, engrosse com “maisena” e adicione a redução de
vinagre balsâmico. Se possível, use o coador de molhos conhecido como
chinoa (em formato de chapéu chinês, de alumínio).

A carne: filés da albacora (atum pequeno, cortado em medalhões grossos). Tempere com sal.

Em
um dos lados, empane o peixe com gergelim. Para selar, usa-se uma
frigideira bem quente e duas colheres de azeite. Sela o lado do peixe
que tem o gergelim e frita rapidamente o outro lado. O peixe deve ficar
rosado por dentro.

O acompanhamento: batata doce em purê (batata
rocha), preparada da seguinte forma. Após cozida e espremida, a massa da
batata vai ser incorporada ao leite já quente na panela.

Mais duas colheres de manteiga e um pouco de Wasabi (em pó ou já pronto em pasta).  Quase uma colher ou a gosto.

Monte o prato conforme a foto. Purê, mais albacora selada no gerlelim e o molho em torno dele.

CIOBA NO SAL GROSSO

Um
peixe fácil de encontrar na nossa região, barato e muito saboroso é a
cioba. O chef François Schimmit ensina uma de suas receitas preferidas: a
prática, fácil e deliciosa “Cioba no sal grosso”.

Cioba no sal grosso

Ingredientes:

1 cioba inteira com escamas (mais ou menos 1,7 kg)

4,5 kg de sal grosso

2 colheres de sopa de alecrim picado

1 colher de sopa de tomilho picado

7 claras de ovo

Modo de preparo:

Misture todos os ingredientes, formando uma pasta.

Forre um tabuleiro com essa pasta, coloque o peixe inteiro e depois cubra o peixe com o restante da pasta.

O peixe tem que ficar totalmente envolto.

Leve ao forno a 200º e deixe de 30 a 40 minutos.

Ao tirar o peixe do forno, a pasta terá virado uma crosta. Quebre essa crosta, regue a carne com azeite e é só saborear!

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