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Pequeno grande enxadrista do RN

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Ícaro Carvalho
Repórter

O jogo está amarrado. As peças do xadrez dispostas no tabuleiro indicam que a partida está equilibrada entre os dois jogadores. De um lado, o jogador que mexe as peças pretas do xadrez planeja uma forma de capturar o rei nas próximas jogadas. Do outro, um garotinho de apenas 7 anos pensa mais rápido e mexe a rainha para a casa lateral “A6” e dá um ataque diagonal. O repórter – jogador vítima do xeque – olha as possibilidades e levanta a cabeça em direção ao adversário: “é xeque-mate não é?”. Com um sorriso tímido e feliz por ter ganho o jogo, ele balança a cabeça positivamente. A partida estava encerrada.

O enxadrista Theo Magalhães está classificado para a disputa do Campeonato Mundial de Cadetes, em novembro, na Espanha
O enxadrista Theo Magalhães está classificado para a disputa do Campeonato Mundial de Cadetes, em novembro, na Espanha (foto: Alex Régis)

O enxadrista em questão trata-se do jovem e promissor Theo Magalhães, amante do jogo de tabuleiro tão antigo que até hoje pouco se sabe a história sobre a sua existência. Mesmo tendo apenas sete anos, Theo já tem conquistas que deixam os pais orgulhosos e quiçá incrédulos: no último final de semana, ele conquistou o Campeonato Brasileiro de Xadrez (ritmo clássico) no Festival Nacional da Criança, em Florianópolis-SC, tornando-se o primeiro potiguar a ganhar o torneio. Além disso, ele foi vice-campeão do mesmo campeonato na categoria “blitz”, variante do xadrez com uma quantidade de tempo de 3 minutos.

A conquista credencia o estudante do 2º ano do fundamental do Marista a disputar o Campeonato Mundial de Cadetes, em novembro, na Espanha; o Pan-Americano em julho, no Chile; e o Sul-americano da categoria sub-8, em dezembro, no Peru. De acordo com os pais Kildere Lima e Alissandra Magalhães, ainda não é certo se o garoto vai disputar as competições  em virtude dos altos custos, mas garante que o pan-americano, já daqui há dois meses, será o próximo desafio de Theo. A ideia é conseguir apoio e patrocínios para diminuir os custos das viagens e estadia da família para que o jogador possa mexer as peças nos torneios internacionais.

Subir no lugar mais alto do pódio não foi uma tarefa fácil para Theo, relembram os pais Kildere Lima e Alissandra Magalhães Lima. Mesmo tendo vencido o torneio, ele precisou encarar campeões estaduais de diversos lugares do Brasil. Com apenas sete anos, Theo já é bicampeão estadual (2017/18) e foi campeão invicto do regional Nordeste Sub-8 em 2017. Além disso, o natalense possui hoje a terceiro maior avaliação no ranking do FIDE (Federação Internacional de Xadrez) para jogadores de até 7 anos das Américas. Os pais do garoto procuram palavras para definir o momento vivido pelo filho, mas resumem: “Inexplicável”.

Theo, de 8 anos, vai disputar uma das principais competições internacionais para crianças de sua idade
Theo, de 8 anos, vai disputar uma das principais competições internacionais para crianças de sua idade (foto: Alex Régis)

“A repercussão tem sido muito grande. Você entra no site da confederação de xadrez e a foto de capa é dele. Quando a gente foi pra lá tínhamos esperança de ser campeão, mas a medida que o torneio vai passando, a expectativa vai aumentando e é algo que não dá para pensar. Eu acho que agora ele não tem muita noção do que conseguiu, parece que é tudo uma brincadeira. Tanto é verdade que ele acabou de ganhar o campeonato e meia hora depois ele estava jogando com os meninos. Estava lá pra se divertir, brincar, e isso é importante, tira o peso jogando sem responsabilidade, conta o pai Kildere Lima à TRIBUNA DO NORTE.

Se para os pais a emoção é sem definições, Theo Magalhães é um pequeno de poucas palavras ao definir seus triunfos, atitudes compreensíveis para um jovem atleta de 7 anos que está cercado pela primeira vez por um hall de conquistas. Na rápida conversa com o repórter, Theo abre sorrisos e diz que espera ganhar os próximos torneios que disputar, além de claro, ressaltar que o jogo é uma de suas principais diversões. Sobre qual é a sua peça preferida, Theo responde sem titubear: “a dama”, justamente a peça mais poderosa do jogo.

A inspiração do jogador potiguar não veio a partir do russo Garry Gasparov, do americano Bobby Fischer tampouco do brasileiro Henrique Mecking, o Mequinho, grandes nomes do xadrez mundial. Pela idade, inclusive, Theo nem deve saber de quem se tratam essas pessoas, mas ele teve sim uma influência. E não foi de muito longe: ao ver o irmão, Enzo Magalhães, então com oito anos (atualmente tem 12), ganhando torneios, obtendo destaque e conhecendo novos lugares, o interesse no jogo, já existente, cresceu cada vez mais.

“Theo foi uma consequência do sucesso de Enzo. Ele começou a ver Enzo se destacar muito, a  ganhar torneios. Num ano só Enzo ganhou estadual, Jerns e Jerninhos, então Theo começou a acompanhar tudo isso e me via viajar muito com Enzo e viu que o caminho era fazer a mesma coisa [jogar xadrez]” relembra o pai aos risos.

Uma brincadeira aliada a tomadas de várias decisões

Por trás desse desempenho todo no xadrez, Theo e o seu irmão Enzo são definidos pelos pais como bons filhos e bons estudantes na escola. Se hoje para os dois irmãos o jogo de tabuleiro que envolve rei, dama, bispos, cavalos, torres e peões é um dos seus passatempos preferidos e objeto de disputa nos torneios mundo a fora, no começo o esporte foi encarado pelos pais como uma forma de integrar o filho mais velho, no caso Enzo, aos colegas na escola. Tímido e com características introspectivas, o pai lembra que, além dos troféus e medalhas, o xadrez trouxe e ainda traz bons frutos ao filho.

“Enzo era uma criança que eu tinha muito medo da questão  social. Sempre foi muito tímido e eu pensava em inseri-lo num esporte que ele conseguisse se integrar. Pensei nos esportes coletivas mas não dava certo. E quando ele entrou no xadrez e começou a fazer um monte de amizades e ter destaque. Isso ajudou na parte social de Enzo, e Theo aproveitou muito disso também”, relembra.

Além do benefício da integração social e da criação de laços na escola, os pais acreditam ainda que que o xadrez traz uma série de proveitos tanto para a vida escolar quanto para o crescimento mental dos garotos.

“O xadrez facilita o aprendizado, a concentração. O que é o xadrez se não é uma tomada de decisões a cada lance? A vida é assim. Você tem que decidir a cada momento na vida, o xadrez também. Você decide e tem de arcar com as consequências”.

Mexendo as peças e aplicando suas jogadas contra adversários do Brasil e do mundo, o momento para Theo é de aproveitar o ciclo e continuar derrubando os reis adversários. Usando as peças e ferramentas que tem, o horizonte do pequeno natalense será apenas um: xeque-mate.

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